Domingo
passado foi páscoa e o Café não poderia deixar de trazer alguma trasheira para
celebrar o renascimento de Cristo chocolate e os coelhinhos não é mesmo?
Então sente essa bunda gorda de proteína e açúcar na cadeira e prepare-se para ganhar
mais coisas dos coelhinhos, e garanto que não vai ser chocolate...
Título
original: Night of the Lepus
Lançamento: 1972 (EUA)
Duração: 88 minutos
Direção: William F. Claxton
Lançamento: 1972 (EUA)
Duração: 88 minutos
Direção: William F. Claxton
Coelhinho
cadê meu chocolate?
Páscoa
virou sinonimo de coelhinhos e chocolates não é mesmo? Entretanto, aqui no Café
com Tripas
as coisas nunca são como deveriam ser. Nós não estamos nem ai pro coelhinho
bonitinho que bota ovos de chocolate, nós queremos algo diferente, e por que
não um coelho assassino mutante levando sangue e terror para uma cidade de
filme western? Cuidado: você nunca mais olhará esses bichinhos peludos do mesmo
jeito.
Coelhinho
da páscoa o que trazes pra mim? Um braço, uma perna, uma víscera assim...
“Night
of the Lepus” começa com um repórter falando sobre casos de superpopulação de
coelhos na Austrália e Nova Zelândia, fazendo com que a natureza altere seu
ciclo natural, já que a grande quantidade de coelhos também exige maior
quantidade de alimentos, o que produz escassez. Essa praga começa a afetar a
vida humana uma vez que os coelhos passaram a matar outros animais, invadir
propriedades, danificar hortas e coisas mais. Além disso, aqueles que tentam combater
esse descontrole precisam tomar cuidado com as maneiras de tentar controlar o
problema, pois uso de venenos e outros métodos poderiam causar problemas mais
abrangentes.
Logo
após essa introdução somos levados a uma cidade dos EUA que está sofrendo desse
problema. Nela, um casal de pesquisadores se envolve com o problema dos coelhos
e capturam alguns desses animais para fazer alguns testes. A certa altura,
porém, a filha deles acaba deixando um coelho que acabou de receber uma vacina
(que não foi testada) escapar. O animalzinho acaba infectando os outros,
fazendo com que os coelhos continuem a se reproduzir desenfreadamente e crescer
mais que o normal, causando mais destruição e caos na cidade.
Os coelhos que mandam nessa p...
Cenoura
Geralmente
nos referimos à praga quando há infestação de bichos/insetos feios e nojentos,
mas o filme nos coloca em uma situação diferente: e se os bichinhos fofos
começassem a dominar tudo? É amiguinho... Nem todos os problemas do mundo
partem de coisas feias e da podridão.
O
coelho pode ser visto como o ser que não tem grande poder individual, mas que a
quantidade pode compensar isso; além disso, não é um animal ameaçador, mas com
sua “fofura” pode ser muito mais prejudicial que animais grandes e ameaçadores.
O
filme traz estranheza justamente por isso, por tratar de uma ameaça que foge de
qualquer padrão que conhecemos, já que estamos acostumados a sentir medo de uma
maioria nojenta (ratos, barata e derivados) ou uma minoria ameaçadora (leões,
onças e etc.).
Olha que coisinha fofa... Mas deixe-a
na gaiola, ok?
“Night of the
Lepus”, assim como grande parte dos trashs, não está preocupado em promover
discussões e debates, mas em promover entretenimento. Porém, a construção de
um cenário onde o coelho é tratado como praga, colocado no mesmo nível que
ratos em nossa sociedade, nos fazem pensar na nossa relação com os animais. Até
que ponto consideramos os animais “fofos”? Isto é, dignos de um tratamento
diferenciado em relação àqueles que detestamos? Qual é o nosso critério para
avaliar os animais que gostamos ou não?
Em qualquer outro
filme, se víssemos pessoas matando coelhos trataríamos como crueldade animal.
Pessoas diriam que o filme é triste, e o bicho seria mais valorizado que o
próprio ser humano. Porém, no momento em que o animal é colocado em uma posição
que interfere diretamente no conforto humano, ele passa a ser tratado como
praga (tanto que ao assistir o filme, você não sente pena do coelho como
sentiria em qualquer outro filme sobre animais). Porem, qual foi o crime do
coelho? Se reproduzir?
A “evolução” da
sociedade colocou a humanidade numa posição que só permite que viva aquilo que
está sobre o seu controle. Se qualquer coisa foge do padrão (ou se comporta de
acordo com sua natureza, mas que influencia nosso conforto), tentaremos
domesticar ou reprimir, impedindo a natureza de agir como deveria. O que o
filme faz pensar é que os animais (em sua totalidade) só são importantes para a
humanidade enquanto trouxerem algum beneficio, seja companhia, alimento ou
outra coisa. Não, não estou dizendo que você não ama seu cachorro, mas no
geral, animais são tratados como instrumentos do conforto humano e são
treinados para isso, e se eles seguem a sua própria natureza o homem trata de
corrigi-lo. Quantas vezes não vemos cachorros que estão na família há anos,
todos dizem ama-lo e blábláblá, mas se ele faz uma coisa humanamente errada ele
é sacrificado logo em seguida?
Então, leitores,
amamos os animais ou amamos aquilo que eles nos oferecem?
Um é bonitinho, muitos...
Outro
assunto que podemos tirar proveito do filme é a questão da superpopulação: qual
seria a melhor forma de contê-la?
No
caso dos coelhos é algo fácil, passa-se a faca (ou na cabeça ou no pipi, pra
evitar a reprodução), contudo, se o inverso ocorresse, que solução daríamos?
Seria assim tão diferente?
Na
minha humilde (e pessimista) opinião, a situação não mudaria muito, a não ser
pelo fato das classes mais baixas pagarem por tudo (novidade, não?), algo que
não vemos em uma sociedade “coelhina”.
Em
1800 (+ou-) Malthus já defendia o controle de natalidade, tendo em vista sua
previsão de um crescimento populacional superior a produção de alimentos,
levando a uma escassez de comida. Atualmente, a fome não seria o único problema
a se enfrentar, afinal, já sofremos com isso e, com certeza, não é pela falta
de alimentos. Sofreríamos também com transporte (olha como é hoje, consegue
imaginar pior? Pois é...), acesso as necessidades básicas e etc. Antes que isso
ocorra, pensar em alguma forma saudável de controle de natalidade realmente
parece uma boa ideia, no entanto, até que ponto podemos permitir que o governo
controle a quantidade de filhos que você queira ter, realizar cirurgias (vasectomias
e laqueaduras) sem que você saiba, matar as crianças que ultrapassem o limite
entre outros? Não seria muito melhor investir em educação, melhorar os métodos
contraceptivos e alertar sobre todos os problemas e responsabilidades?
Controle
populacional compulsório não seria receber o mesmo tratamento que os coelhos
recebem no filme?
*
Uma
coisa que me perguntei durante o filme foi: se no lugar de coelhos houvesse uma
superpopulação de cães, seria diferente?
E minha resposta é não, não importa o animal (ou se é o próprio ser humano) se o dia a dia da humanidade começar a ser afetado de maneira indesejada, alguma coisa será feita para voltar a normalidade e ele tomar o controle. Pois se a natureza do coelho é comer e se reproduzir, a dos humanos é ter o controle das coisas, sem se importar com a consequência para as outras espécies.
E minha resposta é não, não importa o animal (ou se é o próprio ser humano) se o dia a dia da humanidade começar a ser afetado de maneira indesejada, alguma coisa será feita para voltar a normalidade e ele tomar o controle. Pois se a natureza do coelho é comer e se reproduzir, a dos humanos é ter o controle das coisas, sem se importar com a consequência para as outras espécies.
Cuelhinho, se eu fosse como tu...
Apesar
de estarmos falando sobre uma infestação de coelhos “mutantes” o filme parece
não ter a intenção de ser trash e ser levado na brincadeira. Toda a fotografia
e trilha sonora (que é muito bem feita por sinal) são focadas no terror e no
western. Os efeitos são bem básicos, mas pra época acaba se destacando e
criando bem o clima de terror.
No
geral o filme é bom, não espere um “Pássaros” do Hitchcock, mas também não
aguarde algo totalmente bizarro como tomates assassinos. Olhando para os
terrores antigos e comparando-o com os mesmos, ele cumpre muito bem seu papel,
criando climas de suspense e mortes com bastante sangue. Claro que encontramos
pérolas durante o filme, mas nada que comprometa a intenção de ser um filme de
terror.
Trailer:
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