Título original: An american werewolf in London
Lançamento:
1981 (EUA e UK)
Duração: 93 minutos
Direção: John Landis
Duração: 93 minutos
Direção: John Landis
Viajando na lua cheia
Só uma mordidinha
O
filme pode ser divido em dois momentos, o primeiro que é o desenvolvimento da
história e o questionamento do herói sobre sua sanidade, enquanto a segunda seria
o momento em que de fato se transforma em lobisomem (algo que só ocorre nos 30 minutos finais).
Ao som
de “Blue Moon” o filme começa com os protagonistas descendo de um caminhão de
ovelhas em algum vilarejo do interior da Inglaterra. Como está anoitecendo, os jovens decidem
procurar algum lugar para passar a noite e seguir viagem no dia seguinte. Eles
encontram uma taverna – cordeiro estraçalhado – um tanto quanto estranha: na
fachada dele tem o desenho de uma cabeça de um lobo decepada e dentro um
pentagrama desenhado na parede, além disso, não são muito bem tratados pelos
locais, sendo praticamente expulsos. Com isso, os rapazes decidem ir embora
(mas antes de sair são alertados a ficar na estrada e não entrar no pântano) e,
enquanto seguem viagem, começam a escutar barulhos estranhos, sendo mais tarde
atacados por alguma espécie de lobo gigante, que mata um e fere o outro.
Segredos...
Logo
que os garotos saem da taverna, uma das moradoras diz que não deveriam ter
deixado os garotos saírem. Afinal, era lua cheia. Outro local responde que se
tivessem falado alguma coisa, pensariam que eles são loucos. Ou seja, melhor
deixar os dois americanos morrerem do que eles pensarem que somos loucos, não?
Sendo assim, tal segredo dos
moradores é responsável por todas as merdas que acontecem no filme todo. Essa
necessidade de preservar a imagem de pessoas comuns para não pensarem que são
loucas fez com que o problema chegasse até uma das principais cidades do mundo.
Portanto lembre-se: não fique com essa putarias de segredo a menos que você
queira um lobisomem solto por aí matando todo mundo.
Além
disso, o lobisomem pode ser visto, também, como a representação dos problemas
da vila que o “abriga”. Não entendeu? Vamos lá.
Todos os moradores sabem do problema
com os licantropos, entretanto, eles não deixam que ninguém de fora ajude, ou
sequer saiba (o filme da a entender que nem eles mesmos tentam resolver). Em
outras palavras, por mais que, por um lado, os moradores temam o monstro, por
outro parece que eles querem “cultiva-lo”, como se fosse algo cultural daquele
lugar. Deste modo, podemos deixar de pensar no lobo como animal e começar a pensá-lo
como um tipo de conservadorismo típico de algumas cidades do interior (bastante
representado em filmes, como Elvira,
Hard rock zombies...).
Do mesmo modo que o medo do
lobisomem faz com que os moradores locais fiquem presos dentro de suas casas em
toda noite de lua cheia, o conservadorismo impede com que as pessoas da vila
saiam do comum. Por mais que as pessoas tenham armas e vejam a possibilidade de
quebrar as barreiras, elas preferem manter aquela vidinha, pois estão em sua
zona de conforto, portanto, o lobisomem chega a ser de certo modo atrativo por
que dá a eles uma desculpa para não mudarem.
Enfrentando os lobisomens interiores
Essa ideia de criar um monstro que
te impeça de sair do caminho desejado se aplica não apenas para os moradores da
vila do filme, mas também para diversos fatores sociais: religião, politica,
cultura, trabalho entre outras coisas. A questão é: todos nós, vez ou outra
(algumas pessoas sempre) conservamos e/ou produzimos monstros para que
justificar nossas vidas. Algumas religiões criam demônios para controlar
atitudes e fazer com que as pessoas pensem que são boas. Pessoas criticam o
diferente por não admitir que eles possam ser “melhores”. Enfim, justificamos
escolhas que não nos agradam porque são “pro nosso bem”, trabalhamos em coisas
que “dão dinheiro” por que aquela que gostamos de verdade é pra vagabundo. Etc.
Etc. Etc.
Todos nós criamos nossos próprios
lobisomens pra justificar nosso medo de nos arriscarmos.
Deixando a divagação de lado e
voltando para o filme. Após o ataque David acorda semanas depois em um hospital
em Londres. Depois
disso, boa parte do filme é focada na questão do “psicológico” do personagem, em
que ele começa a ver o amigo morto que o avisa que ele foi atacado por um
lobisomem e que em alguns dias ele também irá se transformar em um. Por isso,
David começa a questionar sua sanidade, ainda mais porque se lembra de ser
atacado por um “lobo” e o relatório médico registra que ele foi atacado por um
louco que tinha escapado do hospício. Ainda assim, ele se sente bem.
Mesmo David sendo um turista, ele
acabou “enfrentando” (não por vontade própria, é claro) aquilo que aterrorizou
e definiu o estilo da vida da vila por anos. Claro que o filme não tem objetivo
de abrir discussão nenhuma e só quer entreter, no entanto ele acaba
representando bem como se dão as quebras de “ideologias”. Quando alguém de fora
aparece e vai contra os comportamentos pré-definidos, algumas das pessoas da
própria vila começam a se questionar. Primeiro, a taberneira fala que
deveriam ter contado a verdade pros garotos, mesmo que isso quebre o segredo
deles. Quando escutam gritos dos turistas mesmo alguns fingindo que não escutam
outros decidem ir atrás e enfrentar o monstro. Melhor dizendo, logo que alguém
de fora entra naquele microcosmo e acaba rompendo algum padrão (mesmo sem
querer), muitos se manterão fechados, mas outros acabam sendo influenciados.
Tanto que mais pra frente no filme, quando o médico volta pra vila pra tentar
descobrir a verdade, um dos moradores acaba revelando o segredo.
Apesar de David ser um viajante,
indiretamente, ele acaba representando a mudança de uma pessoa que sempre viveu
sob os costumes de uma cidade pequena e acaba mudando-se para uma cidade
grande. Pensemos em uma garota que decidiu ir contra os princípios dos pais
conservadores e mudou-se para uma cidade grande, em um primeiro momento ela
sofreria um grande impacto desse choque de culturas, que no filme poderíamos
ver como o ataque do lobisomem, uma vez que David foi além daquilo que as
pessoas da vila estavam acostumadas. Num segundo momento a garota se sentiria
perdida e começaria a questionar se realmente fez a coisa certa, assim como
David durante boa parte do filme sente-se perdido e começa a questionar-se
sobre sua sanidade, entretanto por outro lado, ele sente-se bem. E por fim, a
garota acaba tornando-se parte da cidade grande, virando aquilo que seus pais
sempre julgaram e em um primeiro momento ela passa a ver ela mesma como um
monstro, afinal ela se tornou aquilo que seus pais sempre disseram que era
errado, do mesmo modo que David tornou-se um lobisomem, aquilo que amedrontava
a cidade.
Sendo
assim, a transformação em lobisomem de David representa também, aquilo que foi construído
socialmente naquele ambiente. O medo que as pessoas passavam. O pentagrama na
parede e todo o resto o fizeram acreditar que havia um lobisomem naquela
estrada. O fato de que quando é atacado e sobrevive ele acredita que também
está possuído. Do mesmo jeito que uma garota que sai da sua vilazinha, chega na
cidade e começa a se identificar com o resto, ela acha que há algo errado com
ela, pois sempre aprendeu que pessoas da cidade são piores (há também um
momento do filme em que David tira barato dos punks no metro por serem
diferentes, uma forma de mostrar-se superior ao diferente).
Lobisomens
não existem
Assistindo
o filme pela segunda vez, comecei a me perguntar se David realmente se tornou
um lobisomem, pois ao mesmo tempo em que o filme da a entender que sim em
alguns momentos, em outros ele abre algumas brechas. Boa parte do filme se dá
pela visão do protagonista e diversas vezes ele se questiona sobre sua sanidade
mental e começa a falar com seu amigo que está morto (isso me parece um sinal
de loucura, só parece). No inicio do filme acreditamos que exista mais de um
lobisomem, mas assim que seu amigo morto faz a primeira visita ele o diz que a
único modo de acabar com a maldição seria matar o ultimo lobisomem, que seria
ele (já que aquele que o atacou foi morto logo após o ataque). Se existisse
apenas um lobisomem seria provável que a vila já o tivesse caçado, não? Afinal,
com apenas alguns tiros eles já mataram o suposto monstro que aterrorizou a
vila por séculos.
Outro
ponto que podemos destacar é que nos relatórios policiais, dizem que os amigos
foram atacados por um louco, será que não poderia ser o real agressor? Quando o
médico tenta investigar melhor a historia e conversa com as pessoas da vila,
ele percebe que há algo errado, entretanto não é por isso que ele acredita na
história de lobisomens, mas justifica como uma “neurose em massa” que começou
com as pessoas da vila e acabou traumatizando David, influenciando-o a
acreditar na história de lobisomens e, consequentemente, a crer que está possuído.
O médico até diz: ”David sofreu um trauma sério. (...) Se todos acreditam que
Jack foi morto por um lobisomem por que não David? E dizem que ele sobreviveu a
um ataque de lobisomem, ele não se tornaria um na próxima lua cheia? Não digo
que vá cair de quatro e uivar para a lua, mas em estado demente, ele pode ferir
pessoas.”
Sendo
assim, David passou a ser aquilo que ele (e os moradores na vila) acreditavam
que aconteceria se ele sobrevivesse. Com isso, podemos voltar aquilo que já
abordamos sobre sermos influenciados por aquilo que as pessoas dizem, embora não
conheçamos.
Não temos duvidas que a vila esconde algo sobre a morte de Jack, entretanto será que foi mesmo um lobisomem? Será que não poderia ter sido algo feito pelos próprios moradores da vila para protegerem o folclore local? Ou até mesmo um ataque qualquer de animal? Pois é, não saberemos.
Não temos duvidas que a vila esconde algo sobre a morte de Jack, entretanto será que foi mesmo um lobisomem? Será que não poderia ter sido algo feito pelos próprios moradores da vila para protegerem o folclore local? Ou até mesmo um ataque qualquer de animal? Pois é, não saberemos.
Depende
de como você entendeu essa frase, se for pra procurar alguém alto, peludo e
selvagem isso é com você, mas em relação a assistir o filme é a resposta é:
Claro!
“Um lobisomem americano em Londres” é um clássico do terror/trash, os anos 80 estão estampados em sua cara, mas nem por isso ele deixa de ser um bom filme pra se ver ainda hoje, apesar de datado continua divertidíssimo. Tudo nele funciona muito bem e acaba entregando um ótimo trabalho, a trilha sonora simples mas bem bacana cheia de rock e blues, a maquiagem é algo que impressiona pra época, e não podemos deixar de citar a clássica cena da transformação, que é referencia ainda para os dias de hoje. Então levante essa bunda peluda do sofá e vá agorabaixar
alugar o filme na locadora mais próxima, mas lembre-se... Não saia em noite de
lua cheia.
“Um lobisomem americano em Londres” é um clássico do terror/trash, os anos 80 estão estampados em sua cara, mas nem por isso ele deixa de ser um bom filme pra se ver ainda hoje, apesar de datado continua divertidíssimo. Tudo nele funciona muito bem e acaba entregando um ótimo trabalho, a trilha sonora simples mas bem bacana cheia de rock e blues, a maquiagem é algo que impressiona pra época, e não podemos deixar de citar a clássica cena da transformação, que é referencia ainda para os dias de hoje. Então levante essa bunda peluda do sofá e vá agora
Trailer
Ótima resenha de um excelente e inesquecível filme. Muito bom!
ResponderExcluirOpa, valeu, pensador!
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