Hoje
temos um filme que foge da poesia. Deixemos o papel e a caneta de lado e vamos
pegar nossas jaquetas de couro, nossas possantes e sair pela cidade levando
caos e anarquia. motoqueiros anarquistas mortos-vivos é o que tem pra hoje,
pois, apesar de pagarmos de cult e adoradores de poesia e arte, na verdade
somos Psychomaníacos.
Título original: Psychomania
Lançamento: 1971
Duração: 85 minutos
Direção: Don Sharp
Duração: 85 minutos
Direção: Don Sharp
Psychomania
Morrer para viver
Morrer para viver
Psychomania é um daqueles filmes que eu
não consigo classificar o gênero. Ele é normalmente considerado terror, porém,
não diria que o é, pois não vejo nele nenhuma tentativa de assustar, ademais,
também não lembro ter visto sangue nem cenas que sejam realmente violentas. Apesar
disso, ele se enquadra bem no Café por ser um filme B pouco
conhecido, que, apesar não ser uma maravilha, sai um pouco do convencional.
Motoqueiro, couro, suicidio, sapos... Explica
isso ai direito
Tom é um jovem motociclista “Vida Loka”
que sai por aí, junto com seus amigos, tocando o terror na cidade. Após entrar
em um “quarto secreto” da sua casa e ter umas visões estranhas, ele descobre
que ao cometer suicidio ele voltara com vida eterna. Tom se mata e, logo depois,
um por um, cada membro de sua gangue “The Living Dead” se suicida e retorna
para causar ainda mais caos na cidade.
O filme já começa com Tom e sua
tchurma (que usam capacetes com desenho de caveira que mais parecem coelhinhos,
jaquetas de couro com seus nomes inscritos na frente e “The Living Dead” atrás)
causando terror na cidade, fazendo com que um inocente motorista que cruza o
caminho deles acabe atravessando a janela e morrendo (a cena é bizarra e não
faz sentido nenhum). Podem me crucificar e/ou botar na fogueira, mas acho que
podemos comparar Tom e sua gangue com Alex e seus drugues (escuto alguem
comentando ao fundo “Que heresia”). Lógico que o filme passa longe, aliás,
muito longe da genialidade de “Laranja Mecânica”, mas ambos os protagonistas são
jovens inconsequente que possuem amiguinhos semelhantes a eles que, por tédio e
diversão decidem matar, roubar e cometer crimes.
Logo após a cena, Tom está com sua
namorada no local onde o grupo se reúne quando começa a surgir o tema central
do filme: o suicídio. Entre as conversas, pegação e o sapo que Tom captura no
meio do mato e coloca dentro da jaqueta, surge um dialogo superinteligente:
Abby:
- Atravessar?
Tom:
- Para o outro lado.
Abby:
- Como faremos isso?
Tom:
- Nos mataremos.
(...)
Abby:
- Ah, sinto muito, eu não posso.
Tom:
- Por que não?
Abby:
- Bem, eu prometi pra minha mãe que a ajudaria a fazer as compras de manhã. (Oi? Sim, fiz essa mesma cara que você ta
fazendo agora)
(...)
Tom: - Bem, mas nós voltaremos, e vai ser tudo melhor (P*rr*, pra que você vai se matar se você quer voltar?)
Tom: - Bem, mas nós voltaremos, e vai ser tudo melhor (P*rr*, pra que você vai se matar se você quer voltar?)
Enfim, voltemos para o filme. Após a
cena Tom volta pra casa e guarda o sapo que capturou e, sem motivo nenhum e
qualquer sem música, começa a dançar com sua mãe enquanto ela fala sobre os
policiais e ele ensina a ela algumas girias. Em seguida, ele volta a conversar
com sua mãe sobre mortos que retornam e sobre um quarto que está trancado desde
que seu pai morreu, há uns 18 anos. Chantageando a mãe ele consegue a chave do
local, sendo antes avisado pelo mordomo que o quarto poderia acabar com ele.
Ele lhe dá um medalhão (que tem a figura de um sapo) para protegê-lo.
Long
live to The Living Dead
Nosso anti-heroi entra no quarto que tem
apenas um espelho em seu interior, começando a ter umas visões loucas de LSD nas
quais aparece um sapo e, depois, alguns flashbacks sobre sua infancia e sua mãe
fazendo um pacto com alguem todo de preto, provavelmente o “coisa ruim”. Após
isso Tom descobre que o segredo para ressucitar é acreditar que vai voltar, e
seu pai morreu porque hesitou no ultimo momento.
Nesse momento Tom fica ainda mais
inconsequente e decide que vai se matar para retornar como imortal, e é isso
que ele faz. Mais tarde, um a um os membros de sua gangue começam a seguir o
lider, cometendo os suicidios mais sem noção possiveis.
Não sou eu quem assusta você, é o mundo
O filme questiona diversas vezes o
sentido da vida – e calma, ele não quer discutir de onde viemos, pra onde
vamos, quem nos criou, existencia de Deus, se extraterrestres e pokemons
existem (ahhh, como eu queria ter um pikachu) etc. Ele se propões ficar no “Se
todos morreremos algum dia, por que viver?”, algo que, querendo ou não, faz
sentido. Qual seria o sentido de ficarmos vivos trabalhando, aguentando chefes,
brigando por dinheiro e todo o resto se todos vamos acabar comendo planta pela
raiz? Não seria mais fácil nos matarmos agora e adiantar todo o processo? (Não,
pelo amor de Goku, não se matem, estou falando sobre o filme, não estou querendo
influenciar ninguém a se jogar da janela, da ponte, na frente do carro nem nada
do tipo).
No inicio do filme, após Tom falar
com Abby sobre suicidio ele fala: “Não sou eu quem assusta você, é o mundo”,
essa frase me fez pensar bastante sobre como vemos a morte. Será que nosso medo
da morte é natural ou é algo construído socialmente? Afinal, vemos que em
diversas sociedades as pessoas estão dispostas a dar a vida por algo em que acreditam
(geralmente construída pela religião, mas pode ser morrer por um ideal qualquer),
talvez por acreditar em algo além da vida ou maior que ela, mas aqui no
mundinho capitalista ocidental é muito dificil encontrar pessoas dispostas a
dar a própria vida por algo.
Será
que isso não seria uma mostra de que a religião no “mundo ocidental”, por mais
poderosa que possa ser, é fraca quando se trata da morte? Por mais que ela
insista na ideia de céu, paraíso, enfim, salvação, é difícil encontrar pessoas
que aceitem a morte simplesmente. Ninguém vê como algo positivo apesar de
dizerem pra si mesmas que assim foi melhor (mesmo não acreditando nisso), por
exemplo. No mais, também tenho minha teoria de que as pessoas que acreditam no
céu e inferno tem medo da morte porque NUNCA sabem se vão pro céu ou pro
inferno, mesmo dizendo pra todos os outros que são pessoas de Deus, mas
enfim...
Eternidade além da morte
Outra
questão que podemos apontar é a ideia de que as pessoas se tornem eternas e
mais poderosas depois da morte. Não estou dizendo que quando morrer você vai
voltar a vida bombado, estou dizendo que muitas pessoas passam a ter muito mais
influencia após a morte. Quantas pessoas não foram ignoradas durante a vida e
logo que morreram passaram a ser reconhecidas e tratadas como seres superiores?
A
morte parece trazer certa divindade para a pessoa. Geralmente são esquecidos
seus podres e passa-se a celebrar somente as coisas boas. Posso estar errado,
mas sinto que existe muito tabú em torno da morte. Parece que logo depois que
as pessoas morrem é pecado mortal falar coisas ruins sobre ela.
É
interessante observar o comportamento social diante da morte de alguma celebridade,
todos passam a comentar sobre ela e admirar, mesmo que nunca tenham conhecido
seu trabalho e nunca tenham se interessado pela mesma. Podemos exemplificar isso
com a morte da Amy: 95% ou mais dos comentarios sobre ela em vida era coisas do
tipo: “Aquela drogada”, “Viu como ela ta feia?”, “Nossa, como ela não morreu
ainda?” “A Amy adora sua carreira, hã, hã, entendeu o trocadilho?”. Bastou que
morresse que os comentarios inverteram: esqueceram toda a historia das drogas -
que foi um dos motivos da sua morte - e passaram a ser: “Nossa, mas que voz
essa mulher tem”, “Uma grande perda pra musica”, “Vai descansar ao lado de
Janis, Jim, Jimi e Kurt”. Dizendo melhor, durante a vida não passava de uma
drogada, só foi morrer que virou exemplo (além da venda de discos aumentar
drasticamente).
Acho
que vou gravar algumas coisas e logo depois me matar, talvez isso me faça
famoso e esqueçam todos meus podres.
Contra a moral e os bons costumes
Humm...
Deixe-me ver... Já falei que eles são rebeldes e causam na cidade? Já? Então acho que isso é tudo.
Sim,
o filme se resume a adolescente com roupas de couro levando caos pra cidade. Tem
algumas cenas bem legais, como eles entrando de moto na delegacia e no mercado,
entre outras, mas, em geral, não sai disso. O roteiro acaba sendo muito vago e
você não entende direito o por quê das coisas.
Ok,
nós sabemos que a mãe de Tom fez um pacto que envolvia ambos, então até
compreendemos ele retornar dos mortos, mas... e seus amigos? Em nenhum momento os
vemos fazendo nenhum pacto, com isso, notamos que no universo do filme só de
acreditar que você vai voltar já é o suficiente para que volte. Ora, se fosse
assim muitas pessoas voltariam e toda a trama com o homem de negro
desapareceria. Pra quê pacto se ressuscitar é tão normal?
Há
muito enfoque na parte dos jovens inconsequentes e o roteiro é esquecido. Qual
o sentido do sapo? Qual foi o pacto? Existe alguma relação do pai de Tom na
história? Existe alguma consequencia por estar morto? Enfim, muitas perguntas e
nenhuma resposta, mas dane-se! Temos jovens motoqueiros se divertindo de uma
maneira sádica na cidade.
E aí, me jogo ou não?
Na
fotografia não vemos nada de mais e a trilha sonora apesar de simploria é
bastante interessante, principalmente na música que um membro da guangue canta
no enterro do nosso herói.
Não
diria que o filme é bom, talvez fosse na época, mas ele tem suas qualidades, embora
nada “must see”. Eu recomendo se você gosta de filmes antigos e não se importa
de ver um filme que não acrescenta muito na sua vida. Ele é bem interessante
pra ver como eram os filmes antigamente e suas simplicidades. Um bom filme pra
passar o tempo; nada além disso.
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