É um avião?
Não, é um ex ser humano feio, tolo e fraco,
que após uma tentativa de suicídio pós bullyng caiu num barriu de lixo tóxico e
veio se tornar “O vingador tóxico”, um monstro fortíssimo que combate o
crime com violência e sarcasmo resistindo ao mal e à corrupção, sendo repetidamente
desafiado por facínoras de pouco poder, até que em “O vingador tóxico parte II” precisou enfrentar a força das grandes corporações e bater de frente
com o próprio capitalismo...
Título original: The toxic avenger part III The last temptation of toxy
Lançamento: 1989 (EUA)
Duração: 102 minutos
Direção: Lloyd Kaufman, Michael Herz
O vingador tóxico parte III A última tentação
de toxy
A corrupção que tudo devora
Tal
como todos as obras da Troma, a parte três do Vingador tóxico é mais um filme
safado, realizado com poucos recursos, que apela para a violência, o exagero e
a esculhambação a fim de transmitir sua mensagem e vender ingressos. Uma
virtude, aliás. Contudo, tal qual o filme anterior, a parte três peca por
manter os elementos que deram certo apenas os repetindo sem nada inovar, o que
produz uma trama com desfechos previsíveis - tudo o que não deveria ser. Não é
um desastre absoluto como o segundo, situando-se em algum lugar entre o
medíocre e o aceitável, porém também não alcança aquele potencial rebelde e
idiossincrático do primeiro filme. Quem é fã da franquia certamente vai gostar,
mas a obra dificilmente conquistará alguém que não seja.
Qual é a tentação?
Boas intenções?
Basicamente há dois momentos no
filme: aquele que mostra a decadência de Melvin, exibindo sua falta de dinheiro
para pagar a cirurgia da namorada e a entrada nos negócios da Apocalipse; depois
disso, temos sua recuperação, isto é, quando ele volta a pisotear o mal como
sempre e retoma seu posto como vingador. Tentarei dar conta de ambos no
decorrer da resenha, mas privilegiarei mais o primeiro, dada a sua importância
para a “mensagem”, digamos, promovida no filme. Vamos lá.

Inicialmente, a resposta que o filme nos dá é
um não, algo que, todavia, será desmentido no decorrer do filme. Contudo,
fiquemos com esse não por enquanto dado um motivo bem simples: Melvin acredita nele
e passa a crer que não tem mais lugar em Tromaville, o que o deprime e o faz se
aliar a Apocalipse para pagar a cirurgia de sua esposa. Aí é que a trama
realmente começa...
*
Para adentrar de vez na corrupção das
grandes corporações foi preciso que Melvin tivesse sido completamente derrotado
pela vida: sem dinheiro, sem emprego, sem propósito, sem meios para ajudar sua
namorada cega... Só assim é que ele se deprimiu ao ponto de aceitar a proposta
da perigosa empresa. Há um elemento fundamental nisso: fornecer um tipo de
desculpa moral e psicológica para salvar a idoneidade de Melvin quando ele
realiza algo mau, em outras palavras, deixar-se corromper pela empresa é ruim,
mas dados os motivos nobres do rapaz é possível perdoado porque tinha “boas
intenções”. Isso é reforçado ainda mais conforme o vemos sendo apresentado como
um completo estúpido, incapaz de perceber as conseqüências de suas ações. Com
efeito, além de fazer o mal sem querer, Melvin também não consegue notar o resultado
do que está fazendo.
Pelo menos, é disso que o filme quer nos
convencer.

Não consigo deixar de pensar nisso como
um tipo de alusão à condição do americano tradicional, sujeito cristão,
defensor de valores e trabalhador, habitante de um mundo duro que tenta lhe submeter
todo o tempo. Tal qual Melvin ele teria sido cooptado pelo poder do capital e as
forças cruéis do desenvolvimento, que - ao lhe vender um sonho, uma bela imagem do futuro
- fariam com que ele atuasse inocentemente contra seus próprios preceitos, contra
o próprio mundo que ama e deseja pertencer, sendo que, quando menos percebesse,
já estaria corrompido pelo lugar sujo e desesperador que ajudou a erigir. Em
alguma medida, “O vingador tóxico parte III” narra o drama estadunidense: as
crianças gordas como porcos, a extrema direita furiosa, as empresas
afunilando toda uma cultura dentro de slogans, camisetas e propagandas que
transformaram um país numa piada. O progresso, quer dizer, Apocalipse, enterrou
um mundo.
Que deus abençoe a América.
Mefistófeles e o capital
Eu não conseguiria expressar o quão atual
é isso. Tanto na política quanto na economia é feito uso desse princípio regularmente.
Se de um lado nossos ídolos estão constantemente se corrompendo, se vendendo
para quem quer que pague mais, de outro, sequer cobramos que eles tenham
qualquer índole diferente dessa. Atores fazendo propaganda de celular, cerveja,
nos vendendo cremes que não precisamos, ensinando que somos feios e que
necessitamos aderir ao produto tal; intelectuais defendendo políticos cretinos;
jornalistas superficiais arrotando bobagens em veículos de grande circulação e muitas,
muitas coisas do gênero. Nem sempre tais ações são consideradas imorais ou
mesmo questionáveis; em boa parte do tempo elas parecem naturais e inofensivas.
E qual é mesmo o problema? Melvin certamente saberia.
Devo ceder à tentação e assistir ao Vingador?
“O vingador tóxico” se inicia com uma
reapresentação safada dos episódios anteriores. Não se trata meramente uma
menção ao que aconteceu, mas, de fato, uma reapresentação: vemos imagens dos
filmes anteriores sendo reaproveitadas com toda cara de pau do mundo para
recontar a saga de Melvin. É como se nos avisassem logo sobre o filme para que
não reclamemos depois. A mensagem é a seguinte: assista ao filme sem medo, telespectador,
pois ele é tão óbvio, tão idiota, que mesmo sendo uma trilogia não será preciso
ver os filmes anteriores para entendê-lo, basta que pague o ingresso, a pipoca
e se sente aí.

Se
o Café com Tripas o
recomenda? Bem... Sem
mais delongas: não. É um filme dispensável, quiçá, até para os fãs do rapaz
tóxico. No entanto, se você não for uma daquelas pessoas chatíssimas que tem
bom gosto para tudo e se preocupa em ver apenas entretenimento inteligente, talvez goste desse
filminho tosco e divertido. Pelo sim ou pelo não, esta resenha acaba aqui.
Trailer:
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