Você é uma daquelas pessoas que vivem sonhando e desejando uma vida
cheia de sucesso, dinheiro e mulheres/homens peladas(os) para te fazer
massagem, colocar uvinhas na sua boca e outras cocitas más? Além disso, não
pode ver uma fonte que vai logo jogando a moedinha e fazendo um pedido, sai
esfregando todas as lâmpadas que encontra pela frente pra ver se sai um gênio
que conceda os tais três desejos?
Fama, dinheiro e mulheres parece algo muito
atrativo, afinal, essa é a finalidade (até agora sem sucesso) desse bloguinho,
mas depois de ver alguns filme eu digo: “Cuidado com seus desejos, eles podem
virar realidade”
Lançamento: 1997 (EUA)
Duração: 90 minutos]
Direção: Robert Kurtzman
Wishmaster
Quem disse que
um gênio iria salvar sua vida com três desejos?
Após
libertar, sem querer, uma antiga entidade, Alexandra passa a ser perseguida
pelo terrível Djinn, que precisa realizar três desejos daquele que o libertou
para retomar seu reinado de caos na terra.
Assim
como diversos filmes que já passaram (e irão passar) aqui pelo Café,
Wishmaster é uma daquelas obras que começam por uma cena retratando certo
passado para contextualizar uma lenda e, só depois, levar o espectador ao
presente e apresenta-lo a história de fato.
O
filme inicia-se no ano 1127, quando um rei (?), como segundo pedido, pede para o Djinn mostrar-lhe coisas maravilhosas, que o surpreenda. Entretanto, a
surpresa que é dada a ele não é bem a que homem esperava, gerando caos e terror
a todos os presentes no local. Antes de realizar seu terceiro desejo um
feiticeiro, consegue aprisionar o “gênio do mal” em uma pedra mágica, evitando
que ele taque o puteiro nesse mundinho.
Centenas
de anos depois, somos levados a um porto onde uma estatua estava sendo
transportada, no entanto, devido a bebedeira de um dos funcionários, a estatua
acaba caindo do gancho e matando uma pessoa. Mais tarde outro funcionário acaba
encontrando uma jóia no meio da estátua quebrada e a revende numa loja de
penhores cujo dono, esperto que é, leva-a para especialistas com o objetivo de
ganhar muito mais do que aquilo que ele ganhou na venda. E é assim a pedra vai
cair na mão de nossa protagonista.
Alexandra
é uma avaliadora de pedras preciosas e, nas horas vagas, treina um time de
basquete infantil. Durante a avaliação, ela acaba esfregando a pedra (tipo a
lâmpada no Aladim, lembra?) e libertando o capetão da historia, que a partir
daí começa a perseguir nossa heroína, a “realizar desejos” e roubar almas por
onde passa.
Objetificação do desejo

Antes
de tudo vamos pensar na “evolução” do monstro em si. O primeiro contato que
temos com ele (no tempo presente) é quando o personagem está preso dentro de
uma pedra preciosa, ou seja, algo muito valioso que desperta desejo de muita gente,
seja para vender e ganhar dinheiro ou para usar como ornamento e se destacar (e
impressionar) no meio de algum grupo. Após a pedra ser inserida em uma maquina
para uma melhor analise, ela acaba libertando o Djinn que – inicialmente -
tem aparência de demônio, todavia,
conforme o Djinn vai realizando desejos e, consequentemente, roubando almas,
ele acaba se tornando mais forte e mais parecido com um humano. Isso diz algo
pra você?
Pegando
essa evolução do Djinn podemos ir um pouco mais a fundo na interpretação da
obra. Tudo começa com um simples objeto (uma pedra) que tem seu valor, mas nada
além disso - e é assim que ela é comercializada pela primeira vez: um leigo que
encontrou e acabou vendendo por um preço qualquer. Logo após quando o comprador passa para
alguem experiente analisar e começam a perceber que existe um valor ali que não
se refere apenas ao objeto, a pedra deixa de ser uma simples pedra e ganha
vida. Assim, conforme esse ex-objeto passa a interagir com as pessoas,
satisfazer seus desejos e roubar suas almas, ele passa a se assemelhar cada vez
mais a um homem.
Com
isso em mente, podemos pensar na humanização do objeto.
Como
assim? Não entendeu?
Eu
explico, jovem bebedor de Café: vivemos em uma tal sociedade
do espetáculo, como já dizia um tal de Debord, que, explicando de maneira bem
resumida, seria a espetacularização de tudo que conhecemos na sociedade, quer
dizer, as coisas não podem ser apenas coisas, elas precisam ser algo mais. Muitas
vezes, por exemplo, quando saímos pra comer não estamos buscando apenas comida,
mas também uma forma de entretenimento, um ambiente diferente, algo que
acrescente valor ao nosso desejo inicial, a comida nessa caso. Podemos pensar igualmente
em roupa: a função da roupa é esconder nossas vergonhas (ou orgulho) e nos
proteger do frio, porém, quando compramos uma, a última coisa que consideramos
é sua utilidade; nós queremos aquela que esteja na moda, que seja feita por
aquele estilista bacana, aquela que nos insira num estilo, etc. A roupa deixa
de ser roupa e passa a ser algo que age em conjunto com sua personalidade, ela
passa a ser algo mais. Não me estenderei muito aqui, mas seguindo essa lógica
você pode começar a pensar em diversas coisas que tem um valor além daquilo que
realmente são e, assim, vai chegar à conclusão que quase tudo em nossa
sociedade é mediado pelo espetáculo para ser algo mais do que apenas um
produto; desde o noticiário na tv até a camisinha que você usa (ou deveria
usar).
Voltando
ao filme. O que era apenas uma pedra passa a ser a fonte de todos os problemas
devido ao seu fortalecimento, seja direto ou indireto. O Djinn é uma criatura
que, apesar do seu poder, só pode utiliza-lo quando um pessoa faz um pedido,
sendo assim, o poder desse ser está, de certa forma, em nossas mãos, assim como
a aura que cerca os objetos que tanto desejamos. Por mais que os objetos ganhem
poder em nossa sociedade, ele só tem esse poder porque nós criamos esse poder, com
isso, se esses objetos promovem preconceito, morte, depressão e coisas mais, é
por nossa culpa; não podemos terceirizar a culpa sendo que nós mesmos
cultivamos essa humanização dos objetos.
Resumindo:
as pessoas perderam o controle sobre as coisas materiais de modo que o produto
passou a controlar o ser humano, roubando sua alma de certo modo. Não se julga
a pessoa pelo o que ela é, mas sim pelo que ela tem, e isso fomenta cada vez
mais aquela coisinha que as agências de publicidade trabalham para despertar em
seus consumidores, o desejo.
E o fogo deu a luz aos Djinns...
Logo
no inicio da história, o narrador diz algo como:
“Deus
soprou a luz e a luz deu vida aos anjos. E a terra deu a luz aos homens. E o
fogo deu a luz aos Djinns, criaturas condenadas a morarem no vazio entre os
mundos.”

Ou
poderíamos pensar na questão do fogo em um sentido menos literal, como uma
representação da cobiça. Indo por esse lado, os Djinns são a representação
oposta da nossa própria cobiça e desejo: sempre estamos desejando algo mas
pensando apenas no lado bom daquilo, nunca pensamos na consequência que aquilo
pode ter, o vilão do filme acaba fazendo isso, ele realiza o seu desejo, mas
sempre pelo lado “negativo”. Como, por exemplo, a garota que pede beleza eterna
e o Djinn a transforma em um manequim - ele realizou o desejo da garota,
entretanto não do modo que ela gostaria.
O
vilão acaba sendo uma forma de mostrar que nós não sabemos o que queremos.
Cuidado com aquilo que desejas...
A
tal pedra que aprisionava o capiroto estava dentro da estátua de um antigo
deus, Ahura Mazda, que, segundo a lenda, a força adversária a entidade era a
própria sombra, ou seja, ela mesmo era a fonte do mal. Está entendendo onde
quero chegar?
Nós
somos como Ahura Mazda: não somos deuses (a não ser que você queira me adorar)
e também não temos uma pedra preciosa dentro de nós (se fossemos um blog “fofo”
falaríamos que temos a pedra mais preciosa dentro de nós que é o coração,
entretanto não somos fofos e muito menos temos coração), porém aprisionamos um
demônio dentro de nós e nossa sombra é perigosa pra caralho.
O
demônio dentro de nós seria o desejo, algo que muitas vezes tentamos controlar
e geralmente não dá certo. E quanta merda não fazemos por culpa disso! Sabemos
que não deveríamos comer aquele hambúrguer com bacon, mas o desejo fala mais
alto, sabemos que se ficar com tal pessoa vai dar merda, mas mesmo assim vamos,
sabemos que aquela propaganda é totalmente manipuladora, mas não conseguimos
resistir, e assim por diante.
Quanto
à questão da sombra, me refiro ao fato de que muitas coisas que fazemos é culpa
nossa, porém indiretamente, dizendo de outro modo, fazemos coisas pensando
naquilo que estamos vendo, não pensamos nas consequências indiretas.
Entendeu
porque fazemos tanta merda? Temos problemas para controlar nossos desejos e, ao
mesmo tempo, não paramos para pensar nas consequências. Os nossos desejos são
perigosos por isso, nem sempre sabemos o que queremos e muitas vezes nosso
desejo é o desejo dos outros.
No
filme, o Djinn é destinado a realizar os três desejos da Alex, mas enquanto ele
não a encontra vai roubando a alma das pessoas, quer dizer, muitas vezes pro
nosso desejo se realizar alguém tem que se foder.
Se eu encontrar o Djinn devo fazer
meu três pedidos?
Claro,
desde que você deseje putar... amor, cachaça e dinheiro. Não me venha com paz mundial,
planeta verdinho e essas baboseiras toda.
Wishmaster
é um clássico dos anos 90 que merece ser visto. Ele está muito mais pra um
filme de terror do que um filme trash: até tem uma cena ou outra bizarra, mas
se dá muito mais pela época do que pelo filme em si.
Apesar
de ter um roteiro simples e previsível, é um filme interessante com boas
atuações e com a participação especialíssima do Robert Englund (nosso
queridíssimo Freddy Krueger).
Enfim,
se você tiver apenas três desejos, gaste com as coisas que citei anteriormente,
mas se você ainda não encontrou nenhum gênio, nenhum(a) gatinha(o) quer realizar
seus desejos e também não tem dinheiro para satisfazer aquele desejo criado
pelas propagandas, vá assistir “Mestre do Desejos” que, apesar de não ser
melhor que dinheiro, sexo e cachaça, dá pra passar o tempo sem entediar.
Trailer
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