Como
todos já sabem, amanhã (dia 21 de Setembro) é aniversário do King e como
tiramos a semana para homenagear esse que é um dos maiores escritores de
“terror” atuais, não poderiamos deixar de resenhar um filme que tenha sido
baseado em uma história dele. Entretanto, o Café decidiu ir além; não
apenas abordar um filme que tenha se inspirado nos magnificos textos do rei,
mas um que o próprio escritor dirigiu. Sim, isso mesmo que você leu; Stephen
King já dirigiu um filme (um único filme... E acho que isso tem uma razão) que
é digno de aparecer no Café.
King se
consagrou na escrita, mostrou suas habilidades musicais tocando guitarra no
Rock Bottom Remainders, já no cinema...
Lançamento: 1986
Duração: 97 minutos
Direção: Stephen
King
Cometas, máquinas e sobrevivência
Um cometa passa proximo a Terra, fazendo com que ela
fique “presa” em sua cauda durante cerca de oito dias. Devido a isso, os
aparelhos eletronicos começam a se rebelar contra os humanos.
Caminhões vivos, coisas do espaço,
explosões... Essa porra é Transformers?
Claro
que não amiguinhos, é muito pior que transformers, mas quanto pior melhor, não
é mesmo?
O filme
já começa de maneira sensacional, na primeira cena vemos King indo até um caixa
eletronico e ao colocar o cartão de credito aparece a seguinte mensagem na tela:
“You’re an asshole”, uma pequena introdução do que está reservado pra você
durante o filme. Aliás, esse início é um show de bizarrices (não que o resto
não seja); ele se resume a apresentar diversos personagens enquanto mostra o
caos que tá rolando no mundo: ponte levantando sozinha com carros nela, máquinas
de refrigerantes assassinas, facas elétricas com vida própria, caminhões
andando sem motorista, cortador de grama serial killer entre outros.
Com
isso tudo mostrado, o roteiro começa a tomar forma e mostra qual será a real
história que vamos acompanhar. Os personagens que sobreviveram se reúnem numa
parada de caminhões (aquelas tipicas americanas que tem posto de gasolina e um
restaurante) e tentam sobreviver às máquinas assassinas, principalmente aos
caminhões que ficam em torno do restaurante vigiando nossos heróis.
King escritor, músico e diretor...
Eu sou
uma pessoa um tanto quanto suspeita pra falar sobre o King; ele foi um dos
escritores que me levaram pra literatura. Eu sempre gostei de terror, mas era preguiçoso
pra caralho um pouco preguiçoso para ler por isso preferia os filmes,
entretanto, um dia venci a preguiça e comecei a ler King (afinal, qualquer
livro é melhor que aula de exatas) e depois de ler “O cemitério” não parei
mais. Consequentemente, isso fez com que ele virasse um dos meus escritores
preferidos.
Por
mais que as pessoas classifiquem o King como um escritor de terror, não o vejo
como tal, pois sempre penso em seus livros como histórias sobre comportamento
humano em determinadas situações incomuns – “Christine”, por mais que tenha uma
sinopse meio trash, é claramente uma história sobre ciúmes; “Buick 8” é um
livro sobre como o homem se relaciona com o desconhecido; “Dança da morte” trata
de como os sobreviventes reagiriam em um mundo pós-apocaliptico; “A coisa” é
sobre medo e amizade, etc. Claro, não quero dizer que sua literatura não
envolva elementos de terror, mas eles tão ali como segundo plano e não como
foco. Na verdade, isso é uma das coisas que não gosto muito das adaptações de
King pro cinema: acabam focando no terror e se esquecem do principal, as
pessoas.
Ok,
tudo bem que você gosta do King, mas... E o filme?
Então,
disse isso tudo porque antes de ver o filme até bateu uma esperança. O filme é
dirigido pelo proprio King, então pode ser que ele pegue todos os elementos que
tanto gosto e consiga transpor na tela, só que não...
Tem certeza que isso é King?
Sim,
amiguinhos, apesar de o filme ser muito ruim eu consigo percebe o toque do King
nele; não sei explicar exatamente no quê, mas, pelo menos eu percebo que é uma
história dele (talvez a forma como os personagens se encontram, a luta com o
desconhecido, um fenomento totalmente estranho começando do nada).
Porque
é ruim então?
Antes
de tudo, os personagens são mal desenvolvidos. Enquanto nos livros dele o
leitor começa a gostar do personagem e se identificar com um ou outro, no filme
não acontece, você passa todo o tempo com personagens sem essência nenhuma, tendo
uma informação ou outra que ajuda a compor sua personalidade, mas nada que te faça
conhecer ou entender o mesmo. Além disso, alguns deles são irritantes (se você
viu o filme saberá de quem eu to falando).
Fora
isso, tem algumas cenas bizarras, como, por exemplo, algo digno de filme pornô.
Uma garota chega no restaurante onde todos estão e, depois de algo qualquer ela
fala pro personagem principal (ou o mais proximo disso): “nossa, você e
bonitinho”, fazendo uma cara de safada, mais ou menos duas cenas depois eles já
estão na cama – lembrando: eles estão em um restaurante; porque existe uma
cama? (Não amiguinhos, não rola cena de sexo, e nem mesmo um peitinho). Outra
coisa estranha é o fato do dono da parada de caminhoneiros surgir com uma
bazuca do nada. Mais tarde ele tenta justificar, mas não convence.
Poizé
King, vacilou nesse hein?
Quanto aos
aspectos técnicos, bom, na fotografia não há nada de sensacional, não chega a
ser ruim. A trilha sonora é foda.
Dane-se se ela não combina com a cena, se ela não entra na hora que devia
entrar... É AC/DC, isso que importa.
No filme da pra perceber algumas tentativas de crítica,
mas que acabam não sendo desenvolvidas e aparecem apenas como uma característica
do filme, e não como uma forma de fazer quem tá assistindo refletir sobre o
assunto.
Religião: faça o que digo não faça o que
eu faço
É algo que pode passar despercebido, mas creio que King
tentou fazer uma critica não à religião em si, mas a aqueles que utilizam da
religião como forma de sustento. Entre os personagens existe um vendedor de
bíblias que é um dos que “menos tem Gizuis no coração”. Ele é apresentado dando
carona (em um carro que mostra toda sua ganância) pra outra personagem e,
durante a carona, tenta diversas vezes passar a mão na garota. Logo que chega ao
restaurante tenta vender suas bíblias mesmo rolando uma revolução das maquinas
do lado de fora. Ele afirma que a bíblia é capaz de curar doenças, trazer amor,
proteger de perigos, entre outras tantas coisas que escutamos os religiosos
falarem por ai só para ganhar dinheiro, entretanto, enquanto tenta vender, ele
vê um caminhão batendo no seu carro nem um pouco humilde e, ao ver isso, sua
atitude de cristão muda completamente. Ele começa a gritar todos os palavrões
imaginaveis e acaba sendo atropelado.
Aí ficamos
com a pergunta, cadê toda a proteção que ele dizia ser transmitida pela bíblia?
WE MADE YOU!!!
O segundo e principal tema que podemos pensar sobre o
filme é a escravização do homem pela maquina. Em principio as máquinas apenas
começam a se rebelar contra os humanos, mas na metade do filme a crítica, mesmo
não sendo tão bem explorada, acaba sendo ainda mais desenvolvida, quando as
máquinas passam a vigiar os humanos e posteriormente “escraviza-los”.
Vemos caminhões cercando o local onde os humanos estão
abrigados, temos a sensação que eles estão observando, nisso dá pra entrar na
discussão sobre a tecnologia e a falta de privacidade dos dias de hoje. Tudo
que fazemos, e em alguns casos pensamos, passa a ser registrado em algum lugar,
tudo que procuramos na internet, que conversamos com nossos amigos são
armazenados em algum banco de dados, quando saimos de casa passamos por
diversas cameras que registram o local e o horário, quando chegamos ao
trabalho/escola passamos por catracas que também fazem registros do horario que
entramos e saimos. Tudo que fazemos nos dias de hoje tem alguma maquina
envolvida, o homem começou a ficar cada vez mais dependente da mesma. Imagina
tirar nossos celulares, videogames e computadores por um dia?
NÂOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
O mais engraçado de tudo é que por mais que neguemos
isso, nós adoramos ser escravizados pela maquina, vivemos em redes sociais
falando o que estamos fazendo, onde estamos etc. Em alguns casos adoramos
quando as máquinas nos recomendam algo baseado em ações anteriores que estavam
armazenadas em bancos de dados. Os trabalhos manuais ficaram mais chatos quando
tem algo técnologico as coisas ficam mais legais. Ao menos é para isso que
tendemos. A grande verdade é que estamos cada vez mais dependentes da
tecnologia, e se um dia ficarmos sem ela não saberemos o que fazer.
Sim, o filme poderia gerar uma ótima discussão, mas o
roteiro fraco, a direção amadora (afinal é o primeiro e unico filme que ele
dirigiu) e a falta de aprofundamento no tema impediu “Maximum Overdrive” de ser
um clássico.
Devo trocar meu camaro amarelo por um
caminhão do Duende Verde?
Isso é claro, sei que falei mal do filme, mas desde
quando, tirando um filme ou outro, o Café falou sobre um filme bom?
Comboio do terror, apesar de ter milhões de defeitos e
falhar na tentativa de abrir uma discussão interessantissima sobre a
escravização dos homens perante a máquina, é um filme divertidíssimo.
Temos caminhão do duende verde, uma máquina de refrigerante mais eficaz que
vasectomia, máquinas de pimbal assassinas, criança sendo atropelada por um rolo
compressor e uma trilha sonora cheia de AC/DC.
Na boa,
você ainda precisa de personagens bem construidos e um roteiro bom?
Não há duvidas de que como diretor King é um ótimo
escritor, mas nem por isso “Maximum Overdrive” é um filme que deva ser jogado
fora. Não espere um filme no nivel dos livros, passa bem longe disso. É um
filme pra se divertir e dar umas risadas, nada mais.
Para saber mais
A galera pervertida, imoral e malvada do “Podtrash” fez uma ótima análise sobre “Maximum overdrive” no formato de podcast. Vale à pena conferir.
Trailer
Ahahaha Tenho que assistir isso! King como diretor deve ser um excelente escritor mesmo!Deve ser um pipocão inesquecível essa pitomba! E concordo com a tua análise, o terror, por increça que parível, não é exatamente o foco dos livros do King, eles sempre abordam aspectos do comportamento humano ou da sociedade, tendo o terror como pano de fundo, e que personagens fantasticamente humanos Mr. King constrói né ? É uma das principais qualidades deste escritor, claro que sou super-fã e muito suspeita pra falar tb..rs
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