quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Resenha: Kung fu zombie (Wu long tian shi zhao ji gui)


Vamos preparar uma receita. Misturemos artes marciais com um fortão buscando ser o melhor lutador de todos – o que teremos? Talvez algo como “O grande dragão branco”. Avancemos. E se, além disso, coarmos o filme até que qualquer profundidade dos personagens e todo vestígio de boa atuação liquefaça - o que sobrará? Um filme do Steven Seagal? Contudo, vamos mais além. Acrescentemos também zumbis, um pedaço tosco de cultura japonesa e um necromante. Batamos tudo até que vire uma massa pastosa e esquisita – o que estaremos servindo? Certamente um prato não muito saboroso, porém, nem por isso menos exótico.

Se você tem estômago forte e estiver disposto a provar, seja bem vindo ao mundo tosco de “Kung fu zombie”




Título original: Wu long tian shi zhao ji gui
Lançamento: 1982 (China)
Duração: 80 minutos
Direção: Yi – Jung Hua






Kung fu zombie
Batendo, lutando, brigando e... E o que mais?


Tente fazer o seguinte exercício: pense num ótimo filme, não apenas num filme bom, mas naquele que tem tantas qualidades - personagens bem constituídos, uma trama envolvente - que no fim deixa uma torrente de sentimentos dentro da gente, mudando o que somos definitivamente. Agora avance um pouquinho para um segundo passo: lembre-se dos elementos que constroem esse filme - a trilha sonora empolgante, a fotografia charmosa, aquele ator crucial - que fazem dele uma obra tão incrível. Por fim, o passo final: imagine que o que você está para ver a partir de agora não tem nenhuma dessas qualidades. Imaginou? Então você está começando a entender “Kung fu zombie”.

“Filme de caratê”?

Pang Fong é um excelente lutador de kung fu pressionado por seu pai para que melhore sua arte e não caia perante os inimigos do clã. Ele será repetidamente desafiado por bandidos, zumbis, magia, vingadores e até mesmo por um vampiro antes que o filme acabe do nada e sem qualquer sentido. E é só.

Marmeladas


“Kung fu zombie” é um filme bastante simples, ele conta a história de Pang Fong e de seu principal inimigo, um criminoso fracassado que busca se vingar do lutador pagando pelos serviços de um necromante desajeitado. Nesse meio tempo há quem morra, quem ressuscite, quem lute e ganhe, quem lute e perca e a história fica esquecida num canto escuro das cenas - não anda para lugar algum. O filme se contenta com inúmeras e intermináveis sequencias de ação e humor físico, esperando que até o fim delas você fique entretido. Às vezes funciona, normalmente não.
Bom, mas e os zumbis? Aparecem somente no começo do filme e depois somem. Apesar disso, a necromancia tem grande importância para os acontecimentos do filme; tudo o que ocorre nele é motivado por algum feitiço do mago e pelas tentativas de vingança que os inimigos do lutador arquitetam. Se essa fosse uma história inteligente, eu diria que isso é um tipo de aviso do filme, como se a vingança e os ressentimentos do passado trouxessem somente a morte, e que sempre que são revividos (ou ressuscitados) é para causar o mal a todos, inclusive quem os invoca. Porém, como você deve ter notado, não estamos tratando de uma história inteligente.

Sabedoria oriental?


Uma ideia com qual o filme lida é aquela dos limites pessoais. De um jeito ou de outro todos os personagens do filme parecem esbarrar em seus limites pessoais o tempo todo, tendo que superá-lo - por meios adequados ou inadequados - para alcançar seus objetivos. Por exemplo, os criminosos que perseguem Pang Fong recorrem à magia de um necromante incompetente para obter sua vingança, dado que só por suas próprias forças não são capazes de vencê-lo; com isso, colocam seu sucesso nas mãos de outra pessoa, como se fosse possível vencer por si mesmo com as forças dos outros. Já o necromante se vale de artes as quais não domina para satisfazer seus mestres, fugindo das consequências de suas ações imaturas sempre que elas causam problemas. Mesmo o próprio pai e mestre do protagonista está limitado por seu corpo velho do qual insiste em abusar, forçando-se a lutar batalhas que não é mais capaz de vencer, mas, sobretudo, pelas tradições que defende e nas quais busca encaixar seu filho. Ao passo em que tenta fazer com que o rapaz siga os preceitos antigos, ele todo o tempo descumpre essas normas, respeitando somente a conveniência da situação. Um hipócrita, claro.
E Pang Fong, nosso herói?


Bem, apesar de ser um rapaz festeiro e um tanto imaturo, ele é talvez o exemplo moral do filme no que tange ao respeito com os próprios limites.
Sendo chamado ao dever pelo pai, para que treine e melhore seu kung-fu, o rapaz está sempre dividido entre cumprir com sua obrigação - treinando, treinando - ou ceder aos caprichos da boemia, bebendo, bebendo. Apesar de não abandonar seu desejo de sair e se divertir, Pang Fong cumpre com suas obrigações de modo rigoroso (ou nem tanto) sem levá-las, porém, muito a sério. Se o filme tivesse um roteiro melhor, seria baseado na descoberta do protagonista de sua própria força e limites, já que, na medida em que o herói se confronta com inimigos cada vez mais difíceis, vai se dando conta de que, por anos, seu treinamento intensivo como lutador o levou a superar muitos limites, até ser capaz de enfrentar verdadeiros monstros no combate. Sob esse aspecto, Pang Fong é o equilíbrio, yin-yang; o comedimento que falta aos outros personagens que pretendem alcançar seus objetivos sabotando a si mesmos. Ao contrário desses, o lutador deseja, corre atrás de seus prazeres, dá uma escapadinha aqui e ali, mas treina duramente e se supera sempre, mesmo que só com a maturidade vá entender o verdadeiro significado de sua força.

Devo aprender kung-fu?


Ah... Não.
“Kung fu zombie” só merece ser assistido caso você – assim como eu, ora bolas – tenha um prazer mórbido por ver filmes extremamente ruins. Qualquer posição diferente dessa o levará a chorar por ter perdido oitenta minutos preciosos de sua vida com um filme horrível.
Particularmente o considerei bastante divertido. Dá para sentar numa tarde com os amigos, abrir uma lata de cerveja e rir muito com o que se passa na tela. Os efeitos (não tão) especiais lembram os bons e sempre clássicos episódios do Chapolim Colorado. Os zumbis - e em algumas cenas, até os personagens regulares - são claramente bonecos toscos do tipo que qualquer um pode fazer vestindo algum material vagabundo com roupas.
Enfim, não é um filme completamente perdido apesar de se esforçar muito, na verdade, o começo dele é bem legal mesmo com todos os defeitos que tem. Pense nele como um prato exótico que só quem tem certo paladar são capazes de degustar. Caso queira experimentar, desejo-lhe um bon appetit.

Trailer

2 comentários:

  1. Tenho que ver este filme tenho que ver este filme tenho que ver este filme tenho que ver este filme tenho que ver este filme tenho que ver este filme tenho que ver este filme tenho que ver este filme tenho que ver este filme tenho que ver este filme...

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  2. hahahaha, ele é terrível, pensador, tu vai gostar. Poxa, mas é mó raro a gente resenhar um filme que tu não viste. Até que enfim, hahah

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