sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Resenha: Um drink no inferno (From dusk till dawn)


            Você é daqueles/as que gostam de conhecer novos bares, descobrir novos ambientes pra curtir a noite com os amigos? Gosta de frequentar lugares diferentes com pessoas legais pra sair da rotina? Prefere ir a lugares alternativos, mesmo que não seja dos mais agradáveis, porque não suportas a festinhas em que todas as pessoas comuns vão?
           Então, hoje o Café apresenta uma nova “balada” para curtir com seus amigos. Banda ao vivo, muitas bebidas, dançarinas boazudas, brigas de bar,  jogos de baralho e... VAMPIROS.
Prepare seu colar de alho, ajeite seu crucifixo, coloque a agua benta ao alcance de suas mãos, afie suas estacas, porque hoje nós vamos tomar um drink no inferno!




Título original: From dusk till down
Lançamento: 1996 (EUA)
Duração: 108 minutos
Direção: Robert Rodriguez





Bora virar umas tequilas no Titty Twister

          Dois irmãos, Seth e Richard Gecko, fugitivos da policia norte-americana, precisam chegar num bar do outro lado da fronteira para fazer uma grande transação. Deixando trilhas de sangue por onde passam, eles sequestram uma família (um pai e seus dois filhos) para conseguir atravessar a fronteira mexicana. Porém, chegando no “Titty Twister” (local combinado) eles estão prestes a tomar um drink no inferno.

Rule number one: No noise, no question. You make a noise... Mr. 44 makes a noise.


          O filme pode ser dividido em duas partes: antes de atravessar a fronteira e depois de atravessar a fronteira. Digo que pode ser dividido em dois, pois se o filme tomasse um rumo completamente diferente depois da fronteira não estranhariamos nem um pouco, e se o filme começasse diretamente da segunda parte também seria compreesivel (apenar de não termos personagens desenvolvidos, coisa muito normal em cinema trash).
Essa primeira parte temos um filme de ação com pitadas tarantinescas sem saber exatamente onde o filme quer levar após a fronteira, ele vai matar a família? Vão ser pegos pela policia? Vão fazer a transação e todo mundo vive feliz pra sempre? A questão, eu acho, é que esse é um tipo de filme que a sinopse e a capa estragam um pouco a experiência. Se o assistirmos sem escutar nada sobre ele, até metade do filme, mais ou menos, não imaginaríamos que se trata de uma história sobre vampiros.
Na primeira parte temos um foco nos irmãos Gecko, na qual somos apresentados aos personagens e suas histórias. Apesar de irmãos, Seth e Richie são bem diferentes entre si; Seth é uma pessoa mais controlada, segundo ele mesmo, “é um profissional”, só mata quando necessário; já Rich é sádico, pervertido e nitidamente perturbado, não liga em deixar trilhas de Tripas por onde passa. Richie e Seth precisam atravessar a fronteira, mas como são criminosos procurados por diversos crimes não podem simplesmente atravessar, então para conseguir entrar no México sequestram uma família que acabou de comprar um trailer, com o objetivo de viajar e sair um pouco da rotina para ajudar a superar a morte da mãe. Tanto a família quanto os irmãos estão passando por problemas, a travessia da fronteira representa certa esperança pra ambos: os irmãos pegam a grana e se livram da policia estadunidense e a família se livra dos bandidos e podem voltar pra sua viagem, entretanto, isso tudo é apenas uma ilusão.

Come on, you want pussy, come on in, pussy lovers!

Porém, na segunda parte a história muda bastante de foco, e a sobrevivência toma o lugar da fuga. Com os personagens já desenvolvidos, jogamos o roteiro de lado e pegamos os baldes de sangue. Assim que os personagens entram no Titty twist sabemos que algo vai acontecer naquele local, afinal temos ali o Danny Trejo, e Trejo é sinonimo de confusão. 

Daí pra frente o bar vai ser, praticamente, o único cenario do resto do filme. Começamos a perceber uma mudança no comportamento dos personagens, os irmãos passam a ficar mais amigaveis e a familia começa a interagir melhor com os bandidos. País novo vida nova? Talvez.
O fato é que tudo estava bom de mais pra ser verdade: os irmãos além da fronteira prestes a pegar uma boa grana, a familia quase se livrando dos bandidos e todo mundo “comemorando” com musica ao vivo e álcool... Afinal, o que seria comemorar sem alcool? Mas, enfim... A questão é que: se as coisas tão boas, vamos tacar um monte de vampiros e foder com tudo.
A primeira parte, apesar das piadinhas, parece construir um filme sério, mas a segunda desanda totalmente. Strippers vampiras, um cara com uma pistola na virilha que simula uma piroca, brigas de bar, gente gritando “pussy” pra tudo que é lado, etc.
Quer dizer que o filme fica ruim? Sim, mas no bom sentido, deixamos o realismo e a história de lado e mergulhamos no Trash tão adorado pelos cafeinados apreciadores de Tripas.

Sangue, tequila, peitos e vampiros

Uma das coisas interessantes (ou não) nos filmes sobre vampiros é que, apesar de manterem umas características padrões (estacas, não pode ficar exposto ao sol, repulsa a cruz, agua benta e etc.), cada um trabalha o conceito de vampiro como quiser. Filmes como “Entrevista com o vampiro” e “Rainha dos condenados” tem sanguessugas sensuais e galanteadores; filmes como “Nosferatu” tem monstros feios; em “Lost Boys” há vampiros aparentemente normais que, quando “ameaçados”, mudam de aparência, e assim por diante. 
Já em “From dusk till down” os vampiros possuem aparências normais (algumas vampiras... ahhhh, meu deus), mas que se transformam e mudam de aparência. A stripper vampira (que parece ser a mais forte) assume uma pele como de um lagarto, enquanto os outros apenas ficam feios pra cacete.
A segunda parte, se resume a um filme trash bem feito, compensa todo o desmembramento, brigas, latinos badass, sangue e bizarrices que são escassos na primeira parte. Há ali um intenso conflito dos personagens com os vampiros, o que significa porrada, sangue, fogo, tiros e ação. (Vale à pena prestar atenção na banda que toca no bar, Tito & Tarantula, que, assim que todo mundo começa a virar vampiro, passa a tocar instrumentos feitos de pedaços humanos).

What's your name, girlie? Kate. What's yours? Sex Machine. Pleased to meet you, Kate.


           Algo que pode passer despercebido mas é interessante é o momento no qual os sobreviventes estão limpando o salão (enfiando estacas em todos que estão no chão pra ter certeza que estão mortos). Tom Savini sai com sua estaca enfiando em tudo que encontra (não pense besteira amiguinho/a), enquanto a jovem não consegue agir, ficando naquele “enfio ou não enfio a estaca?”. Talvez isso esteja relacionado com sua formação cristã, já que seu pai era um pastor, e qualquer forma de violencia seria um pecado, mesmo com o diferente. Entretanto, no primeiro momento no qual o vampiro se meche, ela não hesita em atravessar o coração do vampirão. Fica a pergunta: somos cristãos até o momento que convem? Perante qualquer ameaça esquecemos os ensinamentos de Gizuis e agimos a nosso favor?

So what are you, Jacob? A faithless preacher? Or a mean motherfuckin' servant of God?

            Na primeira parte do filme sabemos que Jacob (o pai da família) era um pastor, mas que, logo depois da morte da esposa, passou a questionar a própria fé. Inclusive, em certo momento, sua filha pergunta algo como “Você ainda acredita em Deus?” e ele responde: “Sim, acredito. Mas se o amo? Não”.
            Isso abre diversas questões, será que Deus é tão justo quanto as pessoas falam ou esperam que ele seja? Se sempre fui fiel a ele e ele tira aquela que amo de mim, qual a razão de eu manter minha fé?
Uma coisa que sempre achei estranha é que para os religiosos não importa se acontece algo bom ou ruim, sempre foi um ato inteligente de Deus, nunca uma ação estúpida humana. Se alguem ganha um prêmio agradecem a Deus, mesmo o cara tendo ralado que nem um filho da puta pra conseguir aquilo; se uma tragédia ocorre, dizem que foi um ato planejado de Deus. Será que nunca ninguem questiona isso? Será que ele realmenente sabe o que faz?
            Voltando ao filme, na segunda parte os questionamentos continuam. Os personagens falam “não acredito em vampiros, mas acredito no que vi”, isso não seria algo contraditório? Eles acabaram de ser atacados por vampiros mas ainda dizem “não acreditar”, sendo que, pelo menos o padre, sempre acreditou em algo que nunca viu. Muitas vezes, as pessoas religiosas acabam sendo mais “céticas” que ateus, acreditam apenas naquilo que querem, mas ignoram tudo aquilo que está em volta dela e que pode ser visto.

            Por outro lado, também podemos ver uma certa hipocrisia ateista, aquela história de “todo mundo é ateu... até a menstruação atrasar”. Quando todos param e decidem pensar na melhor maneira de agir, Seth diz que o pastor é a melhor arma por ser um servo de Deus, mesmo tendo perdido a fé, ele é a unica pessoa que pode ajudar, mesmo Seth dizendo que até meia hora atrás está pouco se fudendo pra Deus, ou seja, não acredito, mas por via das duvidas vamos tentar pedir pra Deus, né?
            Podemos interpretar esse resgate de fé do pastor de duas maneiras: 1) por mais que você fuja de Deus, ele sempre vai estar no seu caminho pra testar sua fé. 2) a agua tá batendo na bunda, vamo apela pra divindade.
            Mas... Foda-se nossa fé, queremos mais sangue!

Devo tomar um drink no inferno, from dusk till down?


Com certeza, nada melhor que a combinação peitcholas, tequila e sangue, não é mesmo?
O filme é dirigido pelo Robert Rodriguez e produzido pelo Tarantino, dois badass do cinema “atual”. No elenco temos George Clooney e Tarantino como personagens principais, mas também temos Danny Trejo, Tom Savini, Juliette Lewis, entre outros. A trilha sonora é fantástica, temos Tito & Tarantula tocando no bar durante o show. A fotografia é muito boa, o cenário do bar combina perfeitamente com o clima do filme. Apesar de ser um filme da decada de 90, ele tem clima de filme dos anos 80, com todo aquele exagero que tanto adoramos.
Se você ainda não assistiu, reuna seus amigos, compre umas garrafas de tequila, coloque um colar de alhos e vá tomar um drink no inferno agora mesmo.

Trailer:

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