Era noite e chovia.
Um grupo de jovens busca ajuda após o carro quebrar no lugar ermo. Encontraram
um casarão, terríveis situações e muitos clichês.
Aposto que você
já viu ao menos um filme assim, não?
E dois? E três? E mais de uma dezena?
Clichê (do francês cliché) é um termo usado para definir
algum acontecimento ou fato previsível, desde uma fala de personagem até o modo
pelo qual uma história se resolve. Ele serve para designar repetições,
apropriação de recursos largamente utilizados, em suma, o bom e velho
lugar-comum.
No
cinema há uma verdadeira infinidade deles que facilmente encheriam
enciclopédias que entupiriam bibliotecas. Vários são originais desse tipo de
arte, enquanto outros foram retirados de outras, como a literatura e o teatro.
Como
o Café
com Tripas é feito por vagabundos desocupados, resolvemos elaborar
uma série de postagens que visam explicitar seus clichês e mostrar qual função
cumprem, fazendo assim com que o leitor se situe melhor dentro dessa tradição
cinematográfica.
Além
disso, tenho duas coisas para dizer: primeiramente, que essa é uma daquelas
postagens aleatórias que partiram da mente doentia dos criadores do Café
num momento de ócio, portanto, não fazem parte da programação regular do blog,
ademais, que obviamente existem mais clichês no cinema do que nossas postagens
abarcarão, por isso, critiquem-nos! Assim bolaremos uma lista mais extensa e
interessante.
Animais sensitivos
No
mundo dos clichês cinematográficos os bichinhos sempre sabem que o estranho é
na verdade o grande vilão malvado que veio atrás da protagonista quando, na
verdade, poderia estar usando seus talentos para se tornar milionário e viver
de sunga nas Bahamas. Por algum motivo que não sei dizer, os animais fofinhos e
bonzinhos sabem quando não é o galho batendo na janela, mas uma coisa malvada e
mal intencionada, portanto, se o seu cão latir para o carteiro, não pense duas
vezes: dê um tiro nele.
Esse
clichê consiste em mostrar que os animais tem algum tipo de sentido extra para
a maldade, sendo mais sensíveis que as pessoas para isso e, consequentemente,
aptos a indicar a seus donos que o perigo se aproxima. Ele é utilizado
geralmente como uma forma do diretor insinuar a presença ou as intenções do
vilão.
Aparelho tecnológico que falha
No
meu mundo ideal todo diretor que usasse desse clichê iria para a cadeira
elétrica sem direito a fiança e julgamento, porém, como não sou deus e o bom
velhinho não liga muito para a justiça cinematográfica, os diretores
preguiçosos do mundo continuam perpetuando esse que é um dos piores clichês da
sétima arte.
Assim
ó: no momento exato em que é necessário o celular não tem sinal ou bateria, o
carro morre e não pega, o personagem se sente desesperado e nós,
telespectadores, enganados por termos pago tão caro no ingresso.
Barulho lá fora...
Olá, tem alguém aí?
Pois é, subestimando profundamente a
inteligência do telespectador, algum personagem pouco consequente sai do lugar
seguro onde está (muita vez, deixando a porta aberta) para verificar
um ruído ou acontecimento estranho numa área erma e desprotegida sem que esteja
armado ou acompanhado. A coisa fica ainda pior quando ele tem consciência da
existência de um vilão e mesmo assim vai ver o barulho lá fora, desarmado,
desprotegido e com aquela carinha de: “despedace-me, por favor”.
Cientista
genérico
Talvez pelo fato de que os
cientistas não sejam assim tão próximos do senso comum é que eles sejam
retratados desse modo tão estereotípico. Não sei se vocês lembram, mas na
escola aprendemos que ciência é uma forma de conhecimento que se divide em
especialidades, ou seja, há várias ciências, como a química, a física, a matemática,
a biologia, etc. Contudo, no terror parece que isso é esquecido, pois raramente
nos deparamos com especialistas, sejam anatomistas ou astrofísicos. Nele, nós
encontramos apenas “cientistas”, uma classe de seres humanos que sabem tudo o
que é preciso saber para construir máquinas do tempo, monstros bizarros, armas
malucas e coisas tais, compreendendo perfeitamente desde geometria, passando por
citologia, filosofia, história, mecânica, hidrostática, sismologia, ponto G,
pôquer, balé, ioga e até o horóscopo de hoje.
Espertinhos, não?
Continua no
próximo episódio... E no outro, e no outro...
Tão comum nos filmes de terror e
de grande bilheteria quanto à existência do bem e do mau, esse clichê insere no
filme algum gancho bobo que assegura que haja uma continuação para ele, mesmo
que a história já esteja toda resolvida. Isso pode acontecer na forma do vilão
que - embora tenha sido espancado, mutilado, queimado, trucidado e mascado
feito chiclete ao longo do filme – ressuscita ou, até mesmo, de outros recursos
de qualidade igualmente questionável.
A função desse clichê pode ser:
permitir que a história seja mais explorada noutro filme, gerar dinheiro, abordar
outros temas que o diretor desejava, gerar mais dinheiro, criar uma franquia de
sucesso, dar grana, criar mais dinheiro, conseguir mais cascalho, arrancar suas
notas e assim por diante...
Nenhum comentário:
Postar um comentário