Você gosta de
animais? Eles são bonitinhos né? Mas... Já pensou se aquele bichinho que você
sempre adorou se transformasse em um mutante assassino comedor de gente? Você
ainda o amaria e defenderia?
Lançamento: 2006 (Nova
Zelândia)
Duração: 87 minutos
Direção: Jonathan
King
Henry, depois de 15 anos, retorna
pra fazendo onde cresceu para vender sua parte da propriedade para o irmão
Angus, entretanto, durante a estadia na sua velha casa, uma experiência
genética acaba sendo libertada logo ali, transformando ovelhas bonitinhas em
monstros assassinos que, ao morderem pessoas, fazem com que elas sofram
mutações ovelhisticas.
Ovelhofobia
Assim como muitos filmes, Black
Sheep começa mostrando um pouco da infância do personagem com o objetivo de
justificar certas coisas que serão melhor desenvolvidas do decorrer da
história.
Os irmãos nasceram numa fazenda e
o caçula Henry levava mais jeito com o trabalho e, consequentemente, mais
atenção do pai, algo que causava um pouco de ciúmes em Angus. Certo dia, com
raiva do irmão mais novo, o
primogênito mata sua ovelha para assustá-lo, além disso, logo em seguida, ambos
recebem a noticia que seu pai sofreu um acidente e morreu. Ambos os incidentes
acabam produzindo um imenso efeito psicológico em Henry, traumatizando-o de tal
maneira que ele desenvolve fobia de ovelhas.
Quinze anos depois, Henry precisa
voltar para a fazenda para vender sua parte das terras para seu irmão,
entretanto, ele não sabe que o rapaz contratou dois cientistas para fazer
experiências genéticas com ovelhas com o objetivo de conseguir espécimes
perfeitos. Apesar disso, nem mesmo Angus sabe que os cientistas não querem
apenas criar ovelhas perfeitas, mas algo mais que isso.
Para piorar, no meio desse
conflito todo, sabendo que o proprietário da fazenda anda fazendo testes com
animais, dois jovens protetores dos animais e do meio-ambiente invadem a
fazenda com objetivo de roubar algo ou tirar alguma foto e provar os crimes que
acontecem ali, no entanto, ao tentar roubar uma capsula, acabam deixando que
ela caia e se quebre, liberando um pequeno protótipo de ovelha assassina que
sai espalhando psicopatia para as outras e transformando os homens em
“ovelhomens”.
Eco-chatos
Uma das grandes ironias que
percebo no filme é que toda a merda começa por culpa de dois jovens que querem
salvar os animais e o meio-ambiente, ou seja, aqueles que tentam salvar são os
mesmo que espalham todo o problema. Calma, calma, não criemos pânico! Não estou
dizendo que não devamos proteger os animais, ou que são bacanas aqueles testes
tenebrosos que existem por aí, nem nada disso, mesmo porque a merda já estava
acontecendo por debaixo dos panos e a qualquer momento iria de encontro ao
ventilador, os jovens só a anteciparam. Apesar disso, por melhor que fossem
suas intenções, não podemos tirar a responsabilidade deles. O que quero dizer é
que por melhor que a intenção seja, é preciso refletir sobre os atos, se
organizar e encontrar os melhores meios para agir, não apenas se achar o
superman e sair por ai salvando o mundo, porque por mais “certo” que você possa
estar e por melhor que seja a sua causa você ainda é o responsável por suas
ações e as consequências delas.

Desculpe meu pessimismo e minha
mania de destruir suas esperanças de um mundo colorido com unicórnios,
arco-íris e purpurina, mas isso NUNCA vai dar certo, além disso, você se
converterá facilmente no vilão da historia.
Quer dizer que devo ficar em casa
vendo os animaizinhos morrendo e não fazer nada? Não, mas não seria mais
inteligente tentar reunir uma quantidade maior de gente e tentar tomar atitudes
legais ao invés de sair por aí invadindo propriedades alheias sozinho?
Claro é admirável que haja quem
lute por causas em que acreditam ao invés de, sei lá, fazer um blogue
mequetrefe sobre cinema trash e sentar confortavelmente em seus privilégios
sociais, só que alguns desse idealistas acabam deixando que sua causa os
domine, alienando-se do que estão fazendo e se colocando no mesmo nível
daqueles que criticam. No filme, Grant (o jovem ecochato) liberta por acidente
a ovelha infectada que o morde e transforma em um ovelhomem. É como se ele estivesse
sendo possuído pela própria causa, deixando de pensar como um ser humano para
virar o animal que desejava emancipar.
O filme acaba fazendo uma critica
a esses ativistas que aderem a uma causa por moda ou só pra ter algo com que se
revoltar. Não vemos discursos concretos e embasados; todos os argumentos
utilizados são aqueles que já estamos acostumados a escutar: coitadinho do
animal, a mãe natureza, equilíbrio, sustentabilidade, porco fascista e bla bla
bla. Não há também espaço para a opinião do outro, sendo que, em certa
passagem, Henry revela a Experience (a outra jovem ativista) que é irmão de
Angus e, logo em seguida, ela já passa a julga-lo (“Por isso mesmo que tinha
percebido uma aura egoísta em você”) embora ele não soubesse nada a respeito do
que está acontecendo ali. Sendo
assim, podemos ver até certo duplo sentido no nome da garota, “Experience”, ela
é ingênua e só sabe repetir os mesmos discursos que todo mundo fala.
Se pessoas que não se manifestam
são alienadas, será que aquelas que se manifestam, de certa forma, não acabam
sendo também? Particularmente, creio que existe alienação dentro e fora do
ativismo, não é porque você invadiu uma fazenda para salvar animais que será
mais ou menos consciência que qualquer outro. Inclusive, talvez, nesse caso,
esteja se manifestando mais por desejar algum reconhecimento que por uma
convicção própria, como no filme que fica claro que a Experience está ali só
porque foi convencida por outro personagem.
O que quero dizer é o seguinte:
não sejamos ingênuos e acreditemos que as pessoas vão mudar sua relação
confortável com os animais só porque algumas pessoas fazem protesto e dizem que
é errado. Devemos pensar nas pessoas, no sentido de que elas são responsáveis
pelo que elas fazem, ou seja, ficar falando o quão bonitinho é o animal, que
não foram feitos pra comer, que carne é assassinato não vai resolver problemas,
o que as pessoas deveriam fazer de fato é lutar por melhores tratamentos,
criação e condições as quais os animais são
submetidos.
Ovelhas malditas
Uma questão interessante que o
filme nos coloca é: até que ponto nós queremos ajudar os animais. Já discutimos
algo semelhante em “Cannibal Holocaust” e “Night of the lepus”, aliás,
mas em resumo é o seguinte: ainda que os jovens pareçam super engajados em
tentar salvar as ovelhas da mão de Angus, posteriormente, embora continuem
mantendo os mesmos discurso quando os bichos se tornam psicopatas, notamos
nitidamente que mudaram suas atitudes em relação a eles. Experience, por
exemplo, quando vê que os animais não são mais tão bonitinhos quanto aparentam,
deixa de interferir quando é necessário matar algum e até comemora quando atropela
uma ovelha. Sua atitude para com o animal muda de acordo com a situação: ela o
defende quando ele é indefeso, porém, a partir do momento em que ele pode
interferir em sua vida, a porra fica seria. Algo bastante hipócrita, lógico. Se
for para defender os bichos, que seja independente da situação e não somente
quando lhe é conveniente.
É a mesma coisa que ficar postando
no facebook fotos pra ajudar cachorrinhos e gatinhos, todavia, quando aparece
um rato em casa é a primeira pessoa a dar uma vassourada - ambos não são
animais? Ambos não merecem o mesmo direito? Ou mesmo em relação a outras
questões como a alimentação, que já discutimos aqui: matar vacas, porcos e
galinhas é totalmente aceitável, mas quando alguém mata algum animal diferente
para comer é automaticamente crucificado em praça pública. Não é estranho? Por
isso, se você protege os animais, seja coerente: não critique os chineses que
comem cachorro enquanto você tá aí com um pedaço de costela no prato.
Homens, animais e direitos
A principal discussão de Black
Sheep é sobre a ética com os animais, todo o problema gira em torno dos testes
com as ovelhas, então, podemos nos questionar se eles são aceitáveis ou não.
Para os jovens não; para o fazendeiro sim. Será que algum deles está certo?
Eu responderia o seguinte:
depende.
Se olhado de perto, no entanto,
veremos que esse argumento obedece um critério puramente prático, em outras
palavras, ele nos diz que ganhamos benefícios sociais se escolhermos agir como
ele deseja e que, por isso, devemos agir como ele deseja. Qual o problema
nisso? Bom, para responder isso precisamos entrar no campo dos valores
pessoais, isto é, da moral. Se você acha que “buscar o bem da sociedade” é um
critério aceitável (sozinho) para mediar nossa relação com os animais,
provavelmente concordará com o fazendeiro; contudo, caso creia que isso não é
só o que vale, acabará discordando dele.
Tanto num caso como no outro nos
debatemos com alguns fatos inconvenientes: manipular os bichos, matá-los, abrir
seus crânios vivos para estudar medulas no interior de seus cérebros, comer
seus corações no churrasco, suas peles no almoço, vendê-los em lanches para as
crianças, tudo isso é muito bom para nossa vida prática: produz alimentos,
remédios e tantas outras coisas de que dependem nosso cotidiano e conforto; todavia,
em qualquer um desses casos, embora seja grande o benefício que traz, não
podemos deixar de notar que se trata de um imenso abuso de nossa parte que
submete os bichinhos, por serem indefesos diante de nosso poder, a relações
bárbaras as quais não achamos aceitáveis de se ter com outros humanos. Fazemos
indiscriminadamente com os bichos aquilo que consideraríamos horroroso praticar
com seres humanos; eles estão apartados de nossas caríssimas relações morais.
Minha opinião é a seguinte:
precisamos ter uma ética com os animais que independa do “uso” que damos a eles
(alimentação, testes, criação) e tudo aquilo que vá contra isso deveria
produzir alguma punição (para nós, claro), em outras palavras, acho que devemos
primeiro estabelecer o que pensamos sobre os bichos, o que podemos ou não fazer
com eles e por eles e, depois, só depois, tentarmos conciliar nossas questões
práticas com essa moral.
Devo fazer experiências
genéticas com uma ovelha?
Ovelhas assassinas segue a mesma
linha de filmes de zumbis, mas com ovelhas no lugar dos devoradres de cérebros.
É um trash super bem feito e divertido. Aliás, seus efeitos especiais foram
feitos pela Weta, a mesma que fez os efeitos de Senhor dos anéis.
O filme que consegue mesclar cenas
bizarras com cenas bucólicas, campos abertos, ovelhas e trilha sonora muito bem
feita. Temos cenas de transformação homemXovelha, ovelhas devorando cadáveres,
massacrando um grupo de executivos, zoofilia, sangue, tripas e tudo aquilo que
adoramos.
Melhor dizendo, eis um filme
obrigatório para todos os fãs do gênero, que consegue trazer um pouco das
bizarrices dos anos 80 em uma época carente pro-gênero.
Trailer:
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