quinta-feira, 12 de abril de 2012

Resenha: A noite dos coelhos (Night of the Lepus)



Domingo passado foi páscoa e o Café não poderia deixar de trazer alguma trasheira para celebrar o renascimento de Cristo chocolate e os coelhinhos não é mesmo? Então sente essa bunda gorda de proteína e açúcar na cadeira e prepare-se para ganhar mais coisas dos coelhinhos, e garanto que não vai ser chocolate...






Título original: Night of the Lepus
Lançamento: 1972 (EUA)
Duração: 88 minutos
Direção: William F. Claxton







Coelhinho cadê meu chocolate?

            Páscoa virou sinonimo de coelhinhos e chocolates não é mesmo? Entretanto, aqui no Café com Tripas as coisas nunca são como deveriam ser. Nós não estamos nem ai pro coelhinho bonitinho que bota ovos de chocolate, nós queremos algo diferente, e por que não um coelho assassino mutante levando sangue e terror para uma cidade de filme western? Cuidado: você nunca mais olhará esses bichinhos peludos do mesmo jeito.

Coelhinho da páscoa o que trazes pra mim? Um braço, uma perna, uma víscera assim...

            Night of the Lepus” começa com um repórter falando sobre casos de superpopulação de coelhos na Austrália e Nova Zelândia, fazendo com que a natureza altere seu ciclo natural, já que a grande quantidade de coelhos também exige maior quantidade de alimentos, o que produz escassez. Essa praga começa a afetar a vida humana uma vez que os coelhos passaram a matar outros animais, invadir propriedades, danificar hortas e coisas mais. Além disso, aqueles que tentam combater esse descontrole precisam tomar cuidado com as maneiras de tentar controlar o problema, pois uso de venenos e outros métodos poderiam causar problemas mais abrangentes.
            Logo após essa introdução somos levados a uma cidade dos EUA que está sofrendo desse problema. Nela, um casal de pesquisadores se envolve com o problema dos coelhos e capturam alguns desses animais para fazer alguns testes. A certa altura, porém, a filha deles acaba deixando um coelho que acabou de receber uma vacina (que não foi testada) escapar. O animalzinho acaba infectando os outros, fazendo com que os coelhos continuem a se reproduzir desenfreadamente e crescer mais que o normal, causando mais destruição e caos na cidade.
 
Os coelhos que mandam nessa p... Cenoura

            Geralmente nos referimos à praga quando há infestação de bichos/insetos feios e nojentos, mas o filme nos coloca em uma situação diferente: e se os bichinhos fofos começassem a dominar tudo? É amiguinho... Nem todos os problemas do mundo partem de coisas feias e da podridão.
            O coelho pode ser visto como o ser que não tem grande poder individual, mas que a quantidade pode compensar isso; além disso, não é um animal ameaçador, mas com sua “fofura” pode ser muito mais prejudicial que animais grandes e ameaçadores.
            O filme traz estranheza justamente por isso, por tratar de uma ameaça que foge de qualquer padrão que conhecemos, já que estamos acostumados a sentir medo de uma maioria nojenta (ratos, barata e derivados) ou uma minoria ameaçadora (leões, onças e etc.).

Olha que coisinha fofa... Mas deixe-a na gaiola, ok?

“Night of the Lepus”, assim como grande parte dos trashs, não está preocupado em promover discussões e debates, mas em promover entretenimento. Porém, a construção de um cenário onde o coelho é tratado como praga, colocado no mesmo nível que ratos em nossa sociedade, nos fazem pensar na nossa relação com os animais. Até que ponto consideramos os animais “fofos”? Isto é, dignos de um tratamento diferenciado em relação àqueles que detestamos? Qual é o nosso critério para avaliar os animais que gostamos ou não?
Em qualquer outro filme, se víssemos pessoas matando coelhos trataríamos como crueldade animal. Pessoas diriam que o filme é triste, e o bicho seria mais valorizado que o próprio ser humano. Porém, no momento em que o animal é colocado em uma posição que interfere diretamente no conforto humano, ele passa a ser tratado como praga (tanto que ao assistir o filme, você não sente pena do coelho como sentiria em qualquer outro filme sobre animais). Porem, qual foi o crime do coelho? Se reproduzir?
A “evolução” da sociedade colocou a humanidade numa posição que só permite que viva aquilo que está sobre o seu controle. Se qualquer coisa foge do padrão (ou se comporta de acordo com sua natureza, mas que influencia nosso conforto), tentaremos domesticar ou reprimir, impedindo a natureza de agir como deveria. O que o filme faz pensar é que os animais (em sua totalidade) só são importantes para a humanidade enquanto trouxerem algum beneficio, seja companhia, alimento ou outra coisa. Não, não estou dizendo que você não ama seu cachorro, mas no geral, animais são tratados como instrumentos do conforto humano e são treinados para isso, e se eles seguem a sua própria natureza o homem trata de corrigi-lo. Quantas vezes não vemos cachorros que estão na família há anos, todos dizem ama-lo e blábláblá, mas se ele faz uma coisa humanamente errada ele é sacrificado logo em seguida?
Então, leitores, amamos os animais ou amamos aquilo que eles nos oferecem?

Um é bonitinho, muitos...

            Outro assunto que podemos tirar proveito do filme é a questão da superpopulação: qual seria a melhor forma de contê-la?
            No caso dos coelhos é algo fácil, passa-se a faca (ou na cabeça ou no pipi, pra evitar a reprodução), contudo, se o inverso ocorresse, que solução daríamos? Seria assim tão diferente?
Na minha humilde (e pessimista) opinião, a situação não mudaria muito, a não ser pelo fato das classes mais baixas pagarem por tudo (novidade, não?), algo que não vemos em uma sociedade “coelhina”.
Em 1800 (+ou-) Malthus já defendia o controle de natalidade, tendo em vista sua previsão de um crescimento populacional superior a produção de alimentos, levando a uma escassez de comida. Atualmente, a fome não seria o único problema a se enfrentar, afinal, já sofremos com isso e, com certeza, não é pela falta de alimentos. Sofreríamos também com transporte (olha como é hoje, consegue imaginar pior? Pois é...), acesso as necessidades básicas e etc. Antes que isso ocorra, pensar em alguma forma saudável de controle de natalidade realmente parece uma boa ideia, no entanto, até que ponto podemos permitir que o governo controle a quantidade de filhos que você queira ter, realizar cirurgias (vasectomias e laqueaduras) sem que você saiba, matar as crianças que ultrapassem o limite entre outros? Não seria muito melhor investir em educação, melhorar os métodos contraceptivos e alertar sobre todos os problemas e responsabilidades?
Controle populacional compulsório não seria receber o mesmo tratamento que os coelhos recebem no filme?

*

            Uma coisa que me perguntei durante o filme foi: se no lugar de coelhos houvesse uma superpopulação de cães, seria diferente?
            E minha resposta é não, não importa o animal (ou se é o próprio ser humano) se o dia a dia da humanidade começar a ser afetado de maneira indesejada, alguma coisa será feita para voltar a normalidade e ele tomar o controle. Pois se a natureza do coelho é comer e se reproduzir, a dos humanos é ter o controle das coisas, sem se importar com a consequência para as outras espécies.

Cuelhinho, se eu fosse como tu...

            Apesar de estarmos falando sobre uma infestação de coelhos “mutantes” o filme parece não ter a intenção de ser trash e ser levado na brincadeira. Toda a fotografia e trilha sonora (que é muito bem feita por sinal) são focadas no terror e no western. Os efeitos são bem básicos, mas pra época acaba se destacando e criando bem o clima de terror.
            No geral o filme é bom, não espere um “Pássaros” do Hitchcock, mas também não aguarde algo totalmente bizarro como tomates assassinos. Olhando para os terrores antigos e comparando-o com os mesmos, ele cumpre muito bem seu papel, criando climas de suspense e mortes com bastante sangue. Claro que encontramos pérolas durante o filme, mas nada que comprometa a intenção de ser um filme de terror.

Trailer:



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