quinta-feira, 24 de maio de 2012

Resenha: O monstro do armário (Monster in the closet)


Você é do tipo que vasculha por monstros debaixo da cama? Que deixa a luz acesa antes de dormir? Que teme corredores escuros? No entanto, você jamais encontrou um monstro olhando nesses lugares, não é mesmo? Quer dizer, um dia você finalmente aceitou o conselho de seus pais de que, na verdade, não existem monstros, apenas nossa imaginação, nossos medos.
Baboseira.
O Café com Tripas, após desbravar as entranhas do mundo trash desvenda para todos os leitores iludidos pelas tolices paternas uma misteriosa verdade: os monstros existem, no entanto, eles se escondem em lugares em que você nunca pensou. Aliás, já considerou procurar no armário?




Título original: Monster in the closet
Lançamento: 1987 (EUA)
Duração: 87 minutos
Direção: Bob Dahlin







O monstro do armário
O suspiro dos moribundos

            Um dos filmes mais toscos da década de oitenta, “O Monstro do armário” surge depois do uso exaustivo de todos os clichês da época, quando, na impossibilidade de se inventar algo novo, o filme busca satirizar o cinema até então. Apoiado numa ideia ridícula e dando prosseguimento com uma trama absurda o filme tenta se rir de sua época, de seus personagens e até de si mesmo.

O que é que há, velhinho?


Clark - um jornalista muito parecido com Kent - é enviado para investigar uma série de assassinatos numa pequena cidade, em que as pessoas foram esquartejadas dentro de seus próprios armários. Em sua busca ele conhecerá novas pessoas, seres e até um novo amor.

Clichês que você vai encontrar:

Personagens caricatos, Personagens românticos, Vilão onipotente.

Referências e irreverências:

            A trama se constrói, inicialmente, a partir da busca de Clark para desvendar os misteriosos assassinatos, que rapidamente são creditados ao monstro do armário; e, em seguida, sobre a investigação acerca dos meios para a destruição da criatura que, aparentemente, é invencível. Nos dois momentos ela não vai além da mediocridade. Mas, até aí, sem novidades no mundo do trash. O que “O monstro do armário” possui de (não muito, mas ainda assim) interessante, no entanto, é a construção de sua história sem graça por meio de várias referências ao cinema em que está inserido. O filme - como produto do fim da década de oitenta - não pretende originalidade, mas sátira a um tipo de cinematografia que se repetiu deveras no seu formato. Se você, leitor, viu dois ou três filmes do período vai saber do que estou falando.


Quando vemos a historia boba do jornalista e sua tentativa de resolver o mistério do monstro, notamos que, além de pertencer ao gênero do terror, “O monstro do armário” é também uma história de humor, na qual a própria situação dos personagens é ironizada enquanto acontece. Ela não se leva a sério e nem espera que o façamos. Para tal, o filme faz referências não somente aos clichês da década em que se situa (rindo-se delas), mas também ao cinema clássico, como “Psicose”, de Hitchcock. O resultado é, obviamente, questionável, afinal, trata-se de “O monstro do armário”, entretanto, isso não subtrai o mérito da tentativa, que foi bem fecunda se observarmos o cinema posterior (“Todo o mundo em pânico”, alguém lembra?).

(D)efeitos, música e atuações


            O filme parece ter o orçamento e a produção de um episódio dos “Power Rangers”, tendo efeitos especiais muito próximos daqueles que vemos nos episódios da série: um monstro que claramente é uma roupa feia (provavelmente com alguém morrendo de asfixia dentro dela), tiros que quando direcionados contra o vilão produzem várias explosões em torno dele, personagens caricatos e bonzinhos. Enfim.
A trilha sonora é bem monocórdia, sendo composto por sinfonias trevosas as quais tentam trazer um ar de seriado para o filme, buscando impedir que você ria-se vendo aquela porcaria de fantasia de monstro. Vale dizer: não funciona.
Quanto às atuações, bem, as atuações, sabe... Vamos mudar de assunto.

O fim da arte

E que questões interessantes o filme traz? Um leitor habitual do blog pode perguntar. E responderemos claramente: nenhuma. Trata-se apenas de uma obra de entretenimento sem conteúdo. Ela, inclusive, não se pretende outra coisa. No entanto, podemos reparar coisas interessantes observando o contexto em que o filme se situa. Quando uma obra de arte começa a satirizar os próprios referenciais de que se vale, neste caso, o filme satirizando o terror de oitenta, tal ato representa, no mínimo, um sinal de que é preciso reinventar a roda caso não se queira que ela pare de girar. Deste modo, “O monstro do armário” é um tipo de suspiro de um morto agonizante, ou um profeta do fim da década avisando que o futuro bate à porta, que se o cinema não se vestir bem, vai perder sua carona. Por sinal, a década seguinte parece ter padecido profundamente desse mal, produzindo mais sequencias dos filmes clássicos - como “O exorcista III”, “Children of the corn III”, “O massacre da serra elétrica III” e outros - do que reinventado o terror. O próprio “O monstro do armário” por se construir a partir de referenciais temporais bastante específicos, ficou bem datado. A propósito, essa discussão em torno da arte é atualíssima; toda geração crê que tudo o que é possível dizer provavelmente já foi afirmado por algum sábio da antiguidade, de alguma maneira mais inteligente do que nós conseguiríamos. A crença no esgotamento do discurso, de nossa incapacidade de produzir o novo, entretanto, nunca foi impedimento para que pessoas de coragem resolvessem não se submeter a isso, usando os meios que dispunham para repensar o mundo e produzir coisas novas.

Devo sair ou ficar no armário?

Leitores, não vou me intrometer em suas vidas particulares. Se for unicamente por conta do filme, fiquem no armário, ou na cama – dormindo. Não há nada muito interessante do lado de fora (*).

(*): se não entenderam, pobres leitores, esclareço: esse parágrafo é uma refinada metáfora, quis dizer que o filme não é muito bom e não é bom assim que valha à pena largar a namorada em casa (deixar de ir ao show do Metallica ou perder uma aula de matemática aplicada para assisti-lo, por exemplo), brincando com a expressão popular “sair do armário”; ah, enfim, vocês entenderam.

PS: dois detalhes para quem acompanha os famosos americanos: Fergie do "Black Eyed Peas" e Paul William do "Velozes e furiosos" fazem participações no filme, a primeira como uma vítima anônima do monstro, o segundo como o personagem "Professor" (que na verdade não é um professor, mas uma criança superdotada).

Trailer:


2 comentários:

  1. Não conhecia essa joia ao inverso, e procurarei ver (nem que seja pra dar risadas). As resenhas de vocês são sempre excelentes e dão, mesmo a filmes muito ruins, um interesse que jamais haveria de outra forma.

    Se posso dar uma sugestão (pedido), gostaria que dessem uma olhada em um dos piores filmes trash que já vi na vida, e que não é nem tão antigo assim: Luther the Geek (o nome em português é Luther o Monstro ou Luther o Maníaco).

    Nele vocês verão com real horror um filme construído em torno de um doido que não fala (ele cacareja, anda e MATA como uma galinha) e mesmo assim é liberado do hospício.

    O final é uma das coisas mais bizarras que já vi, e deveria ser obrigatório para se entender o que realmente é um filme ruim.

    Abraço a todos. 8)

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  2. hahahha, deve ser muito engraçado. Vou ver se acho ele pra baixar. Quero saber como é que uma galinha mata - bicando? Valeu pelos elogios.

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