Semana passada ocorreu o dia das
crianças e para não deixar essa data tão importante passar em branco o Café,
como vocês já devem ter percebido, traz como tema da semana essa época tão
bonita e divertida... Ou não. E como não existe nada que lembre mais a infância que
brinquedos, esse blog fedido, sujo e cheio de Tripas traz para nossos
queridos leitores um brinquedo nem um pouco divertido, que pode até ser
bonitinho, mas tem o mal dentro de si.
Bote seu disco da Xuxa na vitrola,
abra sua caixa de bombons do Looney tunes e pegue a faca que existe dentro de
seu Fofão, porque a “Boneca Assassina” está querendo brincar...
Título
original: Dolly dearest
Lançamento: 1991
Duração: 93 minutos
Direção:
Maria Lease
Dolly dearest
Boneca assassina
Ela quer ser sua amiguinha
Uma família se muda para o México
com intenção de reativar uma antiga fábrica de bonecas que acreditam ter muito
potencial de mercado, porém, o que eles não sabem é que um espirito maligno foi
libertado de uma escavação ao lado da fábrica.
Nem
tudo são lindas bonecas
O
filme já começa com uma cena que todos que já assistiram pelo menos uns três
filmes de terror conhece: um arqueólogo numa de suas escavações acaba
libertando algum parente do tinhoso e blá blá blá - aquela história de sempre. Logo
depois, pra variar, somos jogados no presente (jura?) e vemos a família no
avião indo pra sua nova casa, sonhando com o enriquecimento pela venda de
bonecas.
Ao
chegar à fábrica começamos a pensar naquela velha ideia: “quando a esmola é
muita o santo desconfia”, pois, antes disso, Elliot Wade (o pai da família)
acreditava que iria ganhar dinheiro fácil, afinal ele tinha virado dono de uma
fábrica de bonecas que já tinha certo nome no mercado, mas ao chegar lá,
percebe que existem algumas barreiras entre seu sonho e a realidade. A fábrica
estava fechada desde a morte de sua antiga dona, não estando, portanto, nas
melhores condições físicas. Apesar disso, ao encontrar algumas bonecas na
fábrica ele volta a acreditar que seu futuro está ali (“toda garotinha do
mundo vai ter uma boneca igual a essas.”).
Sua
filha Jessica pega uma delas e o que era pra ser um simples brinquedo vira o
terror da família.
Kids with feelings like you and me, Understand him, he'll understand you…
Geralmente, quando os pais precisam tomar alguma
decisão mais séria - como no exemplo do filme, mudar de cidade e país - eles
desconsideram a opinião infantil, tratando seus filhos como se tivessem que
aceitar suas decisões e pronto. Lógico que algumas coisas falam mais alto, mas
em alguns momentos é preciso pensar na criança, conversar com ela para que ela,
pelo menos, se sinta pertencente à decisão.
No
inicio percebemos que Jessica não está feliz: ela está indo pra longe de suas
amigas e não consegue se afeiçoar ao lugar, tanto que continua escrevendo para as
antigas companheiras; enquanto isso seu irmão Jimmy está lendo um livro chamado
“Porque coisas ruins acontecem com crianças boas?” (talvez representando um
pouco seu estado de espírito). Quando chegam a sua nova casa, percebemos que
faltou planejamento para adaptar as crianças ao ambiente. Ambas parecem ter
gostado da casa em si, mas não há notícias de escolas ou de um possível contato
com crianças diferentes. Isso faz com que cada um deles acabe procurando formas
de “diversões solitárias”: Jimmy acaba fica fascinado pela escavação ao lado da
fábrica de bonecas, vendo-a como uma grande aventura; já Jessica se apega ardorosamente
à boneca que acaba de ganhar do pai.
I
want my dolly!
Pouco
depois que ganha a boneca Jessica começa a se apegar bastante ao presente. Podemos
atribuir isso ao fato de que ela se mudou com a família para um lugar novo,
onde não conhece ninguem. Por isso, sem amigas, a menina apela à solução de
manter um relacionamento de amizade com algo que possa diverti-lá, mesmo que
seja “ela mesma”.
Apesar
de ser uma boneca demoníaca - portanto perigosa - podemos pensar na importância
do brinquedo durante a infancia. Por não ter amigas próximas na nova cidade, Jessica
acaba transferindo todo o sentimento de amizade para um objeto. Essa é uma
forma de estar sempre acompanhada mesmo sozinha. Entretanto, se pensarmos em
casos concretos (e que não envolvam bonecas possuídas pelo capeta), notaremos
que esse tipo de comportamento pode levar a um isolamento da criança em relação
às outras. Não digo que não seja importante ter brinquedos, mas, ao passo que a
criança precisa de itens de diversão, também precisa de amigos para que possa
interagir com pessoas reais de sua idade.
A
boneca é apenas um exemplo disso, podemos ampliar a categoria “brinquedo” para
video-games, computadores, celulares e etc. Quantas vezes não vemos crianças
que ficam presas em casa (muitas vezes por culpa dos pais) porque preferem
ficar em algo imaginario ou virtual do que real?
É
fato que o brinquedo é algo essencial no desenvolvimento da criança, mas não
podemos jogar todas as responsabilidades em algo inanimado.
Play with this, bitch!
Não
entendo tanto do assunto, mas acho que ao isolar a criança de um mundo “orgânico”
e mantê-la em algo totalmente comercial, há um estimulo a uma espécie de
“fetichismo de mercado” em que a criança só atinge a felicidade (momentânea)
quando compra e ganha coisas novas. Mesmo que comece a interagir com outras
pessoas, essa relação vai existir mais pra mostrar a eles suas posses que para
um relacionamento social saudável. Sim, é mais ou menos a mesma história do
garotinho que é dono da bola e só entra no jogo pra mostrar que tem um item
valioso, sendo que, por possuí-lo enquanto os outros não podem; se sente no
direito de intervir quando bem entende.
Por
mais que pareça surreal, não acho que existiria muita diferença se
substituirmos o demônio do filme por uma entidade chamada “capetalismo”,
conhece? Em diversos momentos Jessica começa a ser dominada pela boneca. Por
mais fantasioso que possa parecer, vemos coisas assim quase todo dia em nosso
querido e odioso mundo - ou vai falar que você nunca leu noticias de pessoas
que mataram outras por que precisavam de dinheiro pra comprar alguma coisa
totalmente supérflua? Nunca viu crianças que se jogam no chão no meio do
shopping porque querem um brinquedo e a mãe não quer comprar? A propaganda vem
a ser tão forte que, muitas vezes, fala mais alto que o autocontrole humano,
principalmente em crianças que nem sempre compreendem a questão do dinheiro
e o fato que o amiguinho tem algo legal e ela não. A triste verdade é: somos
bombardeados com informações e qualquer pessoa que não saiba diferenciar e compreender
certas coisas, acaba sofrendo com essa grande sociedade do espetáculo em que
vivemos.
Brincadeira
de criança, como é bom, como é bom...
“Dolly
dearest” parece um daqueles filmes feitos pra pegar carona no sucesso de outro
filme, no caso, “Brinquedo assassino” (Child’s Play), que fez sucesso por
contar a história de um assassino que antes de morrer fez um ritual para
transfeir sua alma para um brinquedo (algo bastante semelhante, por sinal, a
“Biscoito Assassino”). Não temos nada de inovador no filme, pois, apesar das
diferenças, percebemos que a Dolly é muito copiada inspirada no Chucky. Porém,
não só nele. É possível fazer um paralelo com “A Profecia” e “Poltergeist”
também, dado que não há apenas um assassino encarnado em um boneco, mas sim uma
entidade sobrenatural que tem a capacidade de ir além do pedaço de plástico,
influenciar a criança e “assombrar” a casa.
A fotografia e trilha não tem nada
a dizer, ficam no genérico: nada que surpreenda; nada que incomode.
Devo
doar meu Chucky e comprar uma Chucka?
Não,
“Dolly” é um filme divertido pra passar o tempo. Temos cenas toscas que irão
botar sorriso no rosto de qualquer fã de trash. Temos também mortes bizarras, escavações
arqueológicas, e, claro, cenas em que a boneca surge correndo, que, aliás, são
sensacionais. Entretanto, o filme não consegue ser tão bom quanto o nosso
querido “Brinquedo assassino”.
“Boneca
assassina” é um filme que não vai lhe agregar nada de novo. É um apanhado de
diversos clichês bem conhecidos por nós, contudo, isso não significa que ele
não deve ser visto. Na verdade, se você gosta de trash (é por isso que estamos
aqui, não?), não tem como deixar passar um filme no qual uma boneca possuída
por uma entidade capetística antiga sai por ai matando todo mundo que possa
interferir no amor entre ela e sua dona. Brinque e se divirta.
Trailer:
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