quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Resenha: Universidade do prazer (Pledge this!)


            Café traz uma loira que acabou se tornando um símbolo social não pela inteligência, não pela humildade e nem mesmo por trazer coisas boas para a sociedade (mentira, tem aquele filme porn... deixa pra lá), mas sim por representar tanto aquilo que grande parte das pessoas repudiam, quanto o que muitos (até mesmo alguns que criticam) querem ser.
            Por isso, abram as cortinas, foquem os holofotes e expulsem todos os pobres porque ela está entrando na passarela carregando toda a beleza, riqueza, elegância e futilidade que muitas pessoas cobiçam. Levantem e recebam... (rufem os tambores)... PARIS HILTON
Sim, caros amantes do trash, deixem todo o sangue, desmembramentos e gore para as outras resenhas, porque hoje, o Café traz a Barbie da vida real para mostrar que Paris também é trash.






Título original: Pledge this!
Lançamento: 2006 (EUA)
Duração: 91 minutos
Direção: Willian Heins




 

Universidade do Prazer
Dinheiro, popularidade e futilidade


Quem disse que Paris não é Trash?

            Sei que 90% dos filmes que passam por aqui são repletos de sangue, eletrodomésticos assassinos, palhaços, entre outros, no entanto, vez ou outra o Café mostra que trash não é apenas isso; também temos “Papaco”, “Cinderela Bahiana”, etc. “Universidade do prazer” é um desses últimos. Antes de assisti-lo achei que seria apenas um filme ruim, mas não, ele se enquadra perfeitamente no ambiente trash do Café. Não acredita?
Uma garota sendo sugada pela privada, chuva de merda, uma mulher com uns 50 anos indo pra universidade a procura sexo, Paris Hilton humilhando todo mundo, atuações horríveis... O filme precisa de mais alguma coisa pra ser trash? Ok. Também temos uma cena de “zoofilia”, pessoas “voando”, um cara que coleciona camisinhas usadas entre outras atrações...

Não se misture com essa gentalha


 
            Victoria English, nossa musa Paris Hilton, é a presidente da fraternidade mais badalada da universidade, a Gamma Gamma. Apesar de muitas sonharem, nem todas as garotas são privilegiadas de participar de tal fraternidade, afinal, só as mais lindas, ricas e inteligentes (ops, risque o inteligentes) podem fazer parte. Acontece que a Gamma Gamma está entre as cinco finalistas de uma competição na qual a melhor fraternidade sairá na capa de uma revista prestigiada, porém, existe um pequeno problema: tal competição preza pela diversidade, o que faz com que nossa Deusa tenha que aceitar pessoas que não sejam magras, lindas, loiras e ricas em sua casa.

“Se eu fosse uma rainha de verdade eu mandava cortar a cabeça desse retardado”

            Bom, o filme é introduzido com a Paris vestida de colegial andando por um cenário praiano cartoonizado todo colorido, enquanto passam os créditos (no estilo desses seriados para crianças). Logo após, somos apresentados a diversas histórias diferentes: Vitoria English recebendo e humilhando suas novas calouras, uma por ter comprado um sapato em liquidação e outra por estar com um esmalte ultrapassado (que foi lançado na semana anterior); uma mãe de família que decide morar em dormitórios com adolescentes (e assim ter um pouco de carne nova) como forma de se vingar do marido que a traiu; duas garotas ex-amigas que acabam caindo no mesmo dormitório; o namorado da Victoria que é tratado como escravo pela mesma; e outras garotas do dormitório que estão fora do padrão de beleza imposto pela sociedade.
            Após um problema no banheiro dos dormitórios em que as privadas explodem e voa bosta para todo o lado, todas as garotas acabam perdendo  os seus quartos e precisam buscar uma fraternidade para morar.

“A missão é transformar as que desejam em desejadas.”

            Pledge this!” é um besteirol americano como todos os outros milhares que existem por aí, entretanto, apesar de ser um filme péssimo ele nos mostra escancaradamente diversos “problemas” sociais, não como critica, mas sim como apologia - todas as mulheres querem ser lindas, loiras, magras e ricas e nada pode mudar isso.
            Depois do problema nos dormitórios, diversas garotas, quase todas incompatíveis com os padrões de beleza norte-americanos (latinas, negras, lésbicas, gordas, velhas, indianas...), são obrigadas a deixar seus quartos e, com isso, acabam vendo fraternidades como a única opção de moradia na universidade. Algo engraçado (ou triste) de notar é que nossas garotas passam por diversas fraternidades diferentes e todas elas são estereotipadas (góticas, nudistas, crentes e rappers), e elas veem todas as casas como lugares estranhos e de pessoas diferentes em quais elas não se enquadram, entretanto quando chegam à Gamma Gamma, mesmo sendo totalmente diferentes das pessoas que estão lá, é daquilo que querem fazer parte porque as garotas lindas, loiras, magras e ricas são o “certo”, enquanto as darks, as nudistas, as religiosas são erradas.
Entendeu aonde quero chegar?
            Sim, embora as garotas do dormitório sejam totalmente diferentes das Gamma Gamma elas fazem de tudo para se enquadrar naquilo, como aceitar as torturas que Victoria English proporciona – colocá-las pra dormir em um banheiro, fazê-las comer comida do dia anterior em um pote de ração pra cachorro enquanto todas as outras comem comida fresca e tomam champanhe sentadinhas na mesa, colocá-las pra procurar camisinhas usadas pelo campus, entre outras coisas. Contudo, quando essas mesmas moças excluídas entram em contato com pessoas que não são exaltadas pela mídia, sentem-se desconfortáveis e acabam por discriminá-las mesmo fazendo parte do grupo das “diferentes”. Acho que ninguém tem duvida que elas seriam melhor recebidas em outras fraternidades, mas elas aceitam o sofrimento para fazer parte daquele grupo.

- Mas, titio, porque elas aceitam sofrer só pra fazer parte da Gamma Gamma? 

Eu respondo, jovem garoto que vai pra academia todos os dias ficar sarado, usa roupinhas da Abercrombie e o ponto alto da vida é ir pra balada ficar bêbado e pegar umas gatas/ jovem loira que não sai da academia pra ficar gostosa, gasta todo dinheiro com roupas das moda e maquiagem e adora tirar barato da garotinha acima do peso e daquela que não tem dinheiro para comprar roupinhas da moda: elas fazem isso por sua causa, por causa da sociedade, assim como VOCÊ faz!

- Mas eu não sou torturado, faço isso porque eu quero...

Isso é o que você pensa jovem padawan, isso é o que você pensa.

"As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental"


O amor está morto. Sim, isso mesmo que você leu: “O AMOR ESTÁ MORTO”, assim como o Papai Noel não existe, o amor também não (existem algumas exceções por aí, dizem... falo do amor, não do Papai Noel). Ok, agora que acabei com todos os seus sonhos, deixe me explicar. A grande verdade é que assim como todas as outras coisas o amor tornou-se um produto. O amor de alguns vale mais e outros valem menos, entretanto, a moeda para se comprar amor não é o dinheiro em si (ok, algumas vezes é sim), mas a beleza. As pessoas são produtos e para que sejam consumidas elas precisam gerar demanda - como se faz isso? Ficando malhado/a na academia, cortando e pintando cabelo, comprando produtos da moda, frequentando lugares badalados e etc. Ou seja, quando uma empresa... Digo, pessoa, tem o produto (beleza) que outra tem interesse e essa outra empresa... Pessoa também oferece um produto de qualidade, elas fazem negócios, o que muitos chamam erroneamente de amor.
Todavia, existe um fator externo que define tudo isso, a mídia. Sim, essa velha conhecida nossa, define o valor da beleza. Ela mostra qual o cabelo que está em alta, as roupas que estão em baixa, os lugares que rendem juros maiores entre outras coisas.
Ok, vamos parar com todo esse blábláblá Economia X Amor. A verdade é que as relações humanas se tornaram apenas mais um produto no mercado e não sou eu que estou dizendo isso, até o fodão do Bauman desenvolve essa ideia (muito melhor que eu, por sinal) no livro Amor líquido, em que ele até mesmo diz que o relacionamento é como uma bolsa de valores, todo dia que acordamos precisamos colocar os investimentos na balança pra ver se compensa continuar investindo ou não. Mas, enfim, deixemos o amor de lado, já que ele está morto mesmo e não está presente no filme.

*

A grande questão a qual o filme se resume é a busca pela beleza e tudo que fazemos para fazer parte de um grupo pop e estarmos “em alta”, tanto as garotas ou os garotos. Não sejamos hipócritas: quem não gosta de se sentir bonito? Quem na balada não olha pra gostosona? Por mais que critiquemos e critiquemos, fazemos parte disso tudo e, querendo ou não, somos dominados por essa ditadura da beleza.
Isso tudo é muito mais visível nas mulheres, que estão sempre em salões de beleza, “gostam” de comprar roupas, “se preocupam mais com o corpo”, e tudo o mais, contudo, os homens são tão alienados quanto. No filme, o namorado da Victoria é praticamente um escravo dela - e por que isso? Por que ele aceita, ele quer estar com a garota mais pop e linda da universidade mesmo que esteja infeliz com isso. Aliás, não só ele como todos os outros garotos que inventam milhões de estratégias para conseguir a garota bonita, mesmo que tenham que ser pessoas que eles não são.
Voltando na pergunta lá atrás: porque as garotas do dormitório aceitam ser escravizadas pela Victoria só pra fazer parte da Gamma Gamma? Pelo mesmo motivo que você aceita as dores da depilação/academia, pelo mesmo motivo que se endivida pra comprar roupas e acessórios da moda e todo o resto. Elas aceitam isso pra não serem vistas/os como “losers”, pra conseguirem uma namorada/o legal (e bonito), por que no fundo todos nós queremos um pouco de afeto e atenção.

Sou burra, mas sou linda


            O filme, assim como a maioria dos besteiróis (existe esse plural?) americanos, é aquele filme que você lê a sinopse e já sabe tudo que vai acontecer no filme. A vilã (Paris Hilton) vai passar o filme inteiro fazendo maldade com as meninas boazinhas e “diferentes”, vai conseguir tudo que deseja, mas no final se dará mal enquanto as outras dão a volta por cima. Alem disso só existe um porem: a vilã acaba como a vítima da historia. Como assim? Ela tem o momento em que tudo dá errado, mas no fim de tudo é vista como alguém que foi injustiçada.
            Durante o filme Victoria maltrata todas aquelas que não fazem parte do seu grupo, mas no final descobrimos que quando criança Victoria era feia e passava por tudo aquilo que ela fazia as outras passarem, assim que ela “superou”, passou a assumir o papel daquelas que a infernizavam, de opressora, como se fosse um ciclo natural da sociedade, uma forma de fazer com que as outras “tomem jeito” e passem a “ajudar” as próximas e assim por diante.
            Enquanto outros filmes do gênero tentam passar uma mensagem de que devemos ser como somos e não devemos mudar por nada (mesmo que indiretamente passe uma mensagem diferente), “Universidade do prazer” vai na contra-mão e passa a idéia de que “A sociedade é assim e sempre vai ser, a beleza é e vai ser um fator decisivo na sociedade. Você pode ser feia e estranha hoje, mas se você seguir os passos da Paris, um dia você será linda como ela.”
Absurdo? Completamente, mas é um filme da Paris Hilton, você esperava o quê?
Enfim, por mais bizarro que seja, por mais que eu e você desaprovemos esse pensamento escroto, será que, infelizmente, não existe uma verdade nele? Vemos várias pessoas que criticam essa ditadura da beleza, mas que fazem de tudo para se assemelhar as Barbies da vida real.
Quando vocês baixam filmes pornôs (vocês sim, porque eu não faço essas coisas) buscam sempre as mais bonitas e gostosas e não as mais inteligentes. Ou no caso de mulheres, que ficam admirando galãs do cinema como Brad Pitt, Jude Law, Ryan Gosling, e vários outros... Pergunto: por que não sonhar com o Stephen Hawking, sei lá? (ok, acho que exagerei um tantinho).
            O fato é que somos uma sociedade totalmente baseada na aparência. Todos querem pessoas inteligentes, mas isso acaba ficando em segundo plano na maioria dos casos. Até quando iremos dar mais atenção pra beleza do que pra inteligência e outras qualidades que não dependem meramente de uma sorte genética? Não sei. Talvez a Paris seja a mais inteligente entre nós e mostrou que isso é um ciclo eterno.
Enfim, enxergar o problema é extremamente fácil, a questão é: será que conseguimos exorcizar esse demônio da beleza de nossas vidas?

Devo me matricular na Universidade do Prazer?


Claro, afinal prazer nunca é demais.
Ah, você tava perguntando se deve ver o filme? Não. O filme é péssimo: atuações porcas, cenas escrotas, fotografia e trilha sonora de seriados pré-adolescentes e etc. Entretanto, se você for corajoso como nós do Café, vá em frente, pois o filme é realmente é muito ruim - mas sabe aquilo que é tão ruim, mas tão ruim, mas tão ruim que você acaba se divertindo?
Por outro lado, foi uma obra que me surpreendeu de certa maneira, ela é preconceituosa, cheia de estereótipos e passa uma mensagem escrota no final (foda-se quem você é, seja magra, linda, loira e rica que é muito melhor), mas abre milhões de discussões interessantíssimas. Acho que seria um ótimo filme para se discutir em uma aula de sociologia ou algo do tipo.
Portanto, se você quer se aventurar nesse mundo de universitárias boazudas, peitinhos, comedia pastelão, chuva de merda e esperma, pessoas burras (mesmo que seja um ambiente universitário) e claro, como poderia esquecer, a diva Paris Hilton (#Sarcasmo)... O risco é todo seu.

 Trailer:

 

4 comentários:

  1. Palmas!!!

    Eu juro que evito acessar o "Café", evito mesmo...afinal sempre que acesso acabo lendo vários textos, perdendo vários minutos de um tempo que eu deveria estar dedicando às minhas atividades profissionais, mas eu de fato evito o café porque gostaria de escrever bem como o autor desse texto escreve.
    Assim, toda vez que cometo o infeliz erro de acessar esse ótimo blog acabo deprimido e tomado por uma inveja irracional de vocês...E com meu trabalho em atraso...rsrsrs.

    Parabéns por doar textos inteligente a uma internet cada vez visual e burra...Adoro o Café...seja a bebida ou o blog!!!!

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  2. Não fala essas coisas se não vou começar a ficar metido hahaha, brincadeira. Brigadão pelos elogios, é muito legal ver pessoas que gostam dos nossos textos.
    Quanto a escrita nunca me achei muito bom, tanto que depois que escrevemos uma resenha sempre mandamos pro outro antes de postar pra corrigir possíveis erros e melhorar alguma coisa. Talvez com o treino tenha melhorado um pouco mas nunca tirei notas muito boas em redação =p

    Mas não nos evite, venha tomar um Café e apreciar umas Tripas sempre que possível ;D

    abraços

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  4. Eu adoro esse filme, e agradeço o "cafe" por se dedicar tanto assim em todos os filmes nos passando uma resenha completa e profissional!

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