Você
provavelmente deve conhecer alguma dessas pessoas que ficam tentando te
converter pra religião dela, sempre falando o quão lindo e maravilhoso é o Deus
no qual ela acredita por mais que você repita milhões de vezes que já tem sua
religião ou que não crê nessas coisas.
Muitas
pessoas assim já são um pouco perturbadas, como notamos facilmente, agora
imagine se ela tivesse uns genes da psicopatia e saísse por aí
matando todo mundo que não compartilhe da mesma ideologia. Imaginou? Então...
Título original: L'éventreur
de Notre-Dame
Lançamento: 1975
(Bélgica, Espanha, França)
Duração: 95
minutos
Direção: Jesús
Franco
O exorcista diabólico
Tínhamos pensado
em um outro filme para tratar essa semana, entretanto com as infelicidades da
vida e a morte de Jesús, decidimos fazer uma pequena homenagem a esse grande
diretor espanhol e resenhar uma de suas obras.
Isso é coisa do Capiroto!
Depois de
presenciar uma missa negra, um fanático religioso decide livrar o
Tinhoso do corpo de todos os envolvidos nesse rito satânico.
Pareço bonzinho mas sou
trevoso na cama
O filme já
começa com uma mulher amarrada "peladjenha" sendo torturada por outra
boazuda cas peitchola de fora, enquanto um grupo de pessoas somente assiste.
Depois de chicotadas, fetiches, sangue, uma pomba sendo decapitada e sexo,
descobrimos que tudo não passou de uma encenação para o entretenimento daquele
grupinho de pessoas ricas ali presentes.
A historia
mesmo começa com um ex-padre (Vogel) levando uma matéria sobre erotismo e
sadomasoquismo para uma revista, e, ao que tudo indica, ele é colabora
frequentemente com esse tipo de histórias, entretanto, utilizando-as não como
fonte de prazer igual a você leitor(a) safadinho(a), mas sim para as entender.
Segundo ele mesmo: “Para combater o mal, precisamos conhecê-lo”.
Vogel acaba
descobrindo que os responsáveis pelo jornal são simpatizantes desse tipo de
fetiche e que estão prestes a realizar uma missa negra, passando assim a
investigar esse tipo de encontro, vigiando aqueles envolvidos no tal ritual e,
também, buscando em alguns momentos expor suas ideias de maneira irrefutável*
para aqueles que contrariam se valores.
*Expor ideias de maneira
irrefutável: falar que a pessoa está possuída enquanto exorciza, estrangula,
esfaqueia, etc.
Eu te exorcizo
“O
exorcista diabólico” é um filme com um roteiro bem simples que, entretanto,
constrói muito bem uma critica à moralidade cristã e à necessidade de seus
devotos imporem seus valores sobre demais pessoas que não seguem tal ideologia.

O filme faz
uma critica justamente a esse pré-julgamento da Igreja em relação a todos
aqueles que pensam de maneira diferente. Quantas vezes não vemos pessoas que
são julgadas e, em alguns momentos, até ser mortas justamente por pensar
diferente? O Cristianismo (mas outras religiões também) devido ao seu poder
acabou impondo ideologias e comportamentos que influenciaram a sociedade,
acabando por repercutir até os dias de hoje mesmo por aqueles que já não
pertencem a igreja. No Brasil, por mais que sejamos ateus, agnósticos,
satanistas, macumbeiros, ou qualquer outra coisa, não podemos negar nossa
educação e absorção – mesmo que inconsciente - dos valores católicos. Não é
fácil mudar uma doutrinação milenar de uma hora pra outra. E ainda que
consideremos que aos poucos estamos mudando, muitos ainda continuam com aquele
pensamento de séculos passados... Outros até se tornam presidentes de comissões
de direitos humanos - vai entender.

Vogel
condena as pessoas por aquilo que ele julga certo, e eu pergunto a vocês: quem
deu esse direito a ele? Por que a ideologia dele merece ser imposta sobre as
outras? O que transforma a ideologia dele em verdade e todo o restante em
coisas condenáveis?
Se você
respondeu respectivamente: ninguém, não merece e nada, parabéns, no final da
aula ganhará um pirulito.
Um dos
maiores problemas da religião é que, em muitas circunstâncias, ela deixou de
ser uma filosofia de vida e passou a ser um instrumento de condenação, porque,
segundo certos idiotas, Cristo condena gays, negros são amaldiçoados, mulher é
um ser inferior, baboseiras e mais baboseiras que escutamos todos os dias,
ainda mais nesses tempos felicianos. Podem me chamar de herege, mas - assumindo
que ele tenha dito e pensado isso - quem é Cristo pra falar como eu me
visto, quem (e como) eu como, pra quem dou meu cú, que sou menos pessoa pela
minha cor de pele? Eu tenho minhas dúvidas que ele tenha condenado essas coisas,
ainda mais porque lyndo, loiro e de olhos azuis acho meio difícil, mas tirar
vantagem dos outros, roubar dinheiro e etc...
Os
participantes na missa negra estão apenas em um momento de entretenimento e
prazer, não estão contrariando, maltratando, discriminando ninguém, mas aquele
que espalha a palavra de Deus está fazendo tudo isso - não é contraditório? Por
sinal, não é estranho que aqueles que pregam paz, harmonia e amor, condenem
mais que aqueles que vivem a própria vida sem se importar com esses valores.
Não tá na hora de parar de se preocupar com o cú do outro?
Tenho vontade mas papai não deixa
É possível
notar que, por mais que Vogel condene aquelas pessoas que participam dos
rituais, ele sente uma certa inveja deles. Todas a vezes em que observa ou está
próximo a alguma mulher nua, ele parece estar lutando contra o prazer.
Percebemos no seu rosto uma vontade contida de pegar a mulé e fazer mil
loucuras com ela, entretanto, ele se contem devido aos valores com os quais
sempre conviveu.
Sabe aquela
coisa que sua vó fala “quem desdenha quer comprar”? Então, isso se aplica no
filme e no caso de muitos religiosos. Por mais que neguem, quantas vezes não
percebemos que alguém condena outra só porque não pode (ou tem medo de) se
comportar da mesma maneira. Quantas pessoas não discriminam gays porque morrem
de medo de sair do armário? Quantas pessoas não discriminam aquele que leva uma
vida cheia de prazeres porque vai ser julgado se sair da castidade?
Claro,
também existem aquelas pessoas que escondem suas próprias origens para
condená-las. Não vemos por aí negros que não admitem ser negros, gays que
reprimem suas vontades apenas para pertencer a igreja, ou até pessoas que fazem
chapinha pra esconder suas descendências?
E mais:
sempre que as pessoas quebram essas regras que decidiram seguir elas acabam
transferindo a responsabilidade, quer dizer, nunca é culpa minha, afinal sou um
pessoa de Deus, é culpa do Diabo que estava me tentando, ou aquela clássica:
estou fazendo o trabalho de Deus.
Por mais
que eu não goste muito da tradução de títulos de filmes, “Exorcista diabólico”
acaba representando um pouco a ideia geral do filme. O exorcista não expulsa o
mal; ele é o próprio mal. O que representa muitas pessoas e organizações que
julgam fazer o bem, mas apenas levam o terror para aqueles que não tem nada a
ver com a história.
Devo realizar missas negras?
Claro, meu
jovem, desde que seus sacrifícios sejam apenas teatrais e os únicos objetivo da
missa sejam o sexo e o prazer.
Como já
disse antes, “Exorcista diabólico” é um filme que preza pela simplicidade: não
temos reviravoltas, nem momentos marcantes, mas nada que desqualifique o filme.
Como uma das características do Jess Franco, há muito erotismo, porém nada
exagerado e tudo encaixando perfeitamente com o roteiro. Há também algumas
cenas de gore, como o momento em que ele abre a barriga da mulher com a faca e
os órgãos ficam a mostra - nada tão chocante que já não estejamos acostumados.
A trilha
sonora também é algo que se destaca: ela dá um clima interessante pro filme
quebrando alguns clichês com os quais estamos acostumados.
Bom, mas
resumindo, “Exorcista diabólico” é um clássico esquecido que merece muito ser
visto. Não posso dizer que o filme traz algo novo que jamais tenhamos visto
antes, porém tem simplicidade e uma boa direção que fazem dele um ótimo filme.
O erotismo, as mortes e a critica são muito bem colocadas, não pecando pelo
exagero em nenhum quesito.
Minha
recomendação é: convide as amigas(os), prepare uma missa negra cheia de sexo,
prazer e arte e logo após assistam esse clássico.
Trailer*:
*Não encontramos o trailer do filme, então
postamos a cena inicial. É interessante notar que nesse video as atrizes estão
vestidas, diferente do filme.
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