Olha, eu tenho que dizer que o mais engraçado de se ver um filme americano no
qual um herói nacional combate uma invasão econômica estrangeira é que a
mensagem é tão óbvia, mas tão óbvia, que até parece inédita.
Se
você ainda não viu “O vingador tóxico” e ainda está acostumado com esses heróis
mariquinhas como Wayne e Kent, que defendem o sistema com métodos bobinhos de
luta e apenas mandam os facínoras para a cadeia; se prepare para conhecer
Melvin, o terror da bandidagem e, agora, também do capitalismo!
Título
original: The toxic avenger part II
Lançamento: 1989 (EUA)
Duração: 84 minutos
Direção: Joe Ritter e Lloyd Kaufman
Duração: 84 minutos
Direção: Joe Ritter e Lloyd Kaufman
O vingador tóxico parte II
Porque o sonho só pode ser americano
Contrariando
seu progenitor, “O vingador tóxico parte II” não é um filme inteligente que, ao
seu modo tosco, é também surpreendentemente engraçado. Na verdade, ele se
apropria dos elementos que deram certo na obra anterior e os repete de modo artificial
e forçado, ficando mais embaraçoso que interessante. Embora haja alguns
momentos e ideias interessantes, não vem a ser um filme que justifique a
própria existência, tampouco que faça justiça ao nome que carrega.
Seja
como for, má qualidade nunca impediu o Café antes. Vamos lá.
Vingador boladão
Depois
de salvar Tromaville do crime Melvin vive feliz com sua namorada, realizando
trabalhos num centro de ajuda aos cegos. Porém, tudo muda quando o lugar é
atacado por capangas de uma organização que pretende invadir e conquistar a
cidade. Eles assassinam várias pessoas antes que sejam detidos; o que faz com
que Melvin adentre numa profunda depressão, partindo numa viajem em busca de
suas origens para vencer essa tristeza.
Apocalypse Inc.
A
história se passa em duas frentes: aquela principal, na qual o vingador viaja
ao Japão em busca de seu pai e, além dela, uma secundária, em que vemos que, na
ausência de Melvin, a mesma organização que atacou o centro de ajuda aos cegos
conquistando Tromaville.
Infelizmente,
embora o filme use ideias bem interessantes como motivação para a história, o
desenvolvimento dado a elas é quase sempre decepcionante. Um exemplo bem
simples disso é como, na ausência de Melvin, as empresas “Apocalypse Inc.”
tentam dominar a cidade. Se você pensou em
Coca-cola, Apple, BMW ou qualquer empresa que aja pela conquista através da cultura, errou, pois no
mundo de “O vingador tóxico” as megacorporações entram nas cidades com modos bem mais sórdidos: despejando
lixo tóxico, com fortões armados até os dentes, metralhando velhinhas
cadeirantes cegas e mutilando pessoas. Não que isso seja assim tão raro no mundo real,
mas é caro, ineficiente e pior: pega mal. Para qualquer empresa com fins
lucrativos a maneira como é percebida por seus possíveis clientes é vital. Com
isso, melhor que dobrar um povo pela força é conquistar sua alma a fazer com
que ele acredite que as bandeiras que defende são mesmo suas e se submeta por “vontade
própria”. Basta olhar nossa cultura e ver o quanto amamos produtos como
símbolos de status social. Nesse aspecto, o filme deixa bastante a desejar,
tudo é muito óbvio como se as mesmas relações as quais o filme tenta satirizar
também o fossem.
Inclusive, mesmo
no momento em a história muda de rumo e Melvin tem a possibilidade de expulsar
as organizações de Tromaville, tudo se dá de maneira muito simples, como se
pudéssemos simplesmente deixar de consumir coca-cola ou como a juventude não
amasse seus colonizadores como heróis, de sorte que bastaria retirar esses
produtos, signos e aparatos para que viéssemos a esquecê-los.
Como nossos índios bem sabem, mesmo que Melvin expulse o estrangeiro de seu lar, os hábitos e o apego aos valores existentes antes da invasão estrangeira é algo que
jamais volta. Por sinal, no mesmo oriente que tenta invadir os EUA no filme (e
o mundo hoje) centenas de mulheres realizam atualmente cirurgias plásticas para
apagar seus traços nativos e se tornarem mais ocidentalizadas. E não há
vingador que nos salve disso.
Obviamente,
trata-se de uma grande ironia, afinal, os EUA são um dos grandes responsáveis por
invasões estrangeiras por meio da cultura. Colocá-lo como uma vítima daquilo
que pratica é algo que só um filme nacionalista bobo ou um trash fodão faria. O
fato de que a execução da obra não é boa não elimina o mérito de sua tentativa e crítica ao protecionismo americano, como se os métodos que usassem contra os outros se tornassem injustos só no instante em que podem ser copiados e usados contra si.
Eu
poderia continuar e usar esse filme como pretexto para atacar a globalização,
mas acho que já fazemos bastante isso por aqui, então, mudemos de assunto.
O sol se põe e você não pode impedir
Boa
parte do filme se passa no Japão, onde Melvin conhece novos amigos, inimigos e,
ao fim, aprende lições que o ajudam a vencer sua tristeza. A esse respeito é
curioso que, embora haja piadas sobre o país (e tudo o mais que o gênero comporta), ele não é pintado de maneira estereotípica, o que seria bastante esperado
vindo de um filme que “discute” justamente a invasão estrangeira pela economia
a partir do lado de quem a sofre. A bem dizer, é Tromaville e não Tókio que parece
irreal e caricata. Eis uma ironia bem sutil e, provavelmente, inconsciente, do filme.
É como se a obra nos mostrasse o rumo imutável da história - o econômico, aquele em
que vence o capital - e revelasse que nossas tentativas de criar um mundo
diferente como sendo algo fantasioso, que só daria certo num filme tão
maluco como o do "Vingador". Se Tromaville pode ser salva, Tokio não.
Devo clamar pelo Vingador?
O
filme tem um monte de cenas de nudez (poucas de sexo), muitas sequências de
lutas bobas nas quais ficamos esperando que acabem para que venham, enfim, as
cenas interessantes. E infelizmente, quando essas ocorrem, são estendidas ao
extremo e acabam cansando. Mas e a trilha sonora? Bom, é ignorável. Quanto aos
efeitos e ao roteiro, há até um momento em que as cenas do primeiro filme são
reaproveitadas para explicar o que aconteceu anteriormente, de maneira que o
telespectador que não tenha visto o anterior possa acompanhar o filme sem
problemas. No geral é tudo muito ruim, embora haja, obviamente, alguns bons
momentos, como aquele em que o bandido se arma com uma metralhadora e mata uma...
Veja o filme, não vou dizer!
Se
você é fã do Vingador talvez queira vê-lo, mesmo que seja como introdução
aos próximos. Os elementos clássicos estão lá: olhadelas para câmara,
personagens caricaturais, um tema enfeitando o fundo da história e mortes
engraçadas. Se não for, não se sinta compelido a procurá-lo, vá atrás do
primeiro e ria muito.
Trailer
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