sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Resenha: Mamães e Papai (Mum & Dad)


            Semana de dias dos pais chegando e todos começam a comprar presentes e pensar no almoço desse dia tão especial pros “velhinhos”. Entretanto, aqui no Café nem tudo é felicidade e comemoração. Esta semana vamos trazer um papai sádico, nojento e que trata os “filhos” como escravos, lembrando que apesar de amarmos nossos velhos, existem por ai, infelizmente, muitos que nunca deveriam ocupar tal posição. Prepare seu estomago e contenha a sua revolta e entre nesse mundo bizarro de “Mum & Dad”



Mamãe e Papai
“Adotando pessoas”

Sim, o nome do filme é “Papai e Mamãe”, mas não vá ficando felizinho que este não é um filme pornô cristão... A não ser que você seja daqueles (as) que curtem assistir torturas, submissão, coisas nojentas e derivados, aí sim teria motivo pra ficar feliz...




Título original: Mum & Dad
Lançamento: 2008 (Inglaterra)
Duração: 85 minutos
Direção: Steven Sheil





Sua linda, já brincou de Papai e Mamãe

            Lena, uma imigrante polonesa, começa a trabalhar no aeroporto de Heathrow onde conhece Birdie - que a ajuda a limpar os banheiros e escritórios - e seu irmão adotivo Elbie. Após o trabalho Lena diz que tem que voltar pra casa, mas por culpa de Birdie acaba perdendo o último ônibus, fazendo com que ela tenha que ir pra casa da nova colega. Entretanto, ao chegar lá, Lena é sedada e entra num mundo de sadismo e submissão.

Entrando pra família


            Após a cena inicial (que é bem bonita, aliás) somos apresentados a protagonista (Lena) que acaba de iniciar no trabalho de faxineira no aeroporto e o casal de irmãos adotivos (Birdie e Elbie), que também trabalham no aeroporto. Birdie se mostra prestativa e ajuda a novata a limpar o banheiro. Nos dez minutos iniciais não sabemos exatamente o que nos espera, percebemos algumas coisas estranhas - os diversos cortes no braço de Birdie e seus pequenos furtos, o silencio de Elbie - mas nada que realmente demonstre como ocorrerá o desenrolar do filme.
            O problema começa quando Lena perde o onibus e se vê obrigada a ir junto pra casa dos recém conhecidos para conseguir arranjar alguma maneira de voltar ao seu doce lar. Entretanto, ao chegar acaba sendo dopada com uma injeção no pescoço, que faz com que desmaie e perca a voz por certo tempo.

Eu sou mamãe. Ele é o papai. Você vive conosco agora.

Ao acordar, Lena se percebe algemada a uma cama num quarto vazio, com duas portas. Uma delas se abre e ela pode ver o corpo ensanguentado de uma mulher no chão enquanto um homem baixinho, gordinho e armado com um martelo (ensanquentado também), sai do quarto. A outra porta se abre e uma mulher entra no quarto. Lentamente se aproxima da cama e diz:
- “Eu sou mamãe. Ele é papai. Você vive conosco agora. Se você sabe o que é bom pra você, vai se acalmar. Quanto mais você lutar, mas excitado ele fica. Precisamos acalma-lo.”
            Logo após isso, papai volta pra sala onde estava e mamãe tenta tranquilizar a nova filha, dizendo pra não se preocupar com ele, pois se ela se comportar ele não fara nada de mal; ele sempre teve suas manias, ela só precisa se acostumar, assim como ela mesma o fez. Após isso, aplica outro tranquilizante e diz:

- Mamãe vai cuidar de você

            Aqui começamos a perceber o cruzamento entre filme e realidade. Claro que no filme é tudo mais pesado e sádico, mas quando a mãe fala “... você se acostuma, assim como eu me acostumei.” Percebemos a impotencia da mãe, ou seja, ela também sofreu com as “manias” do pai, entretanto, acostumou-se e agora vive “tranquilamente” com isso. A propósito, quantos casos não vemos por ai de mulheres que apanham do marido e, quando confrontadas, afirmam que é algo normal, que ele não tem culpa (às vezes, até mesmo dizem que a culpa é dela mesma)? E, pior, quantas vezes não encobrem as perversões do pai contra os filhos?
            Apesar da família bizarra, vemos a questão da hierarquia famíliar predominante no passado mas que existe até os dias de hoje. O pai se mostra como uma autoridade que nunca deve ser contestada e qualquer ação que o contradiga terá grandes consequências. Já a mãe faz um papel de intermédio: ao mesmo tempo em que se submete a todas as ordens do pai, ela se coloca ao lado dos filhos para amenizar o conflito, aconselhando-os a obedecer e respeitar o pai. Enquanto isso, a única função do filho é abaixar a cabeça e aceitar.
            Tendo isso em vista, uma coisa que podemos destacar no filme são a injeções que nossa protagonista recebe que a impede de falar/gritar, e quando sua voz começa a voltar acaba recebendo outra. Podemos ver isso como a falta de voz do filho em relação aos pais, sendo que existem muitos pais que pensam apenas em suas vontades e impedem os filhos sigam os próprios sonhos.

Você é minha garota?


Ao acordar, Lena esta presa e pendurada pelos braços com sua nova mamãe ao lado com alguns instrumentos de tortura. Ela se aproxima e diz:
- “Você é minha garota?”
Essa frase dá a entender que Lena passou a ser não apenas sua filha, mas também um objeto, como agora Lena é sua garota, mamãe poderá fazer o que bem entender com ela. Nada muito diferente da realidade se pensarmos nessa tortura como uma metáfora em que as mães acabam tomando as decisões pela filha e acabam obrigando-as a fazer e aceitar coisas que não querem, “torturando-as” psicologicamente. Isso faz ainda mais sentido quando vemos que durante a tortura a mãe faz alguns desenhos na carne da filha, como se estivesse preparando uma obra de arte. Ademais, algo interessante de notar, é que ao mesmo tempo em que a mãe tortura, também trata a filha com “amor”, chamando-a de anjo, presente do céu e outros termos carinhosos.

*

Após isso, Lena é levada ao pai que diz:
“Enquanto você está na minha casa, vai acatar as minhas regras. Entendeu? Nesse lar, família é tudo. Você pode esquecer o que está fora dessa janela agora. Não existe. De agora em diante esse é o seu mundo, sua mãe e seu pai... Seu irmão e sua irmã, isso é tudo. Você faz sua tarefa, mantém a boca fechada e sua mãe feliz, ou terá que se ver comigo, entendeu?... Em troca você ganha um telhado sobre sua cabeça. Ganha sua alimentação, todas as roupas, a qualquer hora se você trabalhar duro e se for uma garota boazinha...”
Essa cena retifica ainda mais a idéia de filho como uma posse dos pais. Quantas vezes não vemos pais que jogam na cara que pagam sua moradia, alimentação e outras coisas e por isso você deve fazer somente aquilo que ele permitir? Além disso, tem a questão de manter o filho preso e impedir que conheça o mundo, para que ele não possa ir para caminhos diferentes daquilo que os pais decidiram pra ele.

Nesse lar, família é tudo.

A partir desse momento que o filme realmente mostra seu objetivo e nossa protagonista começa a sofrer nas mãos da nova família. Algo no filme que vale a pena prestar atenção é que Lena saiu da Polônia justamente pra sair do controle familiar e poder seguir sua propria vida, já que seu pai a influenciava a ficar nos negocios da família e ela queria sair para estudar e tomar as proprias decisões, porém, não foi bem isso que aconteceu; ela se afastou de uma família e caiu numa pior.
Com isso podemos pensar em duas apologias feitas pelo filme: 1) Por mais que você fuja sempre vai haver uma família para interferir na sua vida (seja positivamente ou negativamente) e 2) Família, ruim com ela, pior sem ela.
Uma coisa que reparo é que Lena, Birdie e Elbie representam um estereótipo de filho diferente. Birdie é o tipo de filha que puxa o saco do pai e faz tudo que é possivel para agrada-lo, já Elbie é o filho que, apesar de não concordar com os pais, apenas abaixa a cabeça e obedece, por fim, Lena seria a filha mais rebelde, que desafia os pais e tenta fugir daquilo que prepararam pra ela.
A família é uma coisa bem bizarra, ao mesmo tempo em que se mostram normais em algum aspecto - todos tomando café da manhã juntos e conversando normalmente - existem detalhes que quebram o clima de normalidade, como a tv ligada num filme pornô e os gemidos servindo de trilha sonora pra refeição. Também há uma cena onde o pai se masturba com um pedaço de carne e otras coisas tão bizarras quanto, principalmente no final.

Devo me colocar pra adoção?


“Mum & Dad” é um filme de terror com uma proposta diferente e que não se preocupa em ser inteligente e, apesar de conseguir ver algumas questões interessantes, ele não se propõe a abrir nenhuma discussão. Enfim, apenas mais um filme para passar o tempo e chocar os mais puritanos.
Apesar dos pesares, achei a fotografia bem bonita, transmitindo bem o desespero da nossa protagonista. A trilha sonora é praticamente inexistente, já que boa parte do som se resume aos sons ambientes e sons emitidos pelos personagens. Porém, quando há música, ela é bem sutil e complementa belamente a cena.
O filme sai um pouco dos clichês do terror e consegue apresentar uma proposta nova e perturbadora. Ele possui umas cenas um pouco mais pesadas e nojentas (apesar de não serem tantas), então, se você é do tipo que não gosta de coisas assim, acho melhor procurar outro filme. Entretanto, se você aprecia ou simplesmente não se importa; eis um filme interessante pra se ver.

Trailer


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