sexta-feira, 11 de março de 2016

Literatura: The Warriors (Sol Yurick)


            Tire sua calça boca de sino do armário, coloque suas botas mais estilosas, prenda os suspensórios sobre a sua camiseta verde limão e não se esqueça do chapéu de cowboy. Vá até o QG da sua gangue, afie suas facas e se prepare para a briga. Hoje atravessaremos o território inimigo. Nunca e em hipótese nenhuma, abandone seu grupo ou desonre sua família.


“Nesse mundo, é melhor secar suas lagrimas antes delas deixarem seus olhos, e engolir os sons amedrontados que emitira há pouco, pois serviam apenas para acabar com você”    



Titulo original: The Warriors
Autor: Sol Yurick
Ano: 1965
Editora: Darkside books
Paginas: 268
          Após o imprevisto em uma reunião que contava com as principais gangues de Nova York, Os Dominadores, uma gangue de adolescentes de Coney Island, precisam voltar para o seu território, mas para isso eles precisam fugir da policia e conseguir passar pelo território hostil das gangues rivais.

Violência, rebeldia e uma viagem de metrô

            O filme The Warriors é um clássico que merece resenha aqui no Café, entretanto, nessa resenha focarei apenas no livro, tendo em vista que são mídias diferentes e também possuem propostas diferentes.
            A história de “Os selvagens da noite” ocorre em apenas uma única noite, e isso é interessante porque em uma história que ocorre em um espaço de tempo de 12 horas mais ou menos, Sol Yurick consegue fazer uma reflexão sobre a juventude e os problemas sociais que as afetam.
            As brigas, as disputas por território, as roupas da gangue e a violência são apenas um pano de fundo para que o autor discuta um problema social muito mais grave. No livro, o autor trabalha diversos personagens diferentes mas que compartilham de um problema em comum: os adultos... ou a falta deles.
            O livro inicia com um jovem, líder de uma gangue, marcando uma reunião com outras gangues para sugerir a proposta de união entre elas, para lutar contra o inimigo em comum, que seria a sociedade. Mesmo as gangues tendo as suas diferenças e elas sendo rivais umas das outras, muitas delas se mostravam dispostas a abraçar essa “trégua” porque existe um inimigo maior, que, se não fosse enfrentado, causaria problemas para todas elas.
            Entretanto a reunião não sai como o esperado e acaba rolando um tiroteio, dando o gancho pra o desenrolar do resto da história, na qual a gangue protagonista tem que retornar para o seu território, mas pra isso ela precisa fugir da policia e dos outros grupos.
            A historia mesmo acontece a partir desse evento, mas esses capítulos iniciais carregam praticamente toda a essência do livro, o que vem após é apenas o desenvolvimento do que já foi dado e entretenimento.

*

            A confusão na reunião das gangues se inicia devido à discussão de grupos rivais, gerando algumas brigas, entretanto a coisa fica preta mesmo quando chega a policia, ou seja, a autoridade.
            Os jovens que vemos no livro não são jovens que desfrutam da juventude e das maravilhas da infância, pelo contrario, são pessoas que já nasceram no meio de conflitos e problemas, e que tudo aquilo que tentam impôr a eles não faz sentido dentro de suas respectivas realidades.
            Órfãos ou pertencentesà famílias problemáticas, à eles falta de oportunidades e perspectiva de vida, o que causa dificuldade de comunicação, sentimentos de inferioridade, noções distorcida de sociedade, entre outros problemas. Apesar da pouca idade, são pessoas que foram obrigadas a “envelhecerem” antes do tempo. Não digo envelhecer no sentido de que eles se tornaram responsáveis e que com 14 anos já são maduros pra tocar a vida sozinhos, eles são crianças e são bem imaturas, conforme o decorrer do texto vai nos mostrar, entretanto eles precisam buscar sobreviver sem a dependência de um adulto.
            Todo o problema dos jovens do livro se resumem a partir disso, porque gera um conflito. O meio em que eles vivem não dá o suporte suficiente para que eles cresçam “saudavelmente”, tendo qualidade de vida, educação, entretenimento, etc. Logo, devido as condições, eles precisam, de algum modo buscar as coisas por conta própria sem poder contar com os adultos.
            Como sobreviver em um cenário em que a sociedade exige que eu seja adulto, sem me dar suporte, sendo que quando me comporto como adulto eles me tratam como criança?
            Apesar dos protagonistas serem crianças, o livro tem cenas que incomodam e que mostram que a pouca idade não significa que os seus crimes são menores, contudo, o autor desenvolve essas ações dos personagens de modo que fique perceptível o “grito de socorro”, como se aquilo que os jovens fizessem fosse uma reação de algo que está além deles. A inconsequência dos crimes é clara: eles parecem não perceber e compreender suas ações, eles apenas fazem, tanto que, algumas cenas de violência são intercaladas com cenas deles fazendo besteiras e se comportando de maneira infantil.

A edição

            Assim como a grande maioria das publicações da Darkside books, o livro é bem trabalhado e com um acabamento primoroso. A capa dura tem aspecto de couro desgastado e o simbolo da gangue no centro da capa com “Warriors” escrito em cima passa a ideia de um patch costurado no colete dos jovens. A fonte e a diagramação são simples mas boas e as paginas são amareladas.
            Não há ilustrações mas no fim de cada parte há paginas pretas com o mapa do metro para separar uma da outra. Livro contem três extras, duas introduções escritas por pessoas diferentes falando da importância do Warriors para eles e também um prefacio do próprio autor no qual ele fala sobre como ele escreveu a historia e sobre a repercussão que o livro teve.

Devo me juntar a uma gangue e atravessar a cidade de metro?
           
            Claro, afinal, quem nunca sonhou em juntar os amigos e fundar uma gangue?
            Mas seja uma gangue do bem, tá bom amiguinhos? Nada de sair dando porrada por ai, se metendo com drogas ou trafico de armas.
            Warriors é um livro de 1965 sobre gangues de Nova York que ainda consegue ser bem contemporâneo e reflexivo mesmo pra quem vive no Brasil. Não digo que temos gangues por ai vestindo suas “fantasias” espalhafatosas, mas o retrato da juventude pode ser visto e comparado. E, apesar de ter sua critica, também é um livro que pode ser lido como entretenimento, a aventura dos jovens pelo metro é as vezes divertida e as vezes revoltante, mas interessante de acompanhar e saber o desfecho.

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