sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Resenha: Boneca assassina (Dolly dearest)


            Semana passada ocorreu o dia das crianças e para não deixar essa data tão importante passar em branco o Café, como vocês já devem ter percebido, traz como tema da semana essa época tão bonita e divertida... Ou não. E como não existe nada que lembre mais a infância que brinquedos, esse blog fedido, sujo e cheio de Tripas traz para nossos queridos leitores um brinquedo nem um pouco divertido, que pode até ser bonitinho, mas tem o mal dentro de si.
            Bote seu disco da Xuxa na vitrola, abra sua caixa de bombons do Looney tunes e pegue a faca que existe dentro de seu Fofão, porque a “Boneca Assassina” está querendo brincar...




Título original: Dolly dearest
Lançamento: 1991
Duração: 93 minutos
Direção: Maria Lease





Dolly dearest
Boneca assassina
Ela quer ser sua amiguinha

            Uma família se muda para o México com intenção de reativar uma antiga fábrica de bonecas que acreditam ter muito potencial de mercado, porém, o que eles não sabem é que um espirito maligno foi libertado de uma escavação ao lado da fábrica.

Nem tudo são lindas bonecas


            O filme já começa com uma cena que todos que já assistiram pelo menos uns três filmes de terror conhece: um arqueólogo numa de suas escavações acaba libertando algum parente do tinhoso e blá blá blá - aquela história de sempre. Logo depois, pra variar, somos jogados no presente (jura?) e vemos a família no avião indo pra sua nova casa, sonhando com o enriquecimento pela venda de bonecas.
            Ao chegar à fábrica começamos a pensar naquela velha ideia: “quando a esmola é muita o santo desconfia”, pois, antes disso, Elliot Wade (o pai da família) acreditava que iria ganhar dinheiro fácil, afinal ele tinha virado dono de uma fábrica de bonecas que já tinha certo nome no mercado, mas ao chegar lá, percebe que existem algumas barreiras entre seu sonho e a realidade. A fábrica estava fechada desde a morte de sua antiga dona, não estando, portanto, nas melhores condições físicas. Apesar disso, ao encontrar algumas bonecas na fábrica ele volta a acreditar que seu futuro está ali (“toda garotinha do mundo vai ter uma boneca igual a essas.”).
            Sua filha Jessica pega uma delas e o que era pra ser um simples brinquedo vira o terror da família.

Kids with feelings like you and me, Understand him, he'll understand you…

            Geralmente, quando os pais precisam tomar alguma decisão mais séria - como no exemplo do filme, mudar de cidade e país - eles desconsideram a opinião infantil, tratando seus filhos como se tivessem que aceitar suas decisões e pronto. Lógico que algumas coisas falam mais alto, mas em alguns momentos é preciso pensar na criança, conversar com ela para que ela, pelo menos, se sinta pertencente à decisão.
            No inicio percebemos que Jessica não está feliz: ela está indo pra longe de suas amigas e não consegue se afeiçoar ao lugar, tanto que continua escrevendo para as antigas companheiras; enquanto isso seu irmão Jimmy está lendo um livro chamado “Porque coisas ruins acontecem com crianças boas?” (talvez representando um pouco seu estado de espírito). Quando chegam a sua nova casa, percebemos que faltou planejamento para adaptar as crianças ao ambiente. Ambas parecem ter gostado da casa em si, mas não há notícias de escolas ou de um possível contato com crianças diferentes. Isso faz com que cada um deles acabe procurando formas de “diversões solitárias”: Jimmy acaba fica fascinado pela escavação ao lado da fábrica de bonecas, vendo-a como uma grande aventura; já Jessica se apega ardorosamente à boneca que acaba de ganhar do pai.

I want my dolly!

            Pouco depois que ganha a boneca Jessica começa a se apegar bastante ao presente. Podemos atribuir isso ao fato de que ela se mudou com a família para um lugar novo, onde não conhece ninguem. Por isso, sem amigas, a menina apela à solução de manter um relacionamento de amizade com algo que possa diverti-lá, mesmo que seja “ela mesma”.
            Apesar de ser uma boneca demoníaca - portanto perigosa - podemos pensar na importância do brinquedo durante a infancia. Por não ter amigas próximas na nova cidade, Jessica acaba transferindo todo o sentimento de amizade para um objeto. Essa é uma forma de estar sempre acompanhada mesmo sozinha. Entretanto, se pensarmos em casos concretos (e que não envolvam bonecas possuídas pelo capeta), notaremos que esse tipo de comportamento pode levar a um isolamento da criança em relação às outras. Não digo que não seja importante ter brinquedos, mas, ao passo que a criança precisa de itens de diversão, também precisa de amigos para que possa interagir com pessoas reais de sua idade.
            A boneca é apenas um exemplo disso, podemos ampliar a categoria “brinquedo” para video-games, computadores, celulares e etc. Quantas vezes não vemos crianças que ficam presas em casa (muitas vezes por culpa dos pais) porque preferem ficar em algo imaginario ou virtual do que real?
            É fato que o brinquedo é algo essencial no desenvolvimento da criança, mas não podemos jogar todas as responsabilidades em algo inanimado.

Play with this, bitch!

            Não entendo tanto do assunto, mas acho que ao isolar a criança de um mundo “orgânico” e mantê-la em algo totalmente comercial, há um estimulo a uma espécie de “fetichismo de mercado” em que a criança só atinge a felicidade (momentânea) quando compra e ganha coisas novas. Mesmo que comece a interagir com outras pessoas, essa relação vai existir mais pra mostrar a eles suas posses que para um relacionamento social saudável. Sim, é mais ou menos a mesma história do garotinho que é dono da bola e só entra no jogo pra mostrar que tem um item valioso, sendo que, por possuí-lo enquanto os outros não podem; se sente no direito de intervir quando bem entende.

            Por mais que pareça surreal, não acho que existiria muita diferença se substituirmos o demônio do filme por uma entidade chamada “capetalismo”, conhece? Em diversos momentos Jessica começa a ser dominada pela boneca. Por mais fantasioso que possa parecer, vemos coisas assim quase todo dia em nosso querido e odioso mundo - ou vai falar que você nunca leu noticias de pessoas que mataram outras por que precisavam de dinheiro pra comprar alguma coisa totalmente supérflua? Nunca viu crianças que se jogam no chão no meio do shopping porque querem um brinquedo e a mãe não quer comprar? A propaganda vem a ser tão forte que, muitas vezes, fala mais alto que o autocontrole humano, principalmente em crianças que nem sempre compreendem a questão do dinheiro e o fato que o amiguinho tem algo legal e ela não. A triste verdade é: somos bombardeados com informações e qualquer pessoa que não saiba diferenciar e compreender certas coisas, acaba sofrendo com essa grande sociedade do espetáculo em que vivemos.

Brincadeira de criança, como é bom, como é bom...


            “Dolly dearest” parece um daqueles filmes feitos pra pegar carona no sucesso de outro filme, no caso, “Brinquedo assassino” (Child’s Play), que fez sucesso por contar a história de um assassino que antes de morrer fez um ritual para transfeir sua alma para um brinquedo (algo bastante semelhante, por sinal, a “Biscoito Assassino”). Não temos nada de inovador no filme, pois, apesar das diferenças, percebemos que a Dolly é muito copiada inspirada no Chucky. Porém, não só nele. É possível fazer um paralelo com “A Profecia” e “Poltergeist” também, dado que não há apenas um assassino encarnado em um boneco, mas sim uma entidade sobrenatural que tem a capacidade de ir além do pedaço de plástico, influenciar a criança e “assombrar” a casa.
            A fotografia e trilha não tem nada a dizer, ficam no genérico: nada que surpreenda; nada que incomode.

Devo doar meu Chucky e comprar uma Chucka?



            Não, “Dolly” é um filme divertido pra passar o tempo. Temos cenas toscas que irão botar sorriso no rosto de qualquer fã de trash. Temos também mortes bizarras, escavações arqueológicas, e, claro, cenas em que a boneca surge correndo, que, aliás, são sensacionais. Entretanto, o filme não consegue ser tão bom quanto o nosso querido “Brinquedo assassino”.
            “Boneca assassina” é um filme que não vai lhe agregar nada de novo. É um apanhado de diversos clichês bem conhecidos por nós, contudo, isso não significa que ele não deve ser visto. Na verdade, se você gosta de trash (é por isso que estamos aqui, não?), não tem como deixar passar um filme no qual uma boneca possuída por uma entidade capetística antiga sai por ai matando todo mundo que possa interferir no amor entre ela e sua dona. Brinque e se divirta.

Trailer:

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