sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Resenha: Comboio do terror (Maximum overdrive)


Como todos já sabem, amanhã (dia 21 de Setembro) é aniversário do King e como tiramos a semana para homenagear esse que é um dos maiores escritores de “terror” atuais, não poderiamos deixar de resenhar um filme que tenha sido baseado em uma história dele. Entretanto, o Café decidiu ir além; não apenas abordar um filme que tenha se inspirado nos magnificos textos do rei, mas um que o próprio escritor dirigiu. Sim, isso mesmo que você leu; Stephen King já dirigiu um filme (um único filme... E acho que isso tem uma razão) que é digno de aparecer no Café.
King se consagrou na escrita, mostrou suas habilidades musicais tocando guitarra no Rock Bottom Remainders, já no cinema...
  
 


Título original: Maximum Overdrive
Lançamento: 1986
Duração: 97 minutos
Direção: Stephen King




 
Cometas, máquinas e sobrevivência

            Um cometa passa proximo a Terra, fazendo com que ela fique “presa” em sua cauda durante cerca de oito dias. Devido a isso, os aparelhos eletronicos começam a se rebelar contra os humanos.

Caminhões vivos, coisas do espaço, explosões... Essa porra é Transformers?


Claro que não amiguinhos, é muito pior que transformers, mas quanto pior melhor, não é mesmo?
O filme já começa de maneira sensacional, na primeira cena vemos King indo até um caixa eletronico e ao colocar o cartão de credito aparece a seguinte mensagem na tela: “You’re an asshole”, uma pequena introdução do que está reservado pra você durante o filme. Aliás, esse início é um show de bizarrices (não que o resto não seja); ele se resume a apresentar diversos personagens enquanto mostra o caos que tá rolando no mundo: ponte levantando sozinha com carros nela, máquinas de refrigerantes assassinas, facas elétricas com vida própria, caminhões andando sem motorista, cortador de grama serial killer entre outros.
Com isso tudo mostrado, o roteiro começa a tomar forma e mostra qual será a real história que vamos acompanhar. Os personagens que sobreviveram se reúnem numa parada de caminhões (aquelas tipicas americanas que tem posto de gasolina e um restaurante) e tentam sobreviver às máquinas assassinas, principalmente aos caminhões que ficam em torno do restaurante vigiando nossos heróis.

King escritor, músico e diretor...

Eu sou uma pessoa um tanto quanto suspeita pra falar sobre o King; ele foi um dos escritores que me levaram pra literatura. Eu sempre gostei de terror, mas era preguiçoso pra caralho um pouco preguiçoso para ler por isso preferia os filmes, entretanto, um dia venci a preguiça e comecei a ler King (afinal, qualquer livro é melhor que aula de exatas) e depois de ler “O cemitério” não parei mais. Consequentemente, isso fez com que ele virasse um dos meus escritores preferidos.

Por mais que as pessoas classifiquem o King como um escritor de terror, não o vejo como tal, pois sempre penso em seus livros como histórias sobre comportamento humano em determinadas situações incomuns – “Christine”, por mais que tenha uma sinopse meio trash, é claramente uma história sobre ciúmes; “Buick 8” é um livro sobre como o homem se relaciona com o desconhecido; “Dança da morte” trata de como os sobreviventes reagiriam em um mundo pós-apocaliptico; “A coisa” é sobre medo e amizade, etc. Claro, não quero dizer que sua literatura não envolva elementos de terror, mas eles tão ali como segundo plano e não como foco. Na verdade, isso é uma das coisas que não gosto muito das adaptações de King pro cinema: acabam focando no terror e se esquecem do principal, as pessoas.
Ok, tudo bem que você gosta do King, mas... E o filme?
Então, disse isso tudo porque antes de ver o filme até bateu uma esperança. O filme é dirigido pelo proprio King, então pode ser que ele pegue todos os elementos que tanto gosto e consiga transpor na tela, só que não...

Tem certeza que isso é King?


Sim, amiguinhos, apesar de o filme ser muito ruim eu consigo percebe o toque do King nele; não sei explicar exatamente no quê, mas, pelo menos eu percebo que é uma história dele (talvez a forma como os personagens se encontram, a luta com o desconhecido, um fenomento totalmente estranho começando do nada).
Porque é ruim então?
Antes de tudo, os personagens são mal desenvolvidos. Enquanto nos livros dele o leitor começa a gostar do personagem e se identificar com um ou outro, no filme não acontece, você passa todo o tempo com personagens sem essência nenhuma, tendo uma informação ou outra que ajuda a compor sua personalidade, mas nada que te faça conhecer ou entender o mesmo. Além disso, alguns deles são irritantes (se você viu o filme saberá de quem eu to falando).
Fora isso, tem algumas cenas bizarras, como, por exemplo, algo digno de filme pornô. Uma garota chega no restaurante onde todos estão e, depois de algo qualquer ela fala pro personagem principal (ou o mais proximo disso): “nossa, você e bonitinho”, fazendo uma cara de safada, mais ou menos duas cenas depois eles já estão na cama – lembrando: eles estão em um restaurante; porque existe uma cama? (Não amiguinhos, não rola cena de sexo, e nem mesmo um peitinho). Outra coisa estranha é o fato do dono da parada de caminhoneiros surgir com uma bazuca do nada. Mais tarde ele tenta justificar, mas não convence.


Outro problema: o roteiro é fraco. Temos a historia das máquinas criando vida devido ao cometa e um grupo de pessoas tentando sobreviver e... Acaba por aí. Não sabemos se existia alguem controlando as máquinas, o que elas queriam, porque o cometa deu esse poder e etc. [spoiler] O filme acaba com um texto falando que um satelite meteorológico russo destruiu um OVNI que estava equipado com um canhão laser e com misseis nucleares, sim fiz a mesma pergunta que você caro leitor – QUE PORRA É ESSSA? – não tivemos nenhuma informação sobre Ets no filme inteiro e ele aparece em um textinho do final, como um satelite meteorológico vai destruir um disco voador mais equipado que o Rambo? Outra: se o satelite destruiu o OVNI no espaço, como os humanos sabem que tinha armas de destruição em massa lá? Alguém foi no espaço verificar? As máquinas ficaram assim por causa dos Ets ou do meteoro? O meteoro era um disco voador? Qual o objetivo das maquinas? [/spoiler]
Poizé King, vacilou nesse hein?
Quanto aos aspectos técnicos, bom, na fotografia não há nada de sensacional, não chega a ser ruim.  A trilha sonora é foda. Dane-se se ela não combina com a cena, se ela não entra na hora que devia entrar... É AC/DC, isso que importa.
            No filme da pra perceber algumas tentativas de crítica, mas que acabam não sendo desenvolvidas e aparecem apenas como uma característica do filme, e não como uma forma de fazer quem tá assistindo refletir sobre o assunto.

Religião: faça o que digo não faça o que eu faço

            É algo que pode passar despercebido, mas creio que King tentou fazer uma critica não à religião em si, mas a aqueles que utilizam da religião como forma de sustento. Entre os personagens existe um vendedor de bíblias que é um dos que “menos tem Gizuis no coração”. Ele é apresentado dando carona (em um carro que mostra toda sua ganância) pra outra personagem e, durante a carona, tenta diversas vezes passar a mão na garota. Logo que chega ao restaurante tenta vender suas bíblias mesmo rolando uma revolução das maquinas do lado de fora. Ele afirma que a bíblia é capaz de curar doenças, trazer amor, proteger de perigos, entre outras tantas coisas que escutamos os religiosos falarem por ai só para ganhar dinheiro, entretanto, enquanto tenta vender, ele vê um caminhão batendo no seu carro nem um pouco humilde e, ao ver isso, sua atitude de cristão muda completamente. Ele começa a gritar todos os palavrões imaginaveis e acaba sendo atropelado.
Aí ficamos com a pergunta, cadê toda a proteção que ele dizia ser transmitida pela bíblia?

WE MADE YOU!!!


            O segundo e principal tema que podemos pensar sobre o filme é a escravização do homem pela maquina. Em principio as máquinas apenas começam a se rebelar contra os humanos, mas na metade do filme a crítica, mesmo não sendo tão bem explorada, acaba sendo ainda mais desenvolvida, quando as máquinas passam a vigiar os humanos e posteriormente “escraviza-los”.
            Vemos caminhões cercando o local onde os humanos estão abrigados, temos a sensação que eles estão observando, nisso dá pra entrar na discussão sobre a tecnologia e a falta de privacidade dos dias de hoje. Tudo que fazemos, e em alguns casos pensamos, passa a ser registrado em algum lugar, tudo que procuramos na internet, que conversamos com nossos amigos são armazenados em algum banco de dados, quando saimos de casa passamos por diversas cameras que registram o local e o horário, quando chegamos ao trabalho/escola passamos por catracas que também fazem registros do horario que entramos e saimos. Tudo que fazemos nos dias de hoje tem alguma maquina envolvida, o homem começou a ficar cada vez mais dependente da mesma. Imagina tirar nossos celulares, videogames e computadores por um dia? NÂOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

            O mais engraçado de tudo é que por mais que neguemos isso, nós adoramos ser escravizados pela maquina, vivemos em redes sociais falando o que estamos fazendo, onde estamos etc. Em alguns casos adoramos quando as máquinas nos recomendam algo baseado em ações anteriores que estavam armazenadas em bancos de dados. Os trabalhos manuais ficaram mais chatos quando tem algo técnologico as coisas ficam mais legais. Ao menos é para isso que tendemos. A grande verdade é que estamos cada vez mais dependentes da tecnologia, e se um dia ficarmos sem ela não saberemos o que fazer.
            Sim, o filme poderia gerar uma ótima discussão, mas o roteiro fraco, a direção amadora (afinal é o primeiro e unico filme que ele dirigiu) e a falta de aprofundamento no tema impediu “Maximum Overdrive” de ser um clássico.

Devo trocar meu camaro amarelo por um caminhão do Duende Verde?


             Isso é claro, sei que falei mal do filme, mas desde quando, tirando um filme ou outro, o Café falou sobre um filme bom?
            Comboio do terror, apesar de ter milhões de defeitos e falhar na tentativa de abrir uma discussão interessantissima sobre a escravização dos homens perante a máquina, é um filme divertidíssimo. Temos caminhão do duende verde, uma máquina de refrigerante mais eficaz que vasectomia, máquinas de pimbal assassinas, criança sendo atropelada por um rolo compressor e uma trilha sonora cheia de AC/DC.
Na boa, você ainda precisa de personagens bem construidos e um roteiro bom?
            Não há duvidas de que como diretor King é um ótimo escritor, mas nem por isso “Maximum Overdrive” é um filme que deva ser jogado fora. Não espere um filme no nivel dos livros, passa bem longe disso. É um filme pra se divertir e dar umas risadas, nada mais.

Para saber mais


A galera pervertida, imoral e malvada do “Podtrash” fez uma ótima análise sobre “Maximum overdrive” no formato de podcast. Vale à pena conferir.

  Trailer

Um comentário:

  1. Ahahaha Tenho que assistir isso! King como diretor deve ser um excelente escritor mesmo!Deve ser um pipocão inesquecível essa pitomba! E concordo com a tua análise, o terror, por increça que parível, não é exatamente o foco dos livros do King, eles sempre abordam aspectos do comportamento humano ou da sociedade, tendo o terror como pano de fundo, e que personagens fantasticamente humanos Mr. King constrói né ? É uma das principais qualidades deste escritor, claro que sou super-fã e muito suspeita pra falar tb..rs

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