Você
gosta do seu chefe e do seu trabalho? Pode falar a verdade: ele não deve
freqüentar esses bloguinhos de gente sem classe como eu e você. Eu sei que você
também adora quando seu chefe está ausente pra ficar conversando com os amigos
ou jogando Candy Crush. Não estou te julgando, apenas quero alertar que existem
alguns chefes que são um pouco extremistas quando se trata de trabalho bem
feito, então converse, divirta-se quando tiver um tempo livre, mas nunca, nunca
mesmo faça seu trabalho de qualquer jeito só pra ir embora mais cedo, ainda
mais se você trabalha em uma empresa chamada Redd Inc.
Título original: Redd Inc.
Lançamento: 2012 (Austrália)
Duração: 93 minutos
Direção: Daniel Krige
Redd Inc.
O sangue pela
empresa
Logo após fugir da clinica na qual estava preso,
um executivo, acusado de decapitar uma mulher, seqüestra seis pessoas
relacionadas ao seu julgamento e as mantém acorrentadas em um escritório, obrigando-as
a trabalhar para ele.
Podemos ver Redd inc. como um espécie de Jogos Mortais, porém com uma
proposta diferente por trás. Temos os mesmos elementos: pessoas em cativeiros
tendo que provar que são dignas de continuar vivas, algo que no jogos mortais
se dá pelo “valor à vida”, já em Redd inc. as pessoas continuam vivas se
fizerem seus trabalhos de maneira correta.
Antes
de assistir o filme eu esperava algo totalmente diferente do que vi. Por se
tratar em pessoas acorrentadas em uma mesa de escritório sendo obrigadas a
trabalhar, aguardei um filme que focasse na critica social sobre alienação do
trabalho e coisas do tipo, mas não foi assim. Ele tem um pouco disso, mas logo
no inicio já percebemos que o filme tomará um rumo diferente.
Ok, menos tititi e mais trabalho, afinal, nós
queremos produtividade.
Vamos
agora ao palco principal do filme.
Nossa protagonista é Annabelle, a jovem que
“presenciou” o crime. Devido ao insucesso de conseguir emprego em empresas ela
ganha a vida fazendo strip online, sem deixar de procurar outro emprego para
mudar de vida. Depois de receber algumas mensagens estranhas durante um strip, a
moça é atacada e seqüestrada em seu apartamento. Quando acorda está em uma mesa
de escritório acorrentada com outras seis pessoas.
E que os jogos comecem... ops...
E que o trabalho comece
É nesse momento que o filme começa a se
assemelhar ao “Saw”, entretanto, apesar de algumas ideias parecidas, ele
consegue se sustentar nas próprias pernas. Voltemos à história.
Os personagens descobrem que todos estão
envolvidos com a prisão do Reddman e que ele ainda está vivo (Jura?). Sem
muitas explicações, por enquanto, todos eles são obrigados a trabalhar e seguir
alguma regras: três pausas pro banheiro por dia, duas pausas sociais, refeições
etc. Reconhece?
O primeiro trabalho dado a eles é digitalizar
algumas folhas. Bom, apesar de não aprofundar muito, é possível ver uma certa
critica a alienação do trabalho. Temos seis pessoas acorrentadas as suas mesas
e obrigadas a fazer um trabalho que não compreendem o motivo, o motivo?
Continuarem vivas.
Bem, nossas vidinhas proletariadas não são muito
diferente disso: temos um trabalho que não gostamos para comprar coisas que nem
sempre precisamos, mas que persistimos nele porque algo acima de nós nos
obriga, caso contrario sofreremos. As personagens do filme tem um psicopata que
vai matá-los caso qualquer coisa saia errado, enquanto nós, se não
trabalharmos, não desfrutaremos desse paraíso maravilhoso chamado capitalismo,
afinal, prefiro a morte do que não poder comprar umas calças da Diesel, uns
uniformes... Digo, roupas da Abercrombie, óculos da Calvin Klein etc.

Colocando de outro forma, assim como ocorre com
os personagens no filme, muitas vezes nossa vida não deixa de ser apenas uma espera
tediosa da morte que não chega. Ficamos repetindo nossa rotina dia após dia,
sem sair das regras pra evitar que alguém “a cima da gente” nos puna. O Reddman
é um bom exemplo disso, apesar de ter se tornado um assassino, ele se mantém
cordial e nunca se coloca como se estivesse errado, sempre dando a entender que
está sendo justo. “Você tem três pausas pra banheiro e duas pra socializar, o
que mais você pode querer?” Outro exemplo disso seria a questão da marquinha:
toda vez que alguém descumpre alguma regra, Reddman faz um corte na testa da
pessoa; quando a pessoa consegue cinco marcas ela é eliminada. Não deixa de ser
uma alusão as advertências no trabalho, claro que você não vai morrer... Eu
acho. Essa questão de alertas antes de ser cortada, no entanto, não deixa de
ser uma forma de jogar a culpa em cima do empregado e deixar de lado a
responsabilidade do empregador, afinal, se você tem cinco marquinhas
(advertências) é porque você não está trabalhando direito. Logo, se você está
sendo degolado (demitido) a culpa é totalmente sua e, eu, seu superior, só
estou fazendo meu trabalho.
O filme faz diversas referencia a “chavões”
usados por diretores para justificar seus atos. Eles precisam ser “justos,
porém firmes”.
Redd inc. é um filme cheio de reviravoltas e lá pelos
30 primeiros minutos de filme temos a primeira delas. Até agora pode parecer um
filme que foca no critica a alienação do trabalho e a demonização do
empregador, entretanto, aqui temos uma mudança significativa. O filme mostra
que nem sempre os empregados são os bonzinhos e que muitas vezes o chefe tem boas
razões para fazer alguns cortes. Não me interprete mal, leitor, não estou
dizendo que é legal cortar a cabeça dos funcionários... Na verdade, é, mas não
na vida real.
Até agora estavamos pensando: “coitadas dessas
pessoas, foram sequestradas e estão sendo torturadas sem motivos”, todavia nos
enganamos e rapidamente a critica se inverte - será que são os chefes mesmos os
culpados ou nós mesmos, os subalternos?
Antes da metade do filme é revelado que Reddman
não é o Head Hunter (nome dado ao serial killer) e que as pessoas foram
sequestradas justamente para descobrir quem
foi o verdadeiro assassino.
Você deve estar ai no trabalho, lendo esse
bloguinho sobre filmes sanguinolentos e minimizando sempre que o chefe passa, e
se perguntando: Se esse Reddman e meu chefe são uns filhos da p... que culpa eu
tenho nisso?

Em certo momento é revelado que o policial tinha
um álibi pro Reddman, mas que acabaram jogando pra debaixo do tapete para
fechar o caso mais rápido. Assim como outras falsas acusações foram feitas
somente para satisfazer a sociedade que queria a cabeça do assassino logo. Pondo
em termos claros: se Reddman ou seu chefe é um psicopata, a culpa é sua, você
poderia estar na mesma situação.
Sim, você mesmo, não finja que não está lendo!
Quantas vezes você não fez algo de qualquer jeito
só pra terminar seu trabalho logo e ir pra casa? Quantas coisas você não varreu
pra debaixo do tapete só pra não ter mais trabalho? Quantas vezes não fez hora
no banheiro? Quantas vezes não ficou brincando no face quando seu chefe não
estava presente? Preciso falar mais?
A questão é: o trabalho se torna algo tão
rotineiro que deixamos de pensar nas consequências que aquilo pode ter porque
dependendo da consequência ela não nos atingira diretamente. Já que não ira nos
atingir, foda-se, né? Não. Independente do seu trabalho, ele sempre
influenciará na vida de terceiros, seja você um faxineiro, um professor, um
arquiteto, um ator pornô ou qualquer outra coisa.
Irei falar algo aqui o que pouquíssimas pessoas
sabem e é bem provavel que ninguém tenha
te dito antes, mas que você precisa saber: trabalho não serve apenas para
ganhar dinheiro.
Que cara de espanto é essa meu jovem? Você está
se perguntando pra que serve então, certo?
O trabalho é uma forma de comunhão social, quer
dizer, cada um faz sua parte para que a sociedade flua melhor. Sendo assim o
trabalho não é algo individual, você não trabalha para seu chefe, você trabalha pra
sociedade como um todo, o salário é uma forma de você trocar seu trabalho pelo
trabalho de outra pessoa e assim por diante. Eu sei que a sociedade não funciona
exatamente desse jeito e existem diversos fatores que interferem, entretanto
não deixa de ser sua base.

Se o seu chefe é um filho da puta, talvez parte
da culpa seja você.
Calma, calma, não estou dizendo que você é sempre
o culpado e que seu chefe é só um reflexo do seu trabalho mal feito. Onde
quero chegar é: precisa existir uma harmonia entre ambas as partes; não adianta
ficar falando mal dele sendo que você mesmo não faz sua parte, assim como ele
não pode ficar explorando sendo que você está fazendo seu trabalho direito. Só
não venha com essas desculpinhas de proletariado preguiçoso “só sou assim
porque ele merece”, não terceirize seus probelmas, porque o trabalho não fica
só entre vocês dois.
Trabalhando para um mundo melhor
Certo, não falarei quem é o assassino pra não
estragar a surpresa caso você assista ao filme, entretanto gostaria de adiantar
a motivação do assassino, então, caso não goste de nenhum tipo de spoiler, pule
para o próximo tópico.
Assim que descobrimos quem é o assassino ele
tenta se colocar como inocente, afinal, como ele poderia ser malvado se ele
estava eliminando empresários corruptos? Ele não é malvado, ele estava fazendo
um trabalho social.
Só para finalizar toda essa discussão sobre
trabalho, o assassino tem uma motivação que ele considera correta para o bem da
sociedade, mas não deixa de ser apenas uma reafirmação de sua ideologia. Ele
não faz porque pensa em um mundo melhor, apesar de acreditar nisso, ele faz
para ele mesmo. Algo que ele acredita ser para o povo não deixa de ser uma ação
individualista, qualquer tipo de ação acaba tendo conseqüências.
Com isso, ele se assemelha àquele que ele mesmo
combate. Quantos empresários não fazem coisas erradas, mas se convencem que
estão fazendo um bem comum? Ambos estão cometendo crimes para tirar alguma
vantagem disso (não digo apenas financeira). Quantas vezes não vemos grandes
empresas fazendo campanhas super legais para melhorar o meio ambiente, ajudar
pessoas menos favorecidas e tal, porém, quando analisamos direito, percebemos
que existe um interesse privado por trás. Lembrem-se amiguinhos, no mundo
corporativo e nesse nosso mundinho como um todo, NADA, absolutamente NADA é de
graça.
Empregados de um lado e chefes do outro, ambos
possuem as mesmas convicções, entretanto um detém o poder e outro não; se
mudarem de lado a história continuará sendo a mesma.
Quando ficar rico devo seqüestrar meus
funcionários e obrigá-los a trabalhar até a morte?

Redd Inc. está muito longe de ser um clássico,
mas faz muito bem aquilo que se propõe a fazer. Tirando um cena ou outra, eu
não o classificaria como trash: ele tem boas cenas de gore, um vilão
interessante, uma crítica bacana e um roteiro cheio de clichês que, apesar
disso, consegue se destacar e prender sua atenção durante todo o filme. (E não podemos esquecer de citar a participação mais que especial de Tom Savini)
O maior mérito do filme são suas reviravoltas que,
até pra quem está acostumado com o gênero, são bacanas, além de ter uma cena
final muito boa.
Assim como 99% dos filmes de terror ele peca por
aqueles detalhes tosquissimos. Lembra aquela cena que o protagonista consegue
desmaiar o vilão, mas não o mata, deixando-o lá pra tirar uma sonequinha e
voltar pra perseguição logo depois? Então, temos algumas coisas do tipo.
Resumindo: Redd Inc. é um filme que vale a pena
dar uma conferida, você vai ver coisas que já viu em diversos outros filmes,
porem de uma maneira diferente e bem executada.
E lembre-se de trabalhar direitinho, vai que seu
chefe é um psicopata e você não sabe...
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