O Café traz uma loira que acabou se tornando um símbolo social não
pela inteligência, não pela humildade e nem mesmo por trazer coisas boas para a
sociedade (mentira, tem aquele filme porn... deixa pra lá), mas sim por
representar tanto aquilo que grande parte das pessoas repudiam, quanto o que muitos
(até mesmo alguns que criticam) querem ser.
Por isso, abram as cortinas, foquem
os holofotes e expulsem todos os pobres porque ela está entrando na passarela
carregando toda a beleza, riqueza, elegância e futilidade que muitas pessoas
cobiçam. Levantem e recebam... (rufem os tambores)... PARIS HILTON
Sim,
caros amantes do trash, deixem todo o sangue, desmembramentos e gore para as
outras resenhas, porque hoje, o Café traz a Barbie da vida real
para mostrar que Paris também é trash.
Lançamento: 2006 (EUA)
Duração: 91 minutos
Direção: Willian
Heins
Quem disse que Paris não é Trash?
Sei que 90% dos filmes que passam
por aqui são repletos de sangue, eletrodomésticos assassinos, palhaços, entre
outros, no entanto, vez ou outra o Café mostra que trash não é apenas
isso; também temos “Papaco”, “Cinderela Bahiana”, etc. “Universidade
do prazer” é um desses últimos. Antes de assisti-lo achei que seria apenas um filme
ruim, mas não, ele se enquadra perfeitamente no ambiente trash do Café.
Não acredita?
Uma
garota sendo sugada pela privada, chuva de merda, uma mulher com uns 50 anos
indo pra universidade a procura sexo, Paris Hilton humilhando todo mundo,
atuações horríveis... O filme precisa de mais alguma coisa pra ser trash? Ok. Também
temos uma cena de “zoofilia”, pessoas “voando”, um cara que coleciona
camisinhas usadas entre outras atrações...
Não se misture com essa gentalha
Victoria English, nossa musa Paris Hilton,
é a presidente da fraternidade mais badalada da universidade, a Gamma Gamma.
Apesar de muitas sonharem, nem todas as garotas são privilegiadas de participar
de tal fraternidade, afinal, só as mais lindas, ricas e inteligentes (ops, risque
o inteligentes) podem fazer parte. Acontece que a Gamma Gamma está entre as
cinco finalistas de uma competição na qual a melhor fraternidade sairá na capa
de uma revista prestigiada, porém, existe um pequeno problema: tal competição
preza pela diversidade, o que faz com que nossa Deusa tenha que aceitar pessoas
que não sejam magras, lindas, loiras e ricas em sua casa.
“Se eu fosse uma rainha de verdade eu
mandava cortar a cabeça desse retardado”
Bom, o filme é introduzido com a
Paris vestida de colegial andando por um cenário praiano cartoonizado todo
colorido, enquanto passam os créditos (no estilo desses seriados para crianças).
Logo após, somos apresentados a diversas histórias diferentes: Vitoria English
recebendo e humilhando suas novas calouras, uma por ter comprado um sapato em
liquidação e outra por estar com um esmalte ultrapassado (que foi lançado na
semana anterior); uma mãe de família que decide morar em dormitórios com
adolescentes (e assim ter um pouco de carne nova) como forma de se vingar do
marido que a traiu; duas garotas ex-amigas que acabam caindo no mesmo
dormitório; o namorado da Victoria que é tratado como escravo pela mesma; e
outras garotas do dormitório que estão fora do padrão de beleza imposto pela
sociedade.
Após um problema no banheiro dos
dormitórios em que as privadas explodem e voa bosta para todo o lado, todas as
garotas acabam perdendo os seus quartos
e precisam buscar uma fraternidade para morar.
“A missão é transformar as que desejam em
desejadas.”
“Pledge this!” é um besteirol americano
como todos os outros milhares que existem por aí, entretanto, apesar de ser um
filme péssimo ele nos mostra escancaradamente diversos “problemas” sociais, não
como critica, mas sim como apologia - todas as mulheres querem ser lindas, loiras,
magras e ricas e nada pode mudar isso.
Depois do problema nos dormitórios,
diversas garotas, quase todas incompatíveis com os padrões de beleza
norte-americanos (latinas, negras, lésbicas, gordas, velhas, indianas...), são
obrigadas a deixar seus quartos e, com isso, acabam vendo fraternidades como a
única opção de moradia na universidade. Algo engraçado (ou triste) de notar é
que nossas garotas passam por diversas fraternidades diferentes e todas elas
são estereotipadas (góticas, nudistas, crentes e rappers), e elas veem todas as
casas como lugares estranhos e de pessoas diferentes em quais elas não se enquadram,
entretanto quando chegam à Gamma Gamma, mesmo sendo totalmente diferentes das
pessoas que estão lá, é daquilo que querem fazer parte porque as garotas
lindas, loiras, magras e ricas são o “certo”, enquanto as darks, as nudistas,
as religiosas são erradas.
Entendeu
aonde quero chegar?
Sim, embora as garotas do dormitório
sejam totalmente diferentes das Gamma Gamma elas fazem de tudo para se enquadrar
naquilo, como aceitar as torturas que Victoria English proporciona – colocá-las
pra dormir em um banheiro, fazê-las comer comida do dia anterior em um pote de
ração pra cachorro enquanto todas as outras comem comida fresca e tomam champanhe
sentadinhas na mesa, colocá-las pra procurar camisinhas usadas pelo campus,
entre outras coisas. Contudo, quando essas mesmas moças excluídas entram em
contato com pessoas que não são exaltadas pela mídia, sentem-se desconfortáveis
e acabam por discriminá-las mesmo fazendo parte do grupo das “diferentes”. Acho que
ninguém tem duvida que elas seriam melhor recebidas em outras fraternidades,
mas elas aceitam o sofrimento para fazer parte daquele grupo.
-
Mas, titio, porque elas aceitam sofrer só pra fazer parte da Gamma Gamma?
Eu
respondo, jovem garoto que vai pra academia todos os dias ficar sarado, usa
roupinhas da Abercrombie e o ponto alto da vida é ir pra balada ficar bêbado e
pegar umas gatas/ jovem loira que não sai da academia pra ficar gostosa, gasta
todo dinheiro com roupas das moda e maquiagem e adora tirar barato da garotinha
acima do peso e daquela que não tem dinheiro para comprar roupinhas da moda:
elas fazem isso por sua causa, por causa da sociedade, assim como VOCÊ faz!
-
Mas eu não sou torturado, faço isso porque eu quero...
Isso
é o que você pensa jovem padawan, isso é o que você pensa.
"As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental"
O amor está morto. Sim,
isso mesmo que você leu: “O AMOR ESTÁ MORTO”, assim como o Papai Noel não
existe, o amor também não (existem algumas exceções por aí, dizem... falo do
amor, não do Papai Noel). Ok, agora que acabei com todos os seus sonhos, deixe
me explicar. A grande verdade é que assim como todas as outras coisas o amor
tornou-se um produto. O amor de alguns vale mais e outros valem menos,
entretanto, a moeda para se comprar amor não é o dinheiro em si (ok, algumas
vezes é sim), mas a beleza. As pessoas são produtos e para que sejam consumidas
elas precisam gerar demanda - como se faz isso? Ficando malhado/a na academia,
cortando e pintando cabelo, comprando produtos da moda, frequentando lugares
badalados e etc. Ou seja, quando uma empresa... Digo, pessoa, tem o produto
(beleza) que outra tem interesse e essa outra empresa... Pessoa também oferece
um produto de qualidade, elas fazem negócios, o que muitos chamam erroneamente
de amor.
Todavia, existe um
fator externo que define tudo isso, a mídia. Sim, essa velha conhecida nossa, define
o valor da beleza. Ela mostra qual o cabelo que está em alta, as roupas que
estão em baixa, os lugares que rendem juros maiores entre outras coisas.
Ok, vamos parar com
todo esse blábláblá Economia X Amor. A verdade é que as relações humanas se
tornaram apenas mais um produto no mercado e não sou eu que estou dizendo isso,
até o fodão do Bauman desenvolve essa
ideia (muito melhor que eu, por sinal) no livro Amor líquido, em que ele até
mesmo diz que o relacionamento é como uma bolsa de valores, todo dia que
acordamos precisamos colocar os investimentos na balança pra ver se compensa
continuar investindo ou não. Mas, enfim, deixemos o amor de lado, já que ele
está morto mesmo e não está presente no filme.
*
A grande questão a
qual o filme se resume é a busca pela beleza e tudo que fazemos para fazer
parte de um grupo pop e estarmos “em alta”, tanto as garotas ou os garotos. Não
sejamos hipócritas: quem não gosta de se sentir bonito? Quem na balada não olha
pra gostosona? Por mais que critiquemos e critiquemos, fazemos parte disso tudo
e, querendo ou não, somos dominados por essa ditadura da beleza.
Isso tudo é muito
mais visível nas mulheres, que estão sempre em salões de beleza, “gostam” de
comprar roupas, “se preocupam mais com o corpo”, e tudo o mais, contudo, os
homens são tão alienados quanto. No filme, o namorado da Victoria é
praticamente um escravo dela - e por que isso? Por que ele aceita, ele quer
estar com a garota mais pop e linda da universidade mesmo que esteja infeliz
com isso. Aliás, não só ele como todos os outros garotos que inventam milhões
de estratégias para conseguir a garota bonita, mesmo que tenham que ser pessoas
que eles não são.
Voltando na pergunta
lá atrás: porque as garotas do dormitório aceitam ser escravizadas pela
Victoria só pra fazer parte da Gamma Gamma? Pelo mesmo motivo que você aceita as
dores da depilação/academia, pelo mesmo motivo que se endivida pra comprar
roupas e acessórios da moda e todo o resto. Elas aceitam isso pra não serem
vistas/os como “losers”, pra conseguirem uma namorada/o legal (e bonito), por
que no fundo todos nós queremos um pouco de afeto e atenção.
Sou burra, mas sou linda
Durante o filme Victoria maltrata
todas aquelas que não fazem parte do seu grupo, mas no final descobrimos que
quando criança Victoria era feia e passava por tudo aquilo que ela fazia as
outras passarem, assim que ela “superou”, passou a assumir o papel daquelas que
a infernizavam, de opressora, como se fosse um ciclo natural da sociedade, uma
forma de fazer com que as outras “tomem jeito” e passem a “ajudar” as próximas
e assim por diante.
Enquanto outros filmes do gênero tentam passar uma mensagem de que devemos ser como somos e não devemos mudar
por nada (mesmo que indiretamente passe uma mensagem diferente), “Universidade
do prazer” vai na contra-mão e passa a idéia de que “A sociedade é assim e
sempre vai ser, a beleza é e vai ser um fator decisivo na sociedade. Você pode
ser feia e estranha hoje, mas se você seguir os passos da Paris, um dia você
será linda como ela.”
Absurdo?
Completamente, mas é um filme da Paris Hilton, você esperava o quê?
Enfim,
por mais bizarro que seja, por mais que eu e você desaprovemos esse pensamento
escroto, será que, infelizmente, não existe uma verdade nele? Vemos várias
pessoas que criticam essa ditadura da beleza, mas que fazem de tudo para se
assemelhar as Barbies da vida real.
Quando
vocês baixam filmes pornôs (vocês sim, porque eu não faço essas coisas) buscam
sempre as mais bonitas e gostosas e não as mais inteligentes. Ou no caso de
mulheres, que ficam admirando galãs do cinema como Brad Pitt, Jude Law, Ryan
Gosling, e vários outros... Pergunto: por que não sonhar com o Stephen Hawking,
sei lá? (ok, acho que exagerei um tantinho).
O fato é que somos uma sociedade totalmente baseada na aparência. Todos querem pessoas inteligentes, mas isso acaba ficando em segundo plano na maioria dos casos. Até quando iremos dar mais atenção pra beleza do que pra inteligência e outras qualidades que não dependem meramente de uma sorte genética? Não sei. Talvez a Paris seja a mais inteligente entre nós e mostrou que isso é um ciclo eterno.
O fato é que somos uma sociedade totalmente baseada na aparência. Todos querem pessoas inteligentes, mas isso acaba ficando em segundo plano na maioria dos casos. Até quando iremos dar mais atenção pra beleza do que pra inteligência e outras qualidades que não dependem meramente de uma sorte genética? Não sei. Talvez a Paris seja a mais inteligente entre nós e mostrou que isso é um ciclo eterno.
Enfim,
enxergar o problema é extremamente fácil, a questão é: será que conseguimos
exorcizar esse demônio da beleza de nossas vidas?
Devo me matricular na
Universidade do Prazer?
Ah,
você tava perguntando se deve ver o filme? Não. O filme é péssimo: atuações
porcas, cenas escrotas, fotografia e trilha sonora de seriados pré-adolescentes
e etc. Entretanto, se você for corajoso como nós do Café, vá em frente, pois o
filme é realmente é muito ruim - mas sabe aquilo que é tão ruim, mas tão ruim,
mas tão ruim que você acaba se divertindo?
Por
outro lado, foi uma obra que me surpreendeu de certa maneira, ela é preconceituosa,
cheia de estereótipos e passa uma mensagem escrota no final (foda-se quem você
é, seja magra, linda, loira e rica que é muito melhor), mas abre milhões de
discussões interessantíssimas. Acho que seria um ótimo filme para se discutir
em uma aula de sociologia ou algo do tipo.
Portanto,
se você quer se aventurar nesse mundo de universitárias boazudas, peitinhos,
comedia pastelão, chuva de merda e esperma, pessoas burras (mesmo que seja um
ambiente universitário) e claro, como poderia esquecer, a diva Paris Hilton
(#Sarcasmo)... O risco é todo seu.
Palmas!!!
ResponderExcluirEu juro que evito acessar o "Café", evito mesmo...afinal sempre que acesso acabo lendo vários textos, perdendo vários minutos de um tempo que eu deveria estar dedicando às minhas atividades profissionais, mas eu de fato evito o café porque gostaria de escrever bem como o autor desse texto escreve.
Assim, toda vez que cometo o infeliz erro de acessar esse ótimo blog acabo deprimido e tomado por uma inveja irracional de vocês...E com meu trabalho em atraso...rsrsrs.
Parabéns por doar textos inteligente a uma internet cada vez visual e burra...Adoro o Café...seja a bebida ou o blog!!!!
Não fala essas coisas se não vou começar a ficar metido hahaha, brincadeira. Brigadão pelos elogios, é muito legal ver pessoas que gostam dos nossos textos.
ResponderExcluirQuanto a escrita nunca me achei muito bom, tanto que depois que escrevemos uma resenha sempre mandamos pro outro antes de postar pra corrigir possíveis erros e melhorar alguma coisa. Talvez com o treino tenha melhorado um pouco mas nunca tirei notas muito boas em redação =p
Mas não nos evite, venha tomar um Café e apreciar umas Tripas sempre que possível ;D
abraços
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirEu adoro esse filme, e agradeço o "cafe" por se dedicar tanto assim em todos os filmes nos passando uma resenha completa e profissional!
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