Semana de dias dos pais chegando e
todos começam a comprar presentes e pensar no almoço desse dia tão especial
pros “velhinhos”. Entretanto, aqui no Café nem tudo é felicidade e comemoração.
Esta semana vamos trazer um papai sádico, nojento e que trata os “filhos” como
escravos, lembrando que apesar de amarmos nossos velhos, existem por ai,
infelizmente, muitos que nunca deveriam ocupar tal posição. Prepare seu
estomago e contenha a sua revolta e entre nesse mundo bizarro de “Mum &
Dad”
Mamãe e Papai
“Adotando pessoas”
Sim, o nome do filme é “Papai e Mamãe”,
mas não vá ficando felizinho que este não é um filme pornô cristão... A não ser
que você seja daqueles (as) que curtem assistir torturas, submissão, coisas
nojentas e derivados, aí sim teria motivo pra ficar feliz...
Lançamento: 2008 (Inglaterra)
Duração: 85 minutos
Direção: Steven Sheil
Sua linda, já brincou de
Papai e Mamãe
Lena, uma imigrante polonesa, começa
a trabalhar no aeroporto de Heathrow onde conhece Birdie - que a ajuda a limpar
os banheiros e escritórios - e seu irmão adotivo Elbie. Após o trabalho Lena
diz que tem que voltar pra casa, mas por culpa de Birdie acaba perdendo o
último ônibus, fazendo com que ela tenha que ir pra casa da nova colega.
Entretanto, ao chegar lá, Lena é sedada e entra num mundo de sadismo e
submissão.
Entrando pra família
Após a cena inicial (que é bem
bonita, aliás) somos apresentados a protagonista (Lena) que acaba de iniciar no
trabalho de faxineira no aeroporto e o casal de irmãos adotivos (Birdie e
Elbie), que também trabalham no aeroporto. Birdie se mostra prestativa e ajuda
a novata a limpar o banheiro. Nos dez minutos iniciais não sabemos exatamente o
que nos espera, percebemos algumas coisas estranhas - os diversos cortes no
braço de Birdie e seus pequenos furtos, o silencio de Elbie - mas nada que
realmente demonstre como ocorrerá o desenrolar do filme.
O problema começa quando Lena perde
o onibus e se vê obrigada a ir junto pra casa dos recém conhecidos para
conseguir arranjar alguma maneira de voltar ao seu doce lar. Entretanto, ao
chegar acaba sendo dopada com uma injeção no pescoço, que faz com que
desmaie e perca a voz por certo tempo.
Eu sou mamãe. Ele é o
papai. Você vive conosco agora.
Ao acordar, Lena se percebe algemada a
uma cama num quarto vazio, com duas portas. Uma delas se abre e ela pode ver o corpo ensanguentado de uma mulher no chão enquanto um homem baixinho,
gordinho e armado com um martelo (ensanquentado também), sai do quarto. A outra
porta se abre e uma mulher entra no quarto. Lentamente se aproxima da cama e
diz:
- “Eu sou mamãe. Ele é papai. Você vive
conosco agora. Se você sabe o que é bom pra você, vai se acalmar. Quanto mais
você lutar, mas excitado ele fica. Precisamos acalma-lo.”
Logo após isso, papai volta pra sala
onde estava e mamãe tenta tranquilizar a nova filha, dizendo pra não se
preocupar com ele, pois se ela se comportar ele não fara nada de mal; ele
sempre teve suas manias, ela só precisa se acostumar, assim como ela mesma o
fez. Após isso, aplica outro tranquilizante e diz:
- Mamãe vai cuidar de você
Aqui começamos a perceber o
cruzamento entre filme e realidade. Claro que no filme é tudo mais pesado e
sádico, mas quando a mãe fala “... você se acostuma, assim como eu me acostumei.”
Percebemos a impotencia da mãe, ou seja, ela também sofreu com as “manias” do
pai, entretanto, acostumou-se e agora vive “tranquilamente” com isso. A
propósito, quantos casos não vemos por ai de mulheres que apanham do marido e,
quando confrontadas, afirmam que é algo normal, que ele não tem culpa (às
vezes, até mesmo dizem que a culpa é dela mesma)? E, pior, quantas vezes não
encobrem as perversões do pai contra os filhos?
Apesar da família bizarra, vemos a
questão da hierarquia famíliar predominante no passado mas que existe até os
dias de hoje. O pai se mostra como uma autoridade que nunca deve ser contestada
e qualquer ação que o contradiga terá grandes consequências. Já a mãe faz um
papel de intermédio: ao mesmo tempo em que se submete a todas as ordens do pai,
ela se coloca ao lado dos filhos para amenizar o conflito, aconselhando-os a
obedecer e respeitar o pai. Enquanto isso, a única função do filho é abaixar a
cabeça e aceitar.
Tendo isso em vista, uma coisa que
podemos destacar no filme são a injeções que nossa protagonista recebe que a
impede de falar/gritar, e quando sua voz começa a voltar acaba recebendo outra.
Podemos ver isso como a falta de voz do filho em relação aos pais, sendo que
existem muitos pais que pensam apenas em suas vontades e impedem os filhos
sigam os próprios sonhos.
Você é minha garota?
Ao acordar, Lena esta presa e pendurada
pelos braços com sua nova mamãe ao lado com alguns instrumentos de tortura. Ela
se aproxima e diz:
- “Você é minha garota?”
Essa frase dá a entender que Lena passou
a ser não apenas sua filha, mas também um objeto, como agora Lena é sua garota,
mamãe poderá fazer o que bem entender com ela. Nada muito diferente da realidade
se pensarmos nessa tortura como uma metáfora em que as mães acabam tomando as
decisões pela filha e acabam obrigando-as a fazer e aceitar coisas que não
querem, “torturando-as” psicologicamente. Isso faz ainda mais sentido quando
vemos que durante a tortura a mãe faz alguns desenhos na carne da filha, como se
estivesse preparando uma obra de arte. Ademais, algo interessante de notar, é
que ao mesmo tempo em que a mãe tortura, também trata a filha com “amor”,
chamando-a de anjo, presente do céu e outros termos carinhosos.
*
Após isso, Lena é levada ao pai que diz:
“Enquanto você está na minha casa, vai
acatar as minhas regras. Entendeu? Nesse lar, família é tudo. Você pode
esquecer o que está fora dessa janela agora. Não existe. De agora em diante
esse é o seu mundo, sua mãe e seu pai... Seu irmão e sua irmã, isso é tudo.
Você faz sua tarefa, mantém a boca fechada e sua mãe feliz, ou terá que se ver
comigo, entendeu?... Em troca você ganha um telhado sobre sua cabeça. Ganha sua
alimentação, todas as roupas, a qualquer hora se você trabalhar duro e se for
uma garota boazinha...”
Essa cena retifica ainda mais a idéia de
filho como uma posse dos pais. Quantas vezes não vemos pais que jogam na cara
que pagam sua moradia, alimentação e outras coisas e por isso você deve fazer
somente aquilo que ele permitir? Além disso, tem a questão de manter o filho
preso e impedir que conheça o mundo, para que ele não possa ir para caminhos
diferentes daquilo que os pais decidiram pra ele.
Nesse lar, família é tudo.
A partir desse momento que o filme
realmente mostra seu objetivo e nossa protagonista começa a sofrer nas mãos da nova família.
Algo no filme que vale a pena prestar atenção é que Lena saiu da Polônia
justamente pra sair do controle familiar e poder seguir sua propria vida, já
que seu pai a influenciava a ficar nos negocios da família e ela queria sair
para estudar e tomar as proprias decisões, porém, não foi bem isso que
aconteceu; ela se afastou de uma família e caiu numa pior.
Com isso podemos pensar em duas apologias
feitas pelo filme: 1) Por mais que você fuja sempre vai haver uma família para
interferir na sua vida (seja positivamente ou negativamente) e 2) Família, ruim
com ela, pior sem ela.
Uma coisa que reparo é que Lena, Birdie e
Elbie representam um estereótipo de filho diferente. Birdie é o tipo de filha
que puxa o saco do pai e faz tudo que é possivel para agrada-lo, já Elbie é o
filho que, apesar de não concordar com os pais, apenas abaixa a cabeça e
obedece, por fim, Lena seria a filha mais rebelde, que desafia os pais e tenta
fugir daquilo que prepararam pra ela.
A família é uma coisa bem bizarra, ao
mesmo tempo em que se mostram normais em algum aspecto - todos tomando café da
manhã juntos e conversando normalmente - existem detalhes que quebram o clima
de normalidade, como a tv ligada num filme pornô e os gemidos servindo de
trilha sonora pra refeição. Também há uma cena onde o pai se masturba com um
pedaço de carne e otras coisas tão bizarras quanto, principalmente no final.
Devo me colocar pra adoção?
“Mum & Dad” é um filme de terror com
uma proposta diferente e que não se preocupa em ser inteligente e, apesar de
conseguir ver algumas questões interessantes, ele não se propõe a abrir nenhuma
discussão. Enfim, apenas mais um filme para passar o tempo e chocar os mais
puritanos.
Apesar dos pesares, achei a fotografia
bem bonita, transmitindo bem o desespero da nossa protagonista. A trilha sonora
é praticamente inexistente, já que boa parte do som se resume aos sons
ambientes e sons emitidos pelos personagens. Porém, quando há música, ela é bem
sutil e complementa belamente a cena.
O filme sai um pouco dos clichês do
terror e consegue apresentar uma proposta nova e perturbadora. Ele possui umas
cenas um pouco mais pesadas e nojentas (apesar de não serem tantas), então, se
você é do tipo que não gosta de coisas assim, acho melhor procurar outro filme.
Entretanto, se você aprecia ou simplesmente não se importa; eis um filme
interessante pra se ver.
Trailer
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