Você
é do tipo que vasculha por monstros debaixo da cama? Que deixa a luz acesa antes de dormir? Que
teme corredores escuros? No entanto, você jamais encontrou um monstro olhando
nesses lugares, não é mesmo? Quer dizer, um dia você finalmente aceitou o
conselho de seus pais de que, na verdade, não existem monstros, apenas nossa
imaginação, nossos medos.
Baboseira.
O Café com Tripas, após
desbravar as entranhas do mundo trash desvenda para todos os leitores iludidos
pelas tolices paternas uma misteriosa verdade: os monstros existem, no entanto,
eles se escondem em lugares em que você nunca pensou. Aliás, já considerou procurar no armário?
Lançamento: 1987 (EUA)
Duração: 87 minutos
Direção: Bob Dahlin
O monstro do armário
O suspiro dos moribundos
Um dos filmes mais toscos da década de oitenta, “O Monstro
do armário” surge depois do uso exaustivo de todos os clichês da época, quando,
na impossibilidade de se inventar algo novo, o filme busca satirizar o cinema
até então. Apoiado numa ideia ridícula e dando prosseguimento com uma trama
absurda o filme tenta se rir de sua época, de seus personagens e até de si
mesmo.
O que é que há, velhinho?
Clark - um jornalista muito parecido com Kent - é enviado para investigar uma série de
assassinatos numa pequena cidade, em que as pessoas foram esquartejadas dentro
de seus próprios armários. Em sua busca ele conhecerá novas pessoas, seres e
até um novo amor.
Clichês que você vai encontrar:
Personagens
caricatos, Personagens românticos, Vilão onipotente.
Referências e irreverências:
A trama se constrói, inicialmente, a partir da busca de
Clark para desvendar os misteriosos assassinatos, que rapidamente são
creditados ao monstro do armário; e, em seguida, sobre a investigação acerca dos
meios para a destruição da criatura que, aparentemente, é invencível. Nos dois
momentos ela não vai além da mediocridade. Mas, até aí, sem novidades no mundo
do trash. O que “O monstro do armário” possui de (não muito, mas ainda assim) interessante,
no entanto, é a construção de sua história sem graça por meio de várias
referências ao cinema em que está inserido. O filme - como produto do fim da
década de oitenta - não pretende originalidade, mas sátira a um tipo de cinematografia
que se repetiu deveras no seu formato. Se você, leitor, viu dois ou três filmes
do período vai saber do que estou falando.
Quando
vemos a historia boba do jornalista e sua tentativa de resolver o mistério do
monstro, notamos que, além de pertencer ao gênero do terror, “O monstro do
armário” é também uma história de humor, na qual a própria situação dos
personagens é ironizada enquanto acontece. Ela não se leva a sério e nem
espera que o façamos. Para tal, o filme faz referências não somente aos clichês
da década em que se situa (rindo-se delas), mas também ao cinema clássico, como
“Psicose”, de Hitchcock. O resultado é, obviamente, questionável, afinal,
trata-se de “O monstro do armário”, entretanto, isso não subtrai o mérito da
tentativa, que foi bem fecunda se observarmos o cinema posterior (“Todo o mundo
em pânico”, alguém lembra?).
(D)efeitos, música e atuações
O filme parece ter o orçamento e a produção de um
episódio dos “Power Rangers”, tendo efeitos especiais muito próximos daqueles
que vemos nos episódios da série: um monstro que claramente é uma roupa feia (provavelmente com
alguém morrendo de asfixia dentro dela), tiros que quando direcionados contra o
vilão produzem várias explosões em torno dele, personagens caricatos e
bonzinhos. Enfim.
A
trilha sonora é bem monocórdia, sendo composto por sinfonias trevosas as quais
tentam trazer um ar de seriado para o filme, buscando impedir que você ria-se vendo
aquela porcaria de fantasia de monstro. Vale dizer: não funciona.
Quanto
às atuações, bem, as atuações, sabe... Vamos mudar de assunto.
O fim da arte
E que questões interessantes o filme traz? Um leitor habitual do blog pode perguntar. E responderemos claramente: nenhuma. Trata-se apenas de uma obra de entretenimento sem conteúdo. Ela, inclusive, não se pretende outra coisa. No entanto, podemos reparar coisas interessantes observando o contexto em que o filme se situa. Quando uma obra de arte começa a satirizar os próprios referenciais de que
se vale, neste caso, o filme satirizando o terror de oitenta, tal ato representa,
no mínimo, um sinal de que é preciso reinventar a roda caso não se queira que
ela pare de girar. Deste modo, “O monstro do armário” é um tipo de suspiro de um
morto agonizante, ou um profeta do fim da década avisando que o futuro bate à
porta, que se o cinema não se vestir bem, vai perder sua carona. Por sinal, a década seguinte parece ter padecido profundamente desse mal, produzindo
mais sequencias dos filmes clássicos - como “O exorcista III”, “Children of the
corn III”, “O massacre da serra elétrica III” e outros - do que reinventado o terror.
O próprio “O monstro do armário” por se construir a partir de referenciais
temporais bastante específicos, ficou bem datado. A propósito, essa discussão em
torno da arte é atualíssima; toda geração crê que tudo o que é possível dizer provavelmente já foi afirmado por algum sábio da antiguidade, de alguma maneira mais inteligente do que nós conseguiríamos. A crença no esgotamento do discurso, de nossa
incapacidade de produzir o novo, entretanto, nunca foi impedimento para que
pessoas de coragem resolvessem não se submeter a isso, usando os meios que
dispunham para repensar o mundo e produzir coisas novas.
Devo sair ou ficar no armário?
Leitores,
não vou me intrometer em suas vidas particulares. Se for unicamente por conta do
filme, fiquem no armário, ou na cama – dormindo. Não há nada muito interessante
do lado de fora (*).
(*): se não entenderam, pobres
leitores, esclareço: esse parágrafo é uma refinada metáfora, quis dizer que o
filme não é muito bom e não é bom assim que valha à pena largar a namorada em casa (deixar de ir ao show do Metallica ou perder uma aula de matemática aplicada para assisti-lo, por exemplo), brincando com a expressão
popular “sair do armário”; ah, enfim, vocês entenderam.
PS: dois detalhes para quem acompanha os famosos americanos: Fergie do "Black Eyed Peas" e Paul William do "Velozes e furiosos" fazem participações no filme, a primeira como uma vítima anônima do monstro, o segundo como o personagem "Professor" (que na verdade não é um professor, mas uma criança superdotada).
Trailer:
Não conhecia essa joia ao inverso, e procurarei ver (nem que seja pra dar risadas). As resenhas de vocês são sempre excelentes e dão, mesmo a filmes muito ruins, um interesse que jamais haveria de outra forma.
ResponderExcluirSe posso dar uma sugestão (pedido), gostaria que dessem uma olhada em um dos piores filmes trash que já vi na vida, e que não é nem tão antigo assim: Luther the Geek (o nome em português é Luther o Monstro ou Luther o Maníaco).
Nele vocês verão com real horror um filme construído em torno de um doido que não fala (ele cacareja, anda e MATA como uma galinha) e mesmo assim é liberado do hospício.
O final é uma das coisas mais bizarras que já vi, e deveria ser obrigatório para se entender o que realmente é um filme ruim.
Abraço a todos. 8)
hahahha, deve ser muito engraçado. Vou ver se acho ele pra baixar. Quero saber como é que uma galinha mata - bicando? Valeu pelos elogios.
ResponderExcluir