O Café é uma
espécie de super ideia que deveria ter surgido na mente de pessoas mais
competentes e motivadas, mas acabou tendo azar e nascendo onde nasceu. É que
por mais esse espaço fique abandonado por seus criadores, acumulando poeira por
um longo tempo, ou que demoremos meses até lançar algum texto, ele continua
prosperando diariamente. Todo o dia algum maluco — sabe-se
lá de onde ou por qual motivo — dá um like em nossa fanpage, ou alguma doida
escreve um comentário sobre uma resenha sanguinolenta que tocou seu coração e
coisas desse tipo. Isso sem falar nas cartas de ódio, nos e-mails reclamando,
ameaças de morte, nudes bizarros e ilícitos, mensagens privadas selvagens, etc.
O Café renderia uma boa grana nas mãos desses empreendedores
modernos e, de fato, merecia mesmo render. Mas nem todos têm os pais que
merecem. Paciência.
Apesar disso, os donos atuais
deste espaço não pretendem deixá-lo morrer e, com nossa aleatoriedade
costumeira, pretendemos continuar o atualizando com os conteúdos estrambóticos
de sempre.
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Titulo original: Captain America
Lançamento: 1990
Duração: 97 minutos
Direção: Albert Pyun
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Pelo que me lembro, o filme de
hoje deve ser o primeiro de super herói que já passou por este blogue. De super
heróis convencionais, claro, pois já resenhamos aqui obras primas como O vingador tóxico, por exemplo, que tem heroísmo à sua maneira. Essa versão
do capitão é na verdade a segunda adaptação do personagem para o cinema. Ela
faz parte daquelas antigas adaptações de heróis que ocorreram antes da
computação gráfica dominar essa arte, sendo que tudo era feito na base da
maquiagem e da atuação. Como não lembrar de um clássico como o Hulk bombadão
pintado em tinta verde? Capitão América: o filme faz parte desse mesmo
grupo de filmes, um excelente motivo para passar aqui pelo blogue.
O
filme é ruim?
Algo que é fácil de se pensar
atualmente, observando o filme em retrospectiva, é que ele seria ruim porque
necessitaria de recursos que só foram inventados muito mais tarde. Dizendo de
outro modo, podemos pensar que, independentemente do orçamento que possa ter
tido, Capitão América o filme seria ruim porque histórias de super
heróis necessitam de muito recursos tecnológicos e esses recursos só ficaram
legais nas últimas décadas.
Bem, depois de ver o filme devo
dizer que esse preconceito não é muito correto. Na verdade, Capitão América
o filme já era um filme horrível em seu próprio tempo, mesmo que a
computação gráfica não importasse. Penso que recurso nenhum o teria salvado de
ser a porcaria que é.
No geral, acho que filme não é um desastre, ele é apenas tosco e
fraco, tendo um roteiro bobinho, algumas escolhas estranhas sobre a origem e
caracterização do personagem, atuações nada convincentes e, no meio disso,
algumas boas ideias aqui e ali. Vamos falar um pouco de cada coisa.
Capitão
simbólico

Ao longo das obras sobre o
capitão, essas coisas receberam diversos tratamentos, sendo tanto o atrativo
desse herói quanto aquilo que faz as pessoas não gostarem dele. Na maior parte
do tempo, elas surgem ao longo desse filme em específico por meio de uma
exaltação brega do personagem, contudo, há bons momentos também em que a
inteligência oxigena a banalidade do roteiro. Por exemplo: em determinada cena,
algum tempo depois de ser descongelado, o capitão começa a reparar em
logomarcas estrangeiras contidas em adesivos colados num carro. É como se o
personagem estivesse notando que foi congelado num Estados Unidos e acordou
noutro. Esse novo EUA é governado não apenas por seu próprio povo mas também
por grupos estrangeiros. A soberania nacional está em jogo em mais de um campo
de batalha. Quem o capitão está defendendo agora?
Algo que achei curioso nesse
sentido foi o fato de, no filme, o capitão fumar, ou melhor, o fato dele poder
fumar. Numa produção atual, esse hábito seria considerado uma falha no caráter
do personagem a qual ele não poderia ter, pois o tabagismo não é um bom hábito
a ser estimulado naqueles que se inspiram no personagem. No filme antigo, porém,
o personagem fuma — qual seria o significado do cigarro naquele
contexto? Confesso que não sei. Talvez nos anos noventa o conhecimento acerca
dos riscos do cigarro não fosse tão disseminado quanto hoje, ou talvez ainda
existisse aquela coisa do “charme do fumante”, ou o pessoal era mais de boa há
vinte anos e o grande herói da nação podia fumar, tomar uma birita e pegar a
mulher do vizinho sem muitos problemas. Sei lá. O fato é que hoje a presença do
cigarro significaria alguma coisa negativa quando posta na tela, um costume
ruim que não poderia ser praticado por um herói, nem poderia ser incentivado
pelo cinema nesse tipo de filme.
Noutra cena, inclusive, depois de
pegar uma carona com um sujeito bem gente boa, o capitão não só desconfia do
cara, pensando se tratar de um aliado do caveira vermelha, como também rouba
o carro do sujeito e o deixa sozinho no meio do nada. Vocês imaginam o
capitão roubando? Conseguem imaginar as mães aconselhando: “Filhinho, não dê
caronas para estranhos, principalmente se for o Capitão América”.
Particularmente, fiquei surpreso. Suspeito que as mesmas considerações sobre o
hábito de fumar valham aqui: na década de noventa as coisas provavelmente eram
diferentes de hoje. Bem diferentes.
Capitão
e seus amiguinhos
Capitão América: o filme
tem duas partes. Em tese, a primeira seria dedicada a apresentar os personagens
e o conflito entre o capitão e o caveira vermelha, ao passo que a segunda
apresentaria o desenrolar desse conflito vários anos depois, quando o
protagonista é descongelado décadas mais tarde depois de perder um conflito
contra seu rival (vocês conhecem a história, não?). Em tese, claro. Na prática
a estrutura é um tanto torta, sendo que na segunda parte surgem personagens
novos que terão grande importância e relações que precisariam ser estabelecidas
com mais cuidado na parte anterior continuam frouxas. Um exemplo: na segunda
parte, o Caveira Vermelha tenta tomar o controle dos Estados Unidos controlando
o presidente do país, cabendo ao capitão resolver isso. Como o capitão acabou
de acordar de um coma de décadas, porém, ele não possuiria qualquer relação com
o presidente atual do país, sequer sabendo quem ele seria, contudo, o filme
tenta criar uma relação entre ambos ainda na primeira parte. Qual seria? Dos
vários filmes que já assisti nessa vida, acho Capitão América: o filme
usa um dos recursos de roteiro mais bizarros que já vi no cinema. Perto do fim
da primeira parte, o capitão é amarrado a um míssil e lançado contra a Casa
Branca. No último momento, todavia, ele conseguirá desviar o projétil (na base
da bicuda!) para uma região inóspita, onde ficará congelado pelas décadas
seguintes. Ok, mas onde entra o presidente aí? Bem, o presidente era uma
criança que estava acordada até mais tarde, olhando o céu, e que por puro acaso
observou o herói amarrado ao míssil desviar o projétil. Ele foi a única
testemunha do ato heroico do capitão. Está criada assim a relação entre eles.
Absurdo, claro.

Em função disso, mesmo a ação do
filme fica bastante prejudicada. As informações são simplesmente jogadas no
espectador, sem muito significado. Quando o Esteve Rogers passa pelo processo
que o torna o Capitão, ele simplesmente levanta da mesa de cirurgia e está
pronto; não e preciso testar seus poderes ou se acostumar com seu novo corpo.
Quando ele se descongela, por sua vez, ele simplesmente quebra o gelo e sai
andando, sem fome, sem perguntar onde está, sem pedir um hambúrguer, sem
perguntar quanto tempo dormiu, ele simplesmente sabe que precisa partir para
cumprir seu dever. Tais coisas surgem da necessidade de jogar logo o personagem
na ação. Não funciona, lógico.
Deus
abençoe a América?
Capitão América: o filme
é uma obra terrível, como você já deve ter percebido, afinal, se não fosse ruim
o suficiente, sequer estaria aqui no Café. Apesar disso, acho que
ele funciona muito bem como um “filme para ver com a galera e dar risada”. Há
muitas licenças poéticas bizarras (Caveira Vermelha italiano!), cenas em que o
filme se desmente (como quando o capitão se camufla longamente para se
infiltrar na base inimiga e... tenta entrar pela porta da frente, sendo
obviamente percebido pelos inimigos), entre outras coisas bem divertidas. As
cenas de ação são meio ridículas, tendo envelhecido bastante, mas há algumas
coisas genuinamente legais como a maquiagem do Caveira Vermelha, por exemplo,
que curti mais que a maquiagem dos filmes recentes, e o fato de vários personagens
e não só o protagonista fazerem a história avançar. O filme não se salva,
evidentemente, mas caso você esteja no humor certo, pode assisti-lo com alguém e
se divertir.
Trailer
Sempre achei o visual do cap meio bizarro e anti natural, então qualquer transformação dele em live action antes dessa remodelagem mais recente que a Marvel propôs vai ser esquisita. E maquiagem de efeitos especiais é uma das coisas mais maneiras da indústria cinematográfica, descobri isso depois do reality do syfy.
ResponderExcluirTambém acho. Eu via aquelas asinhas e achava ridículo.
ExcluirPara os fãs de filmes B/trash,esse Capitão América é altamente recomendável.Resta saber se o filme saiu dessa maneira por incompetência da produção e de quem fez o roteiro,ou foi feito PROPOSITADAMENTE assim.
ResponderExcluirAcho que ele não era para ser tosco, exatamente, acho que era para parecer "heroico para crianças", algo que, com o tempo, ficou tosco. Mas o filme tem umas boas sacadas que nem os novos possuem, o que é o melhor dele, eu acho.
ExcluirAcho que tem mais relação com a época mesmo, com a maneira como o personagem era visto, ou como queriam que ele fosse visto. A tosquice, a meu ver, é involuntária.
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